Um dos significados da palavra “revolta”, de acordo com o Dicionário Aurélio, é “grande indignação moral causada por perturbação, aversão, repulsa”. Um sentimento que todos conhecem e pode ser revelado ou não por palavras. A ideia de que os limites aceitáveis foram ultrapassados, de que as coisas já foram longe demais.

Motivos não faltam. Pode ser a indignação da pessoa que se sente desamparada frente à criminalidade violenta; do contribuinte que exige a devida qualidade nos serviços públicos, como educação e saúde (que não são favor de governante nenhum, pois pagamos impostos); do eleitor cansado de tolerar a falta de idoneidade dos políticos eleitos. Só para citar alguns prosaicos exemplos.

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Diante de tantas situações que o desrespeitam, o revoltado decide reagir com seu “não”. Negação que é uma afirmação ao mesmo tempo: ao denunciar o caráter do que não pode mais ser aceito, ele evidencia quais valores devem ser preservados.

Movimento apontado pelo escritor e filósofo Albert Camus (1913-1960) em um livro célebre, intitulado O homem revoltado. O revoltado é justamente aquele que diz “sim” ao gritar “não”. “Aparentemente negativa, já que nada cria, a revolta é profundamente positiva, porque revela aquilo que no homem deve ser defendido”, escreveu.

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Em 1951, as preocupações de Camus eram sobretudo com a política – com os governos totalitários que, sob o argumento de um “bem maior”, buscavam justificar a repressão e o assassinato de adversários ideológicos. É permitido matar em nome de uma ideia? De uma visão de sociedade? Uma cartilha? Não para ele. Mas, infelizmente, tais questões não se tornaram obsoletas.

De volta a 2023. Parece que estamos novamente em uma “era dos extremos”, em que todas as indignações convergem para o enfrentamento. Assim, para muitos, não é possível se preocupar igualmente com as vidas de israelenses e palestinos. Escolha um lado.

Mas a revolta, para se manter legítima e conservar sua força positiva, não pode se contentar com a destruição.

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