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ELENOR SCHNEIDER

Setembro das comemorações

Setembro é um mês de especiais comemorações: Independência, 20 de Setembro, Dia da Árvore, só para ficar em algumas. Comemorar remete a um coletivo, a uma comunidade, traz à memória algum evento significativo, que merece as devidas reverências. Ao mesmo tempo em que permitem expansivas manifestações, também demandam introspecção, provocando necessárias reflexões.

No dia 7 de setembro, celebra-se sobremaneira a pátria. Uma pátria que é de todos, nenhum grupo deveria se considerar dono dos seus valores, dos seus símbolos, que nos tornam fraternos cidadãos e nos identificam como únicos na constelação das nações. Dois dos seus símbolos estão muito presentes – a Bandeira e o Hino Nacional; dois são menos lembrados – o Brasão e o Selo.

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Atenho-me por instantes ao Hino Nacional. Diz uma lei, criada em 1971, que deve ser tocado ou cantado ao menos uma vez por semana nas escolas, em abertura de eventos, antes de competições esportivas, entre outros. Aqui, expresso uma opinião bem particular: nos estádios de futebol, o hino passa por desrespeito, quase ninguém canta, ou ao menos escuta. As torcidas, principalmente as organizadas, continuam rufando seus tambores, assopram aqueles instrumentos insuportáveis, cantam seus hinos próprios, alheios à solenidade proposta.

Dos jogadores, penso que poucos conhecem a letra, alguns fingem abrindo e fechando a boca, certamente ignoram a relevância do símbolo, nem sabem o que se passa. Ao menos as seleções, de todos os esportes, deveriam saber cantar. Os dirigentes poderiam assumir o compromisso de ensinar a letra, orientar que seus comandados servissem de exemplo a todos os cidadãos que os vissem cantar.

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Hinos são laudatórios, louvam e exaltam os valores, a riqueza, a bravura, a natureza, o povo. Em regra, foram compostos em outros tempos, em que predominava determinado conjunto de valores e são escritos em uma linguagem talvez hoje carente de uma aula, de uma explicação. Ninguém deveria sair de qualquer escola sem ter estudado e aprendido o sentido do nosso hino. Isso faz parte da interpretação de texto e é compromisso de todas as áreas, não se precisa de uma disciplina específica para isso.

A linguagem por vezes é arrevesada, cheia de metáforas, de orgulhosas hipérboles, há palavras que necessitam de estudo, de compreensão. Não sabe? Vamos aprender. Se o Brasil fulgura como florão da América, o que significa esse florão? Vejam-se os dois primeiros versos – Ouviram do Ipiranga as margens plácidas/ De um povo heroico o brado retumbante. É só colocar a frase numa outra ordem sintática, direta, que o sentido se ilumina: As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heroico. Plácidas significa serenas, calmas; o riacho Ipiranga tem tudo a ver com a declaração da Independência; e retumbante é ecoante, que soa forte.

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Símbolos sempre suscitarão inconformidades. No Brasão brasileiro, por exemplo, há um ramo de café e outro de fumo. Face às campanhas antitabagistas, tem que retirar ou substituir este último? A unanimidade não é necessária, o respeito e o contexto sim.

Não sobrou espaço para saudar o 20 de Setembro nem para curtir a vida sob os galhos vergados de uma árvore frondosa. Talvez pedir que parem de derrubar árvores sob o pretexto de que vão plantar algumas mudinhas para limpar a consciência.

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