Enquanto a população é orientada a ficar em casa para ajudar a conter a pandemia do novo coronavírus, as quadrilhas que operam o comércio ilegal de tabaco seguem circulando livremente. Um relatório realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (Idesf), com base em dados dos órgãos de repressão, mostra que as apreensões de cigarros ilegais na Região Sul e no Estado do Mato Grosso do Sul, onde estão as principais portas de entrada do contrabando no país, dispararam no primeiro quadrimestre do ano.
O levantamento aponta números impressionantes. A Polícia Rodoviária Federal do Rio Grande do Sul, por exemplo, apreendeu entre janeiro e abril 3,39 milhões de maços, ante 337,1 mil no mesmo período do ano passado – aumento de nada menos do que 876,14%.
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O mesmo ocorreu em Foz do Iguaçu, no Paraná, separada do município paraguaio de Ciudad del Este pela Ponte da Amizade, e um histórico ponto de ingresso de mercadorias irregulares em território brasileiro. Os registros da Receita Federal indicam aumento de 749% nas retenções de tabaco nos primeiros quatro meses do ano em comparação com 2019. Em valores, com base no preço médio dos produtos no mercado ilegal, o volume apreendido chega a US$ 12,8 milhões (veja quadro).
Conforme as estatísticas da Receita, o crescimento se deu em sintonia com a entrada em vigor das orientações de distanciamento social e a suspensão das atividades econômicas. Março foi o mês com o maior volume de apreensões: o crescimento em relação ao ano anterior chegou a mais de 1.500%.
Já a contabilidade da Polícia Federal de Foz do Iguaçu indica, em todo o quadrimestre, um aumento de 569,7%.
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Quadrilhas evitam alfândegas e utilizam rotas alternativas
O crescimento nas apreensões de cigarros oriundos do crime organizado se deu apesar do fechamento das fronteiras do Brasil com o Paraguai e com a Argentina – que é utilizada como rota pelas quadrilhas para escoar produtos em direção ao Sul brasileiro. Esse fechamento, que ocorreu ainda na segunda quinzena de março, impede a passagem de veículos de cargas, muito utilizados no transporte de mercadorias ilegais. O crime também resistiu à escalada da cotação do dólar, que acumula alta de 35,6% desde o início do ano.
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Conforme as forças de segurança, os registros das apreensões indicam que esse fluxo não se deu pelas fronteiras formais, onde os números praticamente zeraram com a interrupção no turismo de compras. Parte das abordagens, portanto, interceptou cargas que já haviam sido introduzidas no país e que estavam estocadas em esconderijos e depósitos clandestinos. Na segunda-feira, 1º, por exemplo, a Brigada Militar identificou um depósito com 100 mil maços na localidade de Vila Estância Nova, no interior de Venâncio Aires.
Além disso, segundo o presidente do Idesf, Luciano Barros, as quadrilhas intensificaram o uso de canais alternativas para ingressar no país, como por meio fluvial, onde a fiscalização é deficiente. “Em um primeiro momento, o fluxo caiu. Principalmente a partir de abril, o crime começou a achar o caminho. Além disso, há o trabalho ordenado dos órgãos de segurança, que têm feito apreensões históricas”, analisou.
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