Em meio às comemorações das quatro décadas de presença ininterrupta na cena musical, a banda Raça Negra percorre o Brasil com a turnê “O mundo canta Raça Negra”. E foi no contexto das visitas a diferentes regiões nacionais, nas quais promovem o reencontro com os fãs, das mais diversas gerações, que o vocalista Luiz Carlos, o líder do grupo, concedeu entrevista exclusiva para a Gazeta do Sul.
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No ano passado, o grupo gravou “O mundo canta Raça Negra”, justamente o trabalho em torno do qual se organiza a turnê, com canções inéditas e regravações de grandes hits da carreira, ao lado de Dilsinho e Tierry, e das atrações internacionais Anselmo Ralph e Joey Montana. Houve ainda a participação especial de uma grande fã da banda, a atriz Juliana Paes. O repertório viajou pelos 40 anos do Raça Negra e contou com diversos momentos especiais.
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Quem prestigia os shows da banda tem a possibilidade de apreciar e de cantar junto clássicos, como Cigana, Doce Paixão, Cheia de Manias e, obviamente, É Tarde Demais, já quase um hino no contexto da cultura brasileira. Os números de audiência e de vendas do Raça Negra situam Luiz Carlos e seus colegas entre as maiores referências da história da MPB, sendo praticamente impossível dimensionar os últimos 40 anos na realidade brasileira sem a eles fazer referência.
Entrevista:
Magazine – Vocês estão completando 40 anos de estrada na cena musical brasileira. O que, em sua avaliação, foi mais determinante para que o grupo permanecesse unido e íntegro ao longo dessas quatro décadas?
Luiz Carlos – Acho que é a simplicidade da gente. O grande artista não somos nós; é o público! Então, acho que essas pessoas que nos acompanham é que são os artistas, elas propiciaram esse tempo todo para o artista mostrar o trabalho dele. Se os fãs não quisessem mais, a banda não existiria mais. Por isso a gente tem essa gratidão, por eles gostarem da gente. Porque a gente chega lá e faz eles cantarem. Isso tira um pouco o peso; todo mundo vai para se divertir. Acho que o grande lance do Raça Negra é passar responsabilidade para o público, e assim até se inverteu: o artista são eles, e nós somos o público.
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Como tem sido o contato de vocês com as novas gerações?
O Raça Negra tem uma coisa, e a gente agradece a Deus por isso, que é um poder de renovação. Por vezes eu mesmo não entendo. Fizemos um show há pouco tempo, no aniversário de uma cidade, em Minhas Gerais, e na frente só tinha criança. Subiram crianças no palco cantando tudo junto comigo. Em todos os shows há avós, pais, mães, filhos, a família toda. Claro, a gente procura se renovar. Agora mesmo estou gravando para uma apresentação em um navio, coisas de sempre, mas também coisas novas, atuais. O nosso som é atual. A gente fala muito de amor, de paixão, fala da vida das pessoas, elas sempre se identificam. Nos dizem: “pô, quando eu casei, a gente ouvia essa”; ou “na época eu estava passando por isso.” É mais ou menos isso o que acontece.
Nos primeiros anos da trajetória, que elementos ou que aspectos, em sua avaliação, mais contribuíram para impulsionar a carreira de vocês?
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A maneira de cantar. A gente misturou o romantismo do Roberto Carlos com o balanço do Tim Maia, e o romantismo dele também, mais a levada de Jorge Ben Jor. Cada um tem seu jeito de tocar; eles têm o seu, eu tenho o meu. Foi meio que uma mistura que a gente fez. Nunca tinham visto violino no samba. Então a gente colocou um violino, e essas coisas chamaram muito a atenção das pessoas.
Vocês são identificados por, desde o princípio, imprimir uma marca bem romântica ao pagode. Como isso foi se estabelecendo?
O samba, em geral, fala de temas variados, da malandragem, da vida das pessoas que vivem em comunidade, gente comum. O samba fala muito disso, e a gente queria falar de amor, queria contar a vida das pessoas. Eu sou um verdadeiro fofoqueiro (risos), eu escuto muito as pessoas. A maioria das músicas que temos dentro do Raça Negra são histórias que eu já ouvi; tem da banda, relacionamentos, frase impactantes. Como “é tarde demais”. Ouvi essa frase, guardei, e fizemos a música, que foi uma das mais vendidas e mais ouvidas no Brasil. Era realmente proposital, e não mudamos o nosso jeito de ser. Também tem suingue, mas a grande marca do Raça Negra é o romantismo, é contar a história das pessoas, ou a pessoa poder cantar e namorar. E tem história minha também; passo por alguma coisa, e vem a inspiração, a frase forte. Tem um monte de música que foi feita em torno de uma frase que é forte.
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Foram inúmeras parcerias ao longo dos anos. Poderias citar algumas das que mais se firmaram para a carreira de vocês?
Eu gosto de tudo, de ouvir tudo. Não tenho preconceito nenhum, tanto que sou fã do Skank e do Jota Quest, dos Titãs. Gostei muito também do É o Tchã, do Araketo, gosto de tudo; canto O Rappa, Capital Inicial, Wando, todo mundo. Amo um monte de música, acho legal mudar o ritmo, passamos para o nosso estilo e saio cantando. Já o samba hoje está em outro patamar. Antes tinha só lugar específico para ele: aqui não se toca samba, aqui se toca. A gente queria mudar isso, e, graças a Deus, conseguiu. Não só a gente, mas o pessoall que lida com samba. Tenho meus preferidos, Alexandre Pires, Thiaguinho, Bello, Xande, me relaciono muito bem como todos eles.
Depois de 40 anos, algum sonho do grupo ainda por ser realizado?
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Como eu gosto muito de compor, e já compus muitas músicas que fizeram muito sucesso, a gente sempre busca o melhor. Eu acho sempre que ainda está por vir uma música ainda melhor, que eu acho que eu ainda não fiz. Penso que é um sonho, da gente, que compõe, fazer sempre uma música ainda melhor. Acho que é isso. Eu sempre quis fazer o melhor, e sigo assim. Sempre penso que uma música nova, que vem por aí, vai ser fora de série, como tantas outras que eu e o Raça Negra já fizemos.
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