Budy, Comanche, Radar e Dick formam juntos o pelotão de quatro patas da Brigada Militar no Vale do Rio Pardo. Os cães, das raças pastor-belga e pastor-alemão, moram no Centro Integrado de Segurança, no Bairro Arroio Grande, onde em 2015 foi construído o Canil Setorial da região.
É lá que eles descansam, alimentam-se e se preparam para enfrentar turnos de até oito horas ao lado dos parceiros humanos do Pelotão de Operações Especiais (POE). Na manhã dessa sexta-feira, a reportagem da Gazeta do Sul acompanhou o treinamento dos animais, que acontece cerca de três vezes por semana no campo do Estádio da Timbaúva (o popular Campo do Flamengo), também no Arroio Grande.
Para se deslocar pela região, seja para o treinamento ou atividades policiais, os cães contam com uma viatura adaptada. A Ford Ranger tem uma cachorreira climatizada e comporta até dois animais em gaiolas de transporte individuais. Além dela, a BM tem um reboque especial para quatro cachorros.
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Entre as atividades realizadas pelos cães estão o patrulhamento ostensivo – no caso dos belgas Comanche, Budy e Dick – e operações de faro, que são feitas apenas pelo pastor-alemão Radar. Além de Santa Cruz do Sul, onde atuam na maior parte dos dias, os cães também participam de ações em todo o Vale do Rio Pardo e eventualmente no Vale do Taquari.
Conforme o tenente Marcelo Machado Sune, comandante do POE, atualmente a BM tem apenas dois policiais habilitados para trabalhar com os cães. Para realizar a atividade, os PMs precisaram passar por um curso de cinotecnia, que dura 45 dias e ensina os princípios básicos de adestramento.
Para que um cão esteja totalmente preparado para atuar, no entanto, o tempo de treinamento pode atingir dois anos. “Nós chegamos a ter quatro policiais, um para cada cão, que seria o ideal, mas por conta de transferências e outras questões, hoje temos dois. Dessa forma, vamos revezando os dias de trabalho e de treino conforme a disponibilidade do efetivo”, detalhou.
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Compromissos diários nas ruas, nas escolas e contra o tráfico
A semana dos cães policiais é cheia de compromissos. Além dos treinamentos, que são realizados até três vezes no período, eles têm um dia reservado para operações na estação rodoviária, um ou dois dias de ações no Centro e nos bairros e um para apresentações nas escolas.
“Varia conforme o que nos é solicitado, muitas vezes pelo próprio Comando Geral. Na rodoviária é feita ação de faro em busca de entorpecentes, principalmente nos ônibus que vêm da Capital. Já nas escolas eles participam de apresentações dentro do Proerd (o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência). Então, além do lado policial, tem a questão social do uso do cão”, explica o soldado Rafael Koch Manardi, um dos cinotécnicos do POE.
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De acordo com ele, o cão policial é um animal de trabalho, diferente dos pets de estimação, mas isso não significa que são bravos ou agressivos. Pelo contrário. Segundo o policial, o cachorro PM deve ser, antes de tudo, equilibrado.
“Não pode ser muito agressivo nem muito manso, tem que saber lidar com outros animais e com barulho. O cachorro só faz aquilo que a gente ensina, então, se ele estiver cometendo erros, nós é que precisamos voltar atrás no treinamento e corrigir.”
A recomendação geral é para que as pessoas não cheguem acariciando os PMs caninos, para evitar acidentes. No entanto, quando as crianças pedem ou em situações específicas, Manardi orienta quanto à forma segura e adequada de brincar com os animais.
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Os cães da raça pastor são adequados para o serviço policial por serem ágeis, leves e com boa resistência física. Embora o alemão seja o mais conhecido, com a famosa “capa preta” (pelagem escura no dorso), o belga também é bastante utilizado. A diferença entre os dois, além da cor, está principalmente no porte, já que o belga é um pouco menor e esguio.
Nem todo pastor está apto para ser um cão de trabalho. A seleção para a função começa quando eles ainda são filhotes, momento em que se avalia, por exemplo, qual deles chega mais rápido para mamar na mãe. Também é observado se eles são muito agitados, preguiçosos ou se assustam facilmente.
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A palavra que descreve o perfil ideal do cão policial é equilíbrio. Eles precisam ser dóceis, mas não muito brincalhões. Devem saber proteger, mas conviver bem com outros animais. É importante ainda que o cão se comporte bem em situações de barulho intenso e em multidões.
O treinamento dos cães também começa cedo. Enquanto alguns estão preparados aos dez meses, outros podem levar até dois anos. Os treinamentos incluem simulações de intervenção tática, em que o cão deve imobilizar um “criminoso”, e de faro, quando deve encontrar entorpecentes e, em alguns casos, explosivos e armas.
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No primeiro, para ensinar os cães a morder e imobilizar pela mordida, os policiais usam mangas e perneiras para orientar a mordida em locais específicos (braços e pernas) e também a bite suit (traje de mordida, em português). A roupa estofada permite ao policial “ser atacado” pelo cão sem se machucar.
Já no caso do faro, o cachorro é ensinado a procurar pelos objetos em troca do seu brinquedo predileto, que é escolhido pelo próprio animal e pode ser desde uma bola até um mordedor. O brinquedo é exibido ao animal no início da busca e entregue após ele encontrar o alvo, como recompensa pelo trabalho bem feito.
O tempo que um cão pode servir à BM varia, mas a média é de oito anos. O belga Comanche, que aparece na reportagem, está com essa idade e deve se aposentar em breve. Existe uma preocupação por parte da instituição para que os cachorros não sejam explorados. Por isso, quando começam a demonstrar cansaço além do normal, sabe-se que está perto da hora de deixarem a atividade.
Depois da aposentadoria, os cães vão para a adoção responsável. Em muitos casos, o próprio tutor do animal dentro da BM acaba ficando com o cachorro. É importante que o dono tenha um bom preparo e, de preferência, saiba lidar com animais adestrados.