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VALOR CULTURAL

Pelo mundo: missões guaranis, parte 1

Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo é Patrimônio Mundial da Unesco | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Em uma noite de chuva intensa de 30 de novembro de 1997, mais de 20 mil pessoas se reuniram no Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo (Ruínas de São Miguel) para assistir a um memorável espetáculo musical.

A principal atração era o tenor espanhol José Carreras que, além de cantar tradicionais e populares árias executadas pela Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, foi o solista da magnífica Misa Criolla, composição do argentino Ariel Ramirez (1921-2010).

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Ao som de um grupo musical com instrumentos indígenas e um coral de 40 vozes, o cenário não poderia ser mais adequado. O próprio compositor Ramirez estava ao piano, algo para o qual nossa consciência colonizada e eurocêntrica dava menor importância.

Naquele ano eu morava no noroeste gaúcho e não poderia perder tal oportunidade. Mesmo ensopado entre a multidão que se aglomerava no local mais econômico disponível, em pé, atrás das milhares de cadeiras numeradas, eu estava consciente da grandiosidade do espetáculo. Na entrada, patrocinadores distribuíram capas de chuva brancas aos presentes.

Após o espetáculo, o tenor catalão declarou ter se assustado ao ver toda a plateia vestindo branco, no que mais parecia um encontro místico e religioso. Até a intempérie havia ajudado a produzir o ambiente ideal, em um lugar com tamanha importância histórica.

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O valor cultural das reduções não está somente nas impressionantes ruínas, mas também na história de uma breve e utópica civilização. Visitei São Miguel das Missões repetidas vezes, assim como os demais Sete Povos, alguns dos quais se tornaram cidades de médio porte como São Borja e Santo Ângelo. Atravessando o Rio Uruguai, conheci outras ruínas na província de Misiones, Argentina, como a incrível redução de San Ignacio Mini, na fronteira com o Paraguai.

Do lado brasileiro, as ruínas de São Miguel são as mais bem conservadas. O local inclui um belo museu projetado pelo arquiteto Lúcio Costa, o interessante espetáculo de Som & Luz e o sítio arqueológico que mantém a memória das reduções. A icônica igreja do povoado foi projetada pelo arquiteto italiano Gianbatista Primo, inspirada na Igreja de Jesus, sede dos jesuítas em Roma.

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Os Sete Povos das Missões foram parte da segunda fase de evangelização jesuíta em solo gaúcho. A primeira iniciou-se sete décadas antes. A Companhia de Jesus havia sido fundada há menos de meio século por Inácio de Loyola como reação à Reforma Protestante, com característica fortemente missionária e foco no mundo que portugueses e espanhóis estavam descobrindo e explorando.

Os jesuítas chegaram no Paraguai no final do século 16 e partiram para o leste em missão evangelizadora. Para entender a situação política da época, é importante saber que os jesuítas respondiam unicamente ao papa e que, na época, Portugal e Espanha estavam agregados pela União Ibérica (1580-1640), portanto, sem as limitações do Tratado de Tordesilhas.

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As primeiras reduções no lado brasileiro foram construídas entre 1609 e 1624 no oeste da Região Sul. O território guarani era delimitado pela mesopotâmia dos rios Paraná, Uruguai, Iguaçu, Paranapanema, Paraguai e seus afluentes. A escolha dessas tribos foi prática, por serem mais pacíficos e abertos à catequização. Além disso, muitos hábitos coletivos dos aborígenes estavam em harmonia com os ideais cristãos, ainda que algumas tradições indígenas tenham se perdido no processo.

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A missão no atual Rio Grande do Sul teve início quando, em 3 de maio de 1626, o padre paraguaio Roque González de Santa Cruz (1576-1628) – linguista, arquiteto e estudioso jesuíta santificado em 1988 – atravessou o Rio Uruguai e fundou a primeira das 18 reduções guaranis da primeira fase.

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Havia ainda o propósito de proteger os indígenas, constantemente atacados pelos Paulistas, escravizadores mais tarde chamados de Bandeirantes que já tinham dizimado a nação carijó no leste do estado. Tais ataques acabaram varrendo vestígios desta primeira fase, com padres e muitos indígenas se refugiando nas reduções argentinas e paraguaias. A segunda etapa jesuítica em território gaúcho, conhecida como os Sete Povos das Missões, viria mais de 70 anos depois. (continua)

Triunfo na mesopotâmia sul-americana

Proximidade: no lado brasileiro, os Sete Povos representam a segunda fase jesuítica

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