Quando Koichi voltou da guerra, encontrou sua cidade em ruínas. Parentes e amigos próximos haviam desaparecido, ruas e cenários outrora familiares tornaram-se irreconhecíveis. Ele tem que reiniciar a vida do zero, sem laços afetivos sólidos, como quem dá os primeiros passos.
Além disso, precisa conviver com a mancha da desonra. Koichi é um piloto japonês kamikaze, um combatente suicida, mas retornou vivo da guerra – ou seja, não cumpriu seu dever com a pátria. E há pessoas que não hesitam em lhe dizer: o Japão foi derrotado pela omissão de covardes como ele.
Mas o tempo passa e as coisas acabam entrando nos eixos. A tarefa (coletiva) de reconstrução, no fim das contas, é bem-sucedida. Até que… Como uma espécie de Jó – aquela figura bíblica sobre a qual se acumulam desgraças e mais desgraças –, Koichi verá outra catástrofe literalmente soterrar os seus planos.
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Do que estou falando? Até agora, de um “filme de monstros” chamado Godzilla Minus One, ainda em cartaz no cinema. Aonde diabos eu quero chegar? Calma.
O que é Godzilla? Uma representação fabulosa da devastação causada pelas bombas atômicas em solo japonês. A origem do monstro está ligada aos testes nucleares no Atol de Bikini, no Pacífico, especialmente os que ocorreram em 1954 – mesmo ano em que o Godzilla original foi lançado. Para os japoneses, era a sombra de uma tragédia bem recente e viva
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Fruto de mutações desencadeadas pela radiação, Godzilla é uma bomba H ambulante. Sua rajada atômica é apocalíptica, com direito a “chuva negra” (precipitação radioativa que ocorreu minutos após a explosão em Hiroshima). Não por acaso, sua forma é a de um animal pré-histórico, parte do passado que se recusa a morrer.
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Mas Godzilla não é o protagonista de Minus One. É Koichi, o homem comum, forçado a enfrentar tormentos que não compreende. E sobreviver a todos eles. Guerras, bombardeios ou monstros. Felicidade? Calmaria entre tempestades. Paciência.
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Assim, após assistirem espantados às calamidades e pensar que jamais reconstruirão suas vidas, Koichi e tantos outros recomeçam teimosamente. Fazer o quê? Não há opção além de lutar e sobreviver. Sobrevivamos.
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