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ESPECIAL AVIADOR

No céu a realização de um sonho de infância: ser piloto de avião

Foto: Arquivo Pessoal

Em duas fotos, aviador Gustavo Rothmund Bolfe em voo e na base área

Ao avistar no céu de Sobradinho um avião, o olhar atento de Gustavo Rothmund Bolfe já vislumbrava o futuro. Mesmo pequeno, com cerca de 3 anos de idade, a imagem e o desejo de se tornar piloto de avião o acompanharam pela infância, adolescência e chegaram à fase adulta. Hoje, Primeiro-Tenente Aviador da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira, vive a realização de um sonho, o qual foi possível conquistar com muito estudo e dedicação.

Natural de Sobradinho, foi caminhando pela cidade, ainda na infância, que, ao ouvir o barulho de uma aeronave, olhou para o céu e disse para a mãe Eliane: “quero ser piloto”. Esta é a primeira vez da qual se recorda de ter falado sobre tal desejo. Na época não havia uma especificidade sobre qual tipo de aviação seguir, mas a vontade de ser piloto. “É um pouco dos sonhos que toda criança tem, daquilo que fascina e acaba que em algum momento da vida segue para este lado ou não”, comenta.

Sem ter alguém próximo que já tivesse trilhado o caminho da aviação, a família foi em busca de informações. “Desde aquele dia, em que falei sobre ser piloto, a gente começou a traçar um plano, ainda que bem abstrato, ainda sem ver a luz no fim do túnel, de como chegar à realização do sonho. E começou naquele dia mesmo, com minha mãe dizendo que para ser piloto de avião eu precisaria falar inglês, então ela me matriculou no curso. Iniciou assim, fazendo o curso a partir dos 4 anos, e, mais para frente, por volta dos 8 ou 9 anos, que minha mãe descobriu com um aluno que tinha interesse em trabalhar como controlador de voo, qual o caminho para a Força Aérea”, detalha.

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Gustavo ingressou no Colégio Militar em Santa Maria, com 12 anos, onde começou a se intensificar a preparação. “Estando lá fomos descobrindo mais jeitos de seguir para a aviação, e a aviação que me identifiquei foi a militar. Então, com 15 anos, prestei o concurso para a Escola Preparatória de Cadetes do Ar (EPCar), em Barbacena, Minas Gerais, que é o Ensino Médio da Força Aérea. Após três anos, em sistema de internato, concluído o Ensino Médio, ingressei na Academia da Força Aérea (AFA), em Pirassununga, São Paulo, onde são quatro anos de estudos, e lá sim a gente aprende a voar. No segundo e no quarto anos a gente pode voar, e aí sim foi o primeiro contato com a aviação. Foram 15 ou 16 anos só seguindo um caminho para depois começar realmente a fazer o primeiro voo, só se preparando para ali chegar no início desta jornada, por assim dizer”.

Conforme o jovem, a primeira experiência pilotando ocorreu no segundo ano na AFA, acompanhado de instrutor, durante as aulas preparatórias. “Foi em uma aeronave T-25 Universal, que tem dois assentos. Em 12 aulas tivemos instruções de pilotagem básica da aeronave, como decolar, fazer curvas, se orientar no terreno e retornar para pousar. A 13ª hora de voo já é um voo de check, ou seja, a avaliação para ver se tu realmente pode ser declarado piloto. Se passar, pode fazer uma hora de voo sozinho, o 14º. Aí sim é uma sensação indescritível, porque foi praticamente a vida toda buscando por aquilo ali e em algum momento tu se vê ligando o avião, dando a partida no motor, decolando, fazendo tudo sozinho. É muito interessante”, salienta. De acordo com Gustavo, depois deste período são realizadas outras tantas horas de voo para aprender a fazer acrobacias e voar em formaturas (com mais de uma aeronave junto). 

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Ao se formar na Academia da Força Aérea, na área acadêmica o cadete aviador recebeu os títulos de Bacharel em Ciências Aeronáuticas, com habilitação em Aviação Militar, e de Bacharel em Administração, com ênfase em Administração Pública. Já na área operacional, tornou-se piloto. Seguiu os estudos com uma pós-graduação no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, São Paulo, em Sistemas e Seleção de Armamentos. “No ano seguinte iniciei a especialização como piloto de aviação de caça em Natal, no Rio Grande do Norte. Além da aviação de caça, as formações são em aviação de asas rotativas, transporte e patrulha. Esta é uma progressão operacional, com o curso tendo duração de um ano. Ao sair de lá, a gente continua progredindo operacionalmente, de forma que primeiro só faz uma missão sozinha, depois consegue fazer missões com quatro aviões e depois aprende a liderar estes aviões. Dois aviões é chamado um elemento, quatro é esquadrilha e mais do que isso já é considerado um esquadrão”, detalha, salientando que operacionalmente, hoje, chegou até líder de esquadrão de caça.

Gustavo conta que, quando ingressou na Academia da Força Aérea, se imaginava como piloto de helicóptero, por ser uma missão, normalmente, mais voltada para busca e salvamento. “Me identificava muito com essa ideia. Mas, passados os quatro anos na AFA, fui tendo contato com os outros tipos de aviação e comecei a tender mais para a aviação de caça, até por conta da adrenalina. Ao final do quarto ano, é feito um ranking com base nas notas dos voos, que foram sendo avaliados. A partir da média, fiquei entre os 20 primeiros da turma e os caminhos se alinharam e pude prosseguir para a aviação de caça”, salienta.

Em uma profissão que leva às alturas e a velocidades expressivas, é preciso coragem. “Tem que ter coragem, respeitar o avião, conhecer a aeronave, porque fará muitas coisas que ficam próximas do limite dela, mas dentro da segurança. São muitos treinos para que se uma guerra viesse a acontecer a gente já tivesse treinado, feito os procedimentos de forma a conhecer a fundo a aeronave que temos”.

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Conforme Gustavo, na rotina de aviador de caça, são feitas diversas atividades de treinamento, também atuam com questões administrativas e, concomitantemente, participam de missões reais. “Em Porto Velho, Rondônia, onde estou lotado hoje, estamos muito próximos da fronteira, então um dos nossos trabalhos diários é ter sempre pilotos em alerta, fazendo vigilância, porque se alguma aeronave de fora ingressar no país sem autorização ou sem ter lançado o devido plano de voo, aí é feita a interceptação para obrigar o pouso para que possa ser visto o que está acontecendo”.

Para ele, os voos mais marcantes até hoje foram os primeiros voos solos em cada etapa. “A gente encara esse voo solo como um voo prêmio, porque é quando o instrutor te diz que tu está pronto para fazer aquilo sozinho, sem o acompanhamento dele. Esses voos marcam fases, derrubam barreiras de dúvida, do pensar se vou conseguir. Quando a gente faz algum voo desses tem a certeza que atingiu algum objetivo”, reforça.

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Além de muito estudo, a rotina de um piloto de caça também exige preparo físico, especialmente pelas condições a que se encontra dentro de um avião que pode atingir mais de 500 km/h e em grande altitude. Pilotando hoje um A-29 Super Tucano, produzido pela Embraer, salienta que com esta aeronave é possível desenvolver vários tipos de missão.

Dentro desta jornada, destaca que alguns caminhos que costumam traçar de progressão operacional, enquanto pilotos, é de voar em aeronaves melhores, cada vez mais avançadas, de última geração. “Vamos ver o que o futuro nos aguarda. Mas hoje diria que minhas metas se resumem em progredir operacionalmente em algumas aeronaves e, se possível, no futuro continuar os estudos, fazer um mestrado, doutorado em defesa aeroespacial, mais lá na frente”. Ele salienta ainda que tem o sonho de sobrevoar Sobradinho, que fica fora da área de instrução de manobra.

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Para trilhar este caminho até aqui, desde os primeiros passos, passando pelos primeiros voos e outras conquistas, o sobradinhense conta com o apoio da família. “É uma das bases principais para seguir esse sonho. É um caminho que, se não tiver essa base, ele não começa e não termina, de forma alguma, porque durante todo o meu caminho, desde quando comecei a querer traçar esses planos até hoje mesmo, tenho o apoio da família. Essa parte de descobrir qual caminho traçar e, depois do caminho ter sido traçado, a parte de vencer os desafios, é fundamental o apoio da família ou de alguém muito próximo, dizendo o que é possível, que aquele não é teu limite, que tu consegue ir além. ‘O cansaço vai vir, mas tem que superar’. ‘Não desista, vai dar certo’. E hoje em dia a mesma coisa. Estou longe da minha família no Sul, mas tenho aqui minha esposa que me ajuda muito também. Tudo importa. Desde a parte psicológica como a parte do tratamento como um time, porque a família é isso, tem que ser um time, um puxando o outro. Graças a Deus tive o privilégio de nascer em uma família que me ajudou muito e encontrar também uma pessoa que me acompanha e ajuda de forma sobrenatural nos desafios. Então tenho certeza que não teria atingido os postos, os graus que atingi, se não tivesse essas pessoas na minha vida”, destaca Gustavo.

23 de outubro é o Dia do Aviador e Dia da Força Aérea Brasileira, uma referência à data em que, no ano de 1906, Alberto Santos-Dumont realizou o primeiro voo do 14-Bis no Campo de Bagatelle, na França.

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