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LITERATURA

Alunos da Escola Polivalente trabalham “O avesso da pele” em sala de aula

Foto: Iuri Fardin

O Avesso da Pele é trabalhado em sala de aula

Objeto de polêmica em Santa Cruz do Sul neste ano, o livro O avesso da pele, de Jéferson Tenório, serviu de base para uma atividade do itinerário formativo de Linguagens e suas Tecnologias de uma turma do terceiro ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Ensino Médio Willy Carlos Fröhlich (Polivalente). Ao longo de todo o primeiro trimestre, os estudantes leram e debateram sobre a obra, que trata de temas ainda muito presentes na sociedade brasileira, como o racismo e a discriminação.

De acordo com a professora Mariana Bertol, 34 anos, o livro já havia sido escolhido para ser abordado em sala de aula antes do início do ano letivo. Depois que se tornou o assunto do momento na cidade, contudo, os próprios alunos pediram para fazer um trabalho a partir dele.

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“Muitos vieram me perguntar se realmente é tudo aquilo que estavam dizendo, então eu senti a necessidade de adiantar o que já seria trabalhado”, conta. Antes da leitura, foi montado todo um cronograma que buscou discutir opiniões e notícias para contextualizar os acontecimentos.

Mariana também considerou importante esclarecer a eles como funciona o Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD) e como são escolhidas as obras. “Puderam entender que é um processo muito sério, que passa por uma curadoria no Ministério da Educação e na escola, não é um livro que vai chegar aqui de forma imposta.” Foi feito ainda um resgate da literatura africana e negro-brasileira, com a abordagem de obras de Conceição Evaristo e Carolina Maria de Jesus.

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“Fizemos tudo isso para que eles pudessem entender por que é tão dolorido, complexo e por que um palavrão choca mais do que o preconceito racial.” A professora afirma que nenhum estudante a procurou para relatar incômodo com a linguagem usada por Tenório. “Pelo contrário, o que chocou e entristeceu eles foi o que o personagem passava, as relações afetivas e adversidades.” O trabalho foi desenvolvido ao longo de oito aulas e culminou na produção de uma sobrecapa para o livro e também uma carta ao personagem.

Temas profundos e novo olhar para o mundo

Um dos motivos da polêmica em torno de O avesso da pele, a linguagem não provocou nenhum desconforto ou espanto em Thomas William da Silva, de 16 anos. Para ele, que é negro, o que incomodou mesmo foi a questão racial. “Não é tudo isso que falam. Conforme você lê, percebe que tem coisas muito piores do que a descrição de um órgão sexual.” Ele destaca a importância de lançar luz sobre temáticas como o racismo e a educação sexual. “Nunca passei pelo que ele [o personagem] passou, mas já consigo sentir que é muito ruim.”

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Para Alana Wendler, 17 anos, o livro pode abrir a mente de quem estiver disposto a ler com atenção e visão crítica. A partir da leitura, frisa, é possível perceber que o racismo muitas vezes não é escancarado e está escondido em piadas e brincadeiras. “Lendo, vi várias coisas que também aconteceram com a minha família e eu, quando criança. Não tinha noção que eram racismo.”

Já para Gabrielly Lopes, também de 17 anos, os rótulos é que chamaram a atenção, como o caso de pessoas que não se reconhecem como negras ou têm sua cor questionada por outros.

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Os julgamentos e comentários inapropriados em redes sociais também foram pauta nas discussões em sala de aula. Dandara Ramiro, de 19 anos, comenta que por muitas vezes sente receio de postar fotos na internet por medo da repercussão. “Eu prefiro não publicar porque não me acho bonita e alguma pessoa pode ver e falar algo pesado.” Em sua compreensão, a insegurança de alguns não pode ser usada como base para que outros se sintam superiores.

Dandara diz que se identificou com os dramas do personagem em muitas situações, como as piadas sobre o cabelo e perseguição por parte dos vigilantes dentro de estabelecimentos comerciais. “Falam que é normal o segurança caminhar por dentro do supermercado, mas por que ele estava sempre atrás de mim se havia outras pessoas?”, questiona. Tudo isso, frisa a professora Mariana Bertol, precisa ser debatido e compreendido e é fundamental para a formação dos adolescentes enquanto cidadãos.

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