Já não se guardam mais as tradições religiosas como em outros tempos, mas quem preserva essa ligação, e sua relevância, não deixa passar ao largo o período que vivemos, a chamada Quaresma. E para quem viveu mais de perto o rigorismo nas práticas exigidas neste intervalo no passado, não passa desapercebido que os tempos atuais se afastam muito desse rigor. Seria interessante fazer lembrar o sentido em que se baseiam e o que pode representar para todos, mesmo os que não creem.
Estão bem presentes na memória pessoal os sérios jejuns adotados na juventude em vários momentos nestes 40 dias que antecedem a Páscoa, considerada a maior festa cristã, normalmente traduzidos em redução no consumo da carne, de forma geral o mais apetitoso prato vindo à mesa. Hoje, reduz-se sua ingestão apenas quando seu custo se torna muito alto, sendo mais comuns os exageros, não só nesse tipo de alimento, como em outros, tanto que a obesidade é um mal sempre mais presente (as estatísticas falam em um a cada quatro brasileiros adultos acometidos do problema, com tendência a aumentar).
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Só por esse fato, já se vê como é atual e oportuno falar do assunto, não só por questão religiosa, mas também de saúde, pois sabe-se que todos os excessos causam danos ao organismo. E assim, se não por convicção espiritual, possa este período relacionado ao assunto influir em decisões de mais equilíbrio e abstinência, que favoreçam a saúde e mesmo a estética, que sempre tem tanto apelo. É um exercício que só tende a fazer bem, sob todos os aspectos, a partir de um autocontrole tão necessário.
A Igreja lembra que o jejum (a penitência) é um dos pontos enfocados neste período quaresmal. Também há uma convocação para revalorizar a oração e a caridade, a relação com o ser divino e com o irmão/irmã que deve ser visto em cada ser humano, independente das diferenças que manifeste em raça, cor, religião, modo de pensar e agir. Em paralelo, realiza-se a Campanha da Fraternidade, que neste ano reforça justamente essa questão da irmandade e a amizade social, de estender nosso interesse além daquele que está próximo (mas começando por ele).
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Assim como parece acontecer com a vida normal em nosso País, o início da Quaresma religiosa ocorre após o Carnaval, que, por sua vez e para muitos, já pode parecer anormal. Começa em uma data e um ato que fazem recordar a fragilidade de toda a criatura, ao reviver a imposição das cinzas na chamada Quarta-feira de Cinzas, recordando o que muitas vezes é rememorado apenas na hora da morte: “És pó e ao pó voltarás”, e convocando à penitência e caridade, assim como à humildade.
Mas, além da purificação pessoal, chama-se em especial para a social, o resgate das relações humanas respeitosas, evitando situações de violência e divisões, como salientaram autoridades religiosas na região e no Estado. Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional do Bispos (CNBB), propôs: “Devemos celebrar o respeito, porque cada ser humano é diferente”. Ou como diz nosso bispo, Dom Aloísio: “Nós podemos pensar diferente, mas nunca podemos quebrar as relações sociais e de amor”.
Já o Conselho Sinodal de Diaconia da Igreja Evangélica (IECLB) propõe, neste Tempo de Quaresma, o compromisso com as “Sete Semanas Sem”, convidando para “sete semanas sem algo que gosto de fazer”, mas que pode não ser o mais adequado. Independente da crença de cada um, são mensagens que precisamos fazer ecoar e se realizar, para se abster do que não é fácil renunciar e melhorar nossa convivência em tempos de conflito e ódio, e ajudar a implantar os de paz e amor, que tanto desejamos.
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