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IDEIAS E BATE-PAPO

Chega de demagogia

Quando as águas de maio começaram a baixa prometi a mim mesmo que falaria o mínimo possível da tragédia, se possível, me omitiria de considerações sobre a maior catástrofe climática do nosso Estado. Pensei nisso ao lembrar que as pessoas estão no limite do controle emocional, torturadas diuturnamente com episódios de tanta tragédia.

Apesar da promessa, é difícil suportar o festival de demagogia daqueles que deveriam usar o cargo que ocupam para “fazer acontecer” e trazer soluções. Há uma criminosa transferência de responsabilidades de órgãos públicos que agrava a dor, as perdas e a falta de perspectivas de quem perdeu tudo. O consolo reside em episódios de solidariedade, empatia verdadeira e histórias de superação pela generosidade.

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Nasci em Arroio do Meio, um dos municípios mais devastados pelo conjunto de três megaenchentes no período de sete meses. O bairro Navegantes, localizado às margens do rio Taquari, simplesmente desapareceu. Lá se vê um cenário semelhante ao registrado em Passo de Estrela, em Cruzeiro do Sul. A fúria das águas arrastou residências, estabelecimentos comerciais e igrejas, soterrando a história de centenas de famílias.

Arroio do Meio foi o único município da região – e do Estado – que recebeu, desde setembro, 28 casas provisórias com 22 metros quadrados, resultado de um mutirão liderado pelo Sindicato da Construção Civil do RS. Os governos estadual e federal sequer lançaram projetos voltados à habitação popular. Ou seja, tivemos zero residências! Os abrigos, lotados e sem privacidade para os moradores, começam a ser desativados. As pessoas atingidas pela enchente histórica estão no limite da paciência porque recebem apenas promessas vazias sem consequências.

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O presidente Lula veio quatro vezes ao Estado. “O que os olhos não veem o coração não sente”, disse ao chegar no Vale do Taquari. Uma frase de efeito da equipe de marketing do Palácio do Planalto. Em discurso na localidade de Rui Barbosa, em Arroio do Meio, ele criticou a burocracia, o que soa irônico e sádico. Afinal, se ele – a mais alta autoridade do Brasil – não tem poder para agilizar a construção de casas, o que devemos esperar do futuro?

Outra infâmia foi dizer, olhando para o prefeito Danilo Bruxel, que “foi bom não termos construído casas no ano passado porque elas poderiam ter sido levadas pela enchente de maio”. Como assim? As residências que serão erguidas não terão um mínimo de planejamento, sequer de localização segura?

Graças à iniciativa de alguns empresários do Vale do Taquari, a ponte de ferro que liga Arroio do Meio a Lajeado foi erguida em 14 dias e reativada sábado. Parafraseando o hino rio-grandense, “que estas façanhas – sim! – sirvam de modelo”, às autoridades, claro!

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