Alessandra Steffens Bartz
Psicóloga
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A casa em que moramos é o nosso ninho, o nosso lar. Não imaginávamos que além de lar, se tornaria também o local de trabalho, de aulas escolares, de reduto familiar mais frequente do que em outrora. Quase uma empresa multifuncional, cujos colaboradores precisariam ter vários tentáculos, como um polvo. Um braço para cada atribuição diversificada. Haja fôlego!
O home office já vinha crescendo no mundo corporativo e antes mesmo alguns formavam o time de quem levava trabalho para casa. A novidade passou a ser trabalhar a maioria das vezes em casa, com o cachorro latindo, o caçula chorando e o filho escolar pedindo ajuda com alguma tarefa não compreendida. Que sufoco! No meio da reunião a pitoca entra em apuros para que o pai ou a mãe ajude no uso do banheiro. Momento descontração para os colegas, momento tensão para os pais, que saem em disparada, a fim de evitar o acidente, e rapidamente voltar ao batente. Não é moleza! Mas tem o time que comemora e alega maior produtividade trabalhando em casa, por otimização do tempo. Desafios da atualidade.
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Talvez a maior mudança tenha ocorrido na educação escolar. Aulas a distância vinham crescendo no universo do ensino superior e pós-graduação. No ensino médio se ventilava a alternativa para algumas situações. Mas para o fundamental a surpresa pegou muitos despreparados. Os primeiros anos, como irão aprender sem uma professora presente? E aqueles que começam a se deparar com vários professores? Que confusão! Tantos questionamentos para o tempo responder. Mas o andar da carroça vai ajeitando as melancias, não? As famílias precisaram estabelecer uma nova rotina. Parte está ainda penando. Parte encontrou uma outra forma, que aos poucos traz conforto e segurança.
A maior dúvida, no entanto, parece recair sobre a qualidade do aprendizado on-line, assessorado pelos pais. Recordo que tempos atrás as escolas questionavam qual era o seu papel. Cada vez exigíamos mais dos professores, do ensino. Algumas famílias cobravam que a escola educasse seu filho além dos livros escolares. E, sim, as escolas visam a educação global do ser humano. Só que somos nós, pais, os responsáveis pela educação geral de nossos filhos. Eis que o jogo virou e agora os pais são também um pouco professores. Quantos aprendizados! Tantas constatações! Desde o menino que não para na cadeira, o outro que se distrai com a própria sombra, a filha matraqueira, o menino que brinca com o lápis, a jovem que não encontra o material… Será que meu filho era assim na escola? Esses professores valem ouro!
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Famílias, vamos com calma. Pais não são professores e professores não são os pais. Nesse momento, principalmente para os filhos menores, pais estão sendo mestres com maior ou menor maestria. Os professores estão se esmerando para se fazer presentes e ajudar de todas as formas. Mas crianças precisam de regras, combinados. Negociem um horário de estudo, deixando claro que os filhos não estão em férias. Escolham um local silencioso, se possível, com menor possibilidade de distração.
Desliguem a televisão e outros eletrônicos. Afastem o celular e disponham os materiais necessários sobre a mesa. O uso do banheiro pode ser incentivado antes do horário de estudo e no recreio. Claro, tem que ter um tempinho para relaxar, lanchar, tomar água. Depois retomem o estudo e agucem a curiosidade. Se a criança for mais imatura ou desligada, fracionem as tarefas por partes, elogiem, mas sejam firmes no seguimento das regras. E vale fazer educação física todos juntos, valorizando o exercício como uma prática saudável.
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Lembremos ainda que tudo tem os dois lados. As famílias estão convivendo mais, se conhecendo a fundo, descobrindo facetas novas uns dos outros. Pais estão participando de vários momentos da vida dos filhos (inclusive das provas) e aprendendo juntos. Não raro está a família reunida assistindo a live da aula de um dos filhos. Claro que está pesado para alguns. Temos famílias com mais filhos para dar conta. Alguns pais podem se sentir menos habilitados para o acompanhamento das aulas ou das lidas domésticas. Nem todos são tão ágeis, dinâmicos, práticos, otimistas. Porém não precisam ser perfeitos. Além disso, os estudantes estão com muita saudade da escola, dos colegas, dos professores. Até os adolescentes dorminhocos estão pedindo para voltar para a escola. Quem diria! Mas não temos todas as respostas, nem o tempo as têm…
Precisamos pegar fôlego para seguir nos equilibrando assim mais um pouco. Nosso lar se expandiu para acolher as demandas dessa fase crítica. Que bom saber que alguns encontraram um novo ritmo e estão percebendo os ganhos além das perdas. Está tudo tão modificado. O tradicional dando espaço ao novo. O senso de cooperação e a organização da rotina permitirá que tudo seja atendido da melhor forma possível. Mas e os conteúdos? Serão vencidos? Não sabemos… Sabemos apenas que a vida ditou um outro ritmo, novas necessidades. O conteúdo será resolvido de alguma forma. As escolas estão se empenhando ao máximo para isso. A tônica emergente é o bem-estar, o aprendizado de valores, a manutenção do equilíbrio e da saúde de todos. Que os lares não percam o aconchego, o acolhimento, a doçura, o tom de suspiro. Ah, nosso lar, doce lar!
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