A residência da família Hilleshein, no Bairro Avenida, em Santa Cruz do Sul, é um exemplo de que a falta de espaço para o plantio de flores, hortaliças e folhagens é algo bem relativo. Em um corredor que vai da entrada até os fundos do terreno, o aposentado Cláudio Jacob Hilleshein, de 65 anos, criou um verdadeiro jardim suspenso. No local, ele ensina que tudo se aproveita, que a água da chuva deve ser estocada, que a madeira se transforma em vasos e displays para plantas e que a vida em meio à natureza – mesmo que dentro da área urbana – é possível quando se tem disposição.
Tudo começou quando seu Cláudio se aposentou da indústria cigarreira na qual trabalhou por 30 anos. Por volta de 2007, a parada com a atividade laboral criou um período de ócio na vida dele. “Sempre tínhamos pouco espaço para cultivar alguma coisa. Foi aí que eu pensei em criar as caixinhas, que podem ir na própria parede”, disse. O aposentado começou a juntar restos de madeira para fazer os cachepôs para suas plantas.
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As preferidas do aposentado são as flores-de-maio. A espécie se destaca pelo colorido e pela floração, que ocorre até mesmo no inverno. “Essas flores lembram a mãe dele, a dona Maria Helena. Por isso ele tem tanto carinho por elas”, revelou a esposa de Cláudio, dona Jacinta Hilleshein. A esposa, com quem o aposentado teve cinco filhos e é casado há 45 anos, aprova a decisão dele de cuidar das plantas. “Nem sempre foi assim. Antes de ele dedicar-se a este cultivo, não gostava muito do verde, dizia que não tinha espaço”, contou Jacinta.
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Foi quando parou a correria do dia a dia que Cláudio entendeu que poderia fazer algo diferente em casa. O casal mora em frente a uma transportadora. O aposentado via que a empresa descartava restos de madeira e que estes materiais poderiam se transformar em vasos e prateleiras suspensas para seu jardim. “Eu uso a madeira dos palets. Os pedaços que são melhores viram caixinhas de planta. Os que estão mais prejudicados, lenha no fogão”, explicou o aposentado.
Na contabilidade dele, há mais de 200 vasos de plantas, além de árvores frutíferas de laranjas e caquis. Na cobertura, três videiras produzem, juntas, mais de 100 quilos de uva. Seu Cláudio congela e dona Jacinta faz cuca e suco. “Cuca eu faço menos, pois dá um trabalho maior. Agora, suco a gente toma o ano todo”, confirmou Jacinta.
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Casa sustentável para uma vida equilibrada
Os cinco filhos do casal – quatro mulheres e um homem – já saíram todos de casa. Completam o elenco de moradores um gato, que não foi apresentado oficialmente, e o fiel protetor de dona Jacinta, o cão Zorro. Além do quarteto, há um time de dez calopsitas, que, de vez em quando, ensaiam um canto. “Ele é muito dedicado, às vezes coloca música para as plantas e as calopsitas. Sempre que o Cláudio ouve música sertaneja e bandinha, todo mundo ouve junto”, contou a esposa do aposentado. Quando o rádio não está no compasso do sertanejo ou da bandinha, a turma ouve a Rádio Gazeta FM, alternando a frequência entre a 107,9 e a 101,7. “Aqui só se ouve estas duas”, complementou Jacinta.
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O material usado em caixas, cachepôs e prateleiras do jardim suspenso do aposentado são de madeira reciclada. A água que ele usa para aguar as plantas vem da chuva, é coletada em um sistema de calhas e tubulações e fica armazenada em tambores. A água da máquina de lavar vai para a limpeza da própria casa. “Todos devem cuidar da água, aproveitar ao máximo e não desperdiçar”, recomendou o aposentado.
Seu Cláudio espalha o bom exemplo. Para decorar os cachepôs, a neta Sara, de 16 anos, ajuda com desenhos. Desde que começou a pandemia do novo coronavírus, ela tem visitado os avós com restrição. Mas boa parte dos vasos das paredes levam sua assinatura no pincel. Além de inspirar a neta, o aposentado espalha o amor na rede. No smartphone guardado no bolso estão algumas fotos de seus bebês – as plantas. De vez em quando, ele manda por mensagem uma foto com um “bom dia” aos seus contatos. “Muita gente responde, é um carinho muito grande”, contou.
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