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Música

Rafa Castro toca o presente em seu novo disco Teletransportar

Quando Rafa Castro veio à São Paulo, para ficar, posicionou seus pianos em um cômodo na região central da capital, e cravou entre as teclas um pacto com os contistas de Minas Gerais, sua terra. Mas não só. Sabendo que “Deus é menino em mil sertões”, aos 31 anos, embebeu sua escrita em experiências no norte do país. Suas músicas, que não cessam de jorrar vida, nasceram na Ilha de Marajó, no Pará, onde compôs a primeira de seu novo disco “Teletransportar”, lançado dia 10 de abril de maneira independente. Já a última canção, veio a desaguar num rio na Amazônia, assim como o conceito final da obra, que ganhou um sentido concludente durante a viagem.

Em agosto de 1963, nas linhas de uma carta para o escritor português Joaquim de Montezuma de Carvalho, o mineiro João Guimarães Rosa escreveu: “Quando faço arte, é para que se transforme algo em mim, para que o espírito cresça; e desejando ser um sonâmbulo de Deus. Sinto-me num barquinho, e a vida é um mar terrível”. Talvez, Rafa Castro se sentisse nesse barquinho quando evocou o teletransporte. Quem sabe o barquinho não é a própria metáfora para a vontade de sumir. Sua criação, nos últimos anos, tem se tornado sua porta-voz sobre a realidade e o cotidiano. Teletransportar é o primeiro trabalho em que sua escrita está presente em nove das dez faixas. “Eu sempre fui o cara das melodias. Isso norteia meu trabalho, mas comecei a ter uma vontade de colocar minha voz, não só musicalmente, mas podendo ser honesto e verdadeiro, também em minhas letras, com as coisas que eu estou vivendo”.

O imaginário da água, grande tema de seu disco, é carregado de significados. Se antes os rios e mares que alcançavam seus olhos estavam dentro da cidade, após suas viagens para as veias interioranas do Brasil, chegou até as nascentes, e se posicionou à margem do que há de mais cristalino. Encarou a si mesmo, refletido ao mar, enquanto passa por um permanente processo de aperfeiçoamento espiritual. “De uma margem a outra do Rio Tapajós são 40 km. É uma magnitude, uma força da natureza avassaladora. Eu fui sendo inundado por estas imagens”, contou Rafa Castro, complementando com uma outra história. Em Alter do Chão, conheceu um barqueiro que o levou para dentro da Floresta Nacional dos Tapajós. Uma floresta primária, com árvores de mais de 500 anos, onde permaneceu por dois dias abrigados em uma comunidade.

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Em outra ida ao norte do país, adentrou uma mata muito densa, com árvores gigantes, porém questionou o porquê da vegetação parecer jovem. Um homem que vive na região respondeu que ali havia se tornado um pasto após a exploração do ciclo da borracha, e que anos e anos depois, a floresta renasceu sozinha, com toda força e diversidade de plantas e animais que ali tinham. “Fiquei muito com a sensação de que a gente acha que está destruindo o Planeta, mas a gente está destruindo a nossa possibilidade de viver aqui. Porque isso é muito maior e tem uma capacidade cíclica incrível de se refazer”, concluiu Rafa emendando o assunto com suas tentativas de cultivar as micropolíticas e outras “Ideias para Adiar o Fim do Mundo”.

Teletransportar, faixa-homônima que abre o disco, fala sobre a lama em Brumadinho e a destruição decorrente da ganância. Sua letra foi escrita durante as recentes queimadas na Amazônia. Teletransportar foi gravado entre fevereiro e março de 2020 nos estúdios C4 , Space Bles e Casa Aberta, em São Paulo. A produção musical é de Rafa Castro e Igor Pimenta. Captação e mixagem são de Luiz Ribeiro e a masterização, de Maurício Gargel.

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