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Avanço da água modificou cenários e levou estruturas de propriedade rural em Arroio do Tigre

Foto: Nathana Redin/Gazeta da Serra

O verde da margem de arroios, rios e afluentes, em diversos pontos, deu lugar nas últimas semanas a uma coloração fria. O nível que a água alcançou após as intensas chuvas do fim de abril e início de maio, que levou consigo até mesmo a histórica Ponte de Ferro, sobre o Arroio Jaquirana, em Linha Cereja, também alcançou a propriedade dos agricultores Moacir e Márcia Redin, em Linha Santa Cruz, interior de Arroio do Tigre.

Mesmo já tendo presenciado as cheias de 2001 e 2010, a de 2024, para o casal, chegou a um nível não visto antes, com a água subindo de forma muito rápida. Além do cenário de destruição da própria natureza, que é possível avistar conforme se aproxima do local, com muitas árvores retorcidas e amontados delas, de todos os tamanhos, pelo menos quatro galpões e um galinheiro se foram junto com a correnteza. Cerca de 40 sacos de milho e outros 20 de ureia também. Alguns itens de trabalho foram encontrados quando a água baixou, como uma trilhadeira e uma batedeira, já outras ferramentas do uso diário também se perderam.

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Como o avanço maior da cheia ocorreu durante o dia, ainda conseguiram correr, já com a água os alcançando, para tirar o trator, veículos e alguns implementos de onde ficavam guardados. Se o tabaco ainda estivesse no galpão, teria ido com o fluxo do arroio. “Foi depois do meio-dia que começou a avançar e só subia mais. Nem comi no almoço, querendo tirar as coisas, colocar mais alto, mas não se pensava que ia a essa altura, e não adiantou nada. Depois que chegou ao máximo, por onde se olhava era só água, e entrou até na nossa casa antiga, aí quando começou a baixar foi ligeiro também. Antes não se enxergava ninguém do outro lado do rio, agora mudou a visão”, relata Moacir.

Conforme Márcia, na casa onde moravam até 2015 a água deixou a marca na altura das janelas, não chegando a entrar na residência onde moram atualmente, pois a moradia antiga também foi uma barreira junto com um muro. “A casa nova foi construída depois do susto de 2010. Na antiga, a água chegou perto das janelas, algumas coisas pequenas saíram pelas portas que se abriram. Se não fosse um saco de feijão que ficou escorado e não deixou abrir mais, as coisas maiores teriam saído também. Só escutava estalos e pensei ‘agora vai a casa’. Móveis e eletrodomésticos foram arrastados do lugar, e ficou tudo com muito barro, que aos poucos ainda estamos limpando. É só para quem viu, quem não viu não acredita. No fim de semana de Dia das Mães começou a chover forte de novo, e aí já se fica com aquele medo.”

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Até mesmo um açude da propriedade foi ‘aterrado’ em meio às mudanças que a água carregada de terra deixou. “Ainda vai levar tempo até arrumar. Tem coisas que a gente nem sabe o que fazer, se coloca fora, mas foi tudo conquistado com trabalho e muito suor, ao longo de muitos anos. Alguns motores também molharam, então tem coisas que ainda tem que levar para os técnicos olharem e ver se vai funcionar. Se ainda estivéssemos na casa antiga, provavelmente sairíamos só com a roupa do corpo”, menciona Moacir.

Com a chegada de vizinhos e familiares que prestaram apoio, foram conseguindo colocar algumas coisas da casa de volta ao lugar. “Esperamos que algo como isso nunca mais aconteça. Não desejo isso para ninguém. Deu um susto, mas temos que nos erguer de novo”, salienta Márcia. “Não podemos desanimar. A gente faz de novo, tendo saúde as coisas se ajeitam , tudo com o tempo vai se ajeitando e vai dar certo de novo”, reforça Moacir.

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Em meio às árvores, entre as quais frutíferas cultivadas pelo casal, uma laranjeira resistiu, carregando apenas duas ou três frutas. Para Moacir, ela tem um significado: “A força da natureza, mas o alimento sobrou. Essas duas, três laranjas aguentaram toda a enchente. Isso parece que Deus sempre deixa alguma coisa a mostra, que não foi tudo.”

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