Você pode achar que estou sendo repetitivo. Mas não tem como deletar inquietudes e desafios que nos foram apresentados e não resolvidos, ao mesmo tempo em que comunidades ao nosso redor nos dão aula de resolutividade.
Faz mais de ano que se lançou em Santa Cruz do Sul uma campanha para arrecadar recursos com vistas a restaurar a Catedral São João Batista. As obras incluem pintura interna, renovação da rede elétrica, modernização do sistema de iluminação, entre outros procedimentos. Na época se falou em custo estimado entre R$ 6 e 8 milhões para a execução das obras. Não sabemos o montante arrecadado até agora.
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Já escrevi que não vejo a Catedral apenas como igreja sede de uma paróquia católica. Ela é patrimônio de Santa Cruz, símbolo maior da cidade. Mas não se percebe comprometimento – nem religioso, nem comunitário, empresarial e, muito menos, do setor público – para viabilizar esse projeto. O que se lê e ouve é um tímido apelo: “Abrace a Catedral. Juntos podemos fazer acontecer”.
Com todo o respeito às pessoas abnegadas que se empenham pela causa, vou tentar traduzir impressões e sugestões que me chegam e que têm um ponto em comum: é preciso rever a estratégia para conseguir um real e efetivo envolvimento da comunidade.
Por que não aprendemos, por exemplo, com o exitoso desfecho de uma campanha desenvolvida em localidade não distante daqui e que nos oferece um roteiro de como mobilizar e comprometer pessoas para fazer o que parecia impossível?
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O fato foi amplamente noticiado e é inspirador. Depois de ver as águas da catástrofe do ano passado engolirem a ponte de ferro por onde escoava sua produção, o pequeno município de Nova Roma do Sul, de pouco mais de 3,5 mil habitantes, na Serra Gaúcha, se agigantou e se comprometeu com o desafio lançado: “Seremos covardes se não reconstruirmos esta ponte que nossos antepassados ergueram com muito menos condições do que temos hoje”. Em seis meses, com doações de empresas, pessoas físicas, eventos, rifas, o pequeno município arrecadou mais de R$ 7 milhões e reergueu a ponte a um custo inferior a R$ 6 milhões.
Nós somos mais de 130 mil santa-cruzenses. É verdade que a Catedral não escoa nossa produção, nossas riquezas. E talvez por isso nos torne menos sensíveis com o desafio de cuidar da sua conservação. Mas ela projeta até para o exterior a ousadia e o arrojo de uma comunidade do interior do Estado que construiu a maior igreja em estilo neogótico da América do Sul.
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Nova Roma do Sul nos ensina alguns caminhos vitais para o êxito de uma empreitada deste nível: transparência, foco, resolutividade. O que precisamos fazer? Por que motivo? Como vamos fazer acontecer? Como devo ajudar?
Mais que isso: para se obter o envolvimento efetivo da comunidade precisa haver liderança, alguém que dê voz, rosto e credibilidade à causa. Quanto precisamos arrecadar para iniciar as obras? Que prazo vamos estabelecer? Exemplo: se 10 mil famílias contribuíssem com R$ 10,00 mensais, ao final de um ano teríamos R$ 1,2 milhão em caixa. Somem-se a esse valor as doações de empresas e entidades – vão se mixar? – e o aporte indispensável do poder público e, em dois ou três anos, teremos os recursos necessários para execução do projeto.
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Com criatividade, há muitas alternativas de envolver a comunidade. Mas Executivo e Legislativo precisam fazer a sua parte – com recursos, sim! – para dar suporte a esse desafio. Não vamos querer ficar com a pecha de cidade que não consegue sequer cuidar do seu bem mais valioso, sua referência turística, sua identidade. Ou vamos?
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