A vasta Praça Skanderbeg, no coração da capital Tirana, propicia um passeio pela turbulenta e interessante história da Albânia. O pequeno país dos Bálcãs tem 2,8 milhões de habitantes espalhados entre uma belíssima região montanhosa, no interior, e campos férteis com praias magníficas na costa dos Mares Adriático e Jônico, em uma área total do tamanho do estado brasileiro de Alagoas. É preciso lembrar que há também seis milhões de albaneses fora da terra natal, além dos descendentes de imigrantes que escaparam para a Europa ocidental na diáspora pós invasão turco-otomana, no século 16. Albaneses formam ainda a imensa maioria da população do Kosovo, país disputado pela Sérvia que divide etnia e língua com a Albânia.
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Na fachada do Museu Histórico Nacional, um enorme mosaico resume um fator constante da história albanesa: a resistência a invasores externos. Habitada por tribos Ilírias na antiguidade (a língua albanesa provém dos ilírios, considerada mais antiga que o latim), a Albânia, ou Shqiperia na língua local, foi invadida pelas tropas de Alexandre Magno, colonizada pelos gregos, anexada pela República Romana, ocupada por Bizâncio, teve regiões incorporadas à República de Veneza, quatro séculos de ocupação turco-otomana (até 1912), invasão fascista e nazista durante a Segunda Guerra e assédio permanente dos vizinhos balcânicos. Após 1945, uma revolução criou a República Popular Socialista da Albânia, sobre a qual escrevo na segunda parte deste artigo, até que, em 1991, a queda do comunismo permitiu a formação da atual República da Albânia. Por milênios, a nação foi vítima de sua geografia, posicionada na crítica transição entre ocidente e oriente.
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O nome da principal praça da capital remete ao grande herói nacional: Gjergj Kastrioti (1405-1468), comandante militar mais conhecido como Skanderbeg. Kastrioti representa a resistência à ameaça estrangeira, exaltado por ter impedido o avanço dos turco-otomanos sobre a Albânia e a Europa por 25 anos. Após sua morte, o país sucumbiu ao domínio muçulmano, em 1506. Na praça, além da impressionante estátua equestre de Skanderbeg, vê-se a águia bicéfala do brasão da família Kastrioti ocupando a imensa bandeira albanesa.
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Com os turco-otomanos veio a islamização em massa do país, entre os séculos 17 e 18. Hoje, muçulmanos sunitas são 60% da população. Na praça Skanderbeg, visitei também a Mesquita Et-Hem Bey, fechada pelo regime comunista e onde, em 1991, um protesto pacífico foi determinante para o retorno da liberdade religiosa no país. Próximo dali está a bela Catedral da Ressurreição, sede primaz da Igreja Ortodoxa Autocéfala da Albânia, denominação resultante da influência bizantina, em especial na região que faz fronteira com a Grécia. A propósito, em 1054, o Grande Cisma do Oriente já havia dividido os cristãos albaneses entre católicos no norte e ortodoxos no sul.
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Sob um calor senegalesco de julho, deixei o restante da família se divertindo na paradisíaca praia de Ksamil e segui mais alguns quilômetros ao sul, em direção à região de fronteira com a Grécia. O objetivo: visitar a antiga cidade de Butrint, parque nacional que representa um fragmento importante da história do Mediterrâneo. A ilha, destino cultural mais visitado da Albânia, oferece uma incrível viagem por diferentes períodos históricos a partir do século 8 a.C., passando por gregos, romanos, bizantinos, venezianos e otomanos. No poema épico Eneida, o poeta Virgílio narra a visita de troiano Enéas a Butrint. Caminhar por templos, praças (ágora), anfiteatro, aquedutos, termas e residências milenares me fez esquecer a ameaça de insolação nas longas caminhadas pelos quase 10 mil hectares do parque arqueológico, tesouro que só foi descoberto há menos de um século.
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Eu procuro estudar sobre uma nação antes de visitá-la. A Albânia foi um dos países europeus mais complexos com que me deparei. Na segunda parte, faço um apanhado de sua história mais recente, incluindo a revolução socialista liderada por Enver Hoxha, referência ideológica que teve influência até mesmo na política brasileira no final do século 20.
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