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CASO SCHNEIDERS

Depoimentos confirmam serviços informais

Novas testemunhas ouvidas pela comissão responsável por conduzir o processo de cassação de Elo Schneiders (PSD) na Câmara de Santa Cruz do Sul confirmaram que o vereador, durante o período em que foi secretário municipal de Agricultura, entre 2017 e 2019, atendia a pedidos de auxílio de moradores de localidades do interior de maneira informal. Segundo os relatos, esses atendimentos aconteciam sem qualquer registro ou contrapartida, conforme prevê a legislação municipal.

O suposto esquema comandado por Schneiders na Agricultura é uma das acusações feitas pelo Ministério Público nas ações que ajuizou contra o parlamentar no fim do ano passado. Os depoimentos relacionados a essa parte da denúncia começaram na sexta-feira, quando seis pessoas relataram que foram beneficiadas por entregas de materiais intermediadas pelo então secretário. Em todos os casos, os pedidos foram feitos diretamente a Schneiders e sem passar pelo programa Patrulha Agrícola. Todos reconheceram ainda que não pagaram pelos atendimentos.

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Nessa terça-feira, 12, mais três pessoas, identificadas pelo MP por meio de interceptações telefônicas, também confirmaram que foram atendidas informalmente por Schneiders. Uma delas, Jurema Hirsch, que é produtora de leite em Rio Pardinho, relatou que em 2018 obteve duas cargas de cascas de arroz por intermédio de Schneiders. Ela disse que não assinou qualquer documento e não pagou pelo material, que foi entregue por servidores da Prefeitura. “Liguei para o Elo de volta e perguntei se tinha algum custo. Ele disse que não tinha custo nenhum”, falou.

Outras duas situações foram levantadas na comissão. Uma delas envolve um repasse de duas cargas de brita para a construção de um pavilhão em São José da Reserva. O depoente, Ditmar Lessing, que é líder comunitário na localidade, confirmou que a entrega foi feita por um caminhão da Prefeitura mas admitiu que não houve formalização. Outro caso é de uma remessa de brita para um salão de festas em Linha Felipe Néri. A testemunha Lauri Breunig relatou ter feito o pedido inicialmente ao subprefeito de Boa Vista, que indicou a ele que procurasse Schneiders diretamente. Dias após o contato com o secretário, a brita foi entregue, sem pagamento ou documentação. Um dos integrantes da comissão, Mathias Bertram (PTB) afirmou que os casos ilustram um “descontrole”. “Ajudar não tem nenhum problema. O que estranha é a falta de documentação. A coisa pública tem que ser respeitada”, criticou.

Os atendimentos informais também foram confirmados por um servidor de carreira do Município, Gilmar Schuster, que trabalha como motorista de caminhão na Secretaria de Agricultura. No depoimento, ele disse que os serviços informais, embora sempre tenham ocorrido na Prefeitura, aumentaram após a chegada de Schneiders à pasta. “Alguma coisa já existia. Mas com o Elo aumentou muito”, relatou.

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Além dos serviços informais, Schneiders é acusado de exigir salários de assessores. Os depoimentos ocorreram na semana passada.

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Defesa nega uso de dinheiro público nos atendimentos
Apesar dos relatos de moradores do interior que atestam os pedidos informais a Elo Schneiders, a defesa do vereador sustenta que não há provas de desvio de recursos públicos nesses episódios. Um dos depoimentos que reforçou essa tese foi o do empresário João Goerck, proprietário de uma loja que fornece materiais de construção, por meio de licitações, para diversos órgãos da Prefeitura.

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À comissão, Goerck confirmou que Schneiders fazia pedidos além da demanda do governo, mas alegou que nesses casos os materiais eram custeados pessoalmente pelo então secretário. “Eram contas pequenas, geralmente areia ou cimento, que ele me pedia e depois vinha pagar, normalmente a cada 15 dias”, relatou. Segundo ele, as compras que eram pagas com dinheiro da Prefeitura eram registradas e essas mercadorias “não se misturavam” com os pedidos particulares de Schneiders. “Para a Prefeitura, só sai com empenho. Quando ele ia até a loja, ele dizia o que seria pago pelo Município e o que era particular”, disse.

O empresário fez ainda uma longa manifestação em defesa de Schneiders, que disse conhecer há mais de 40 anos, e de sua atuação em defesa da população da zona rural. “Se os 17 vereadores fizessem um terço do que ele faz pelas comunidades, o interior não estaria na situação que está.”

Outro argumento da defesa é que as testemunhas do interior afirmaram que os auxílios de Schneiders às comunidades não ocorreram apenas durante a sua passagem pela Agricultura ou próximo a períodos de campanha, o que descaracterizaria o suposto esquema com fins eleitorais. “A mim ficou claro pelos depoimentos que o vereador Elo em nenhum momento usou dinheiro ou o cargo público para benefício próprio”, disse o advogado Marcos Morsch, após a audiência de terça.

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Carona ao MP
Dois servidores que prestaram depoimento à comissão foram questionados sobre uma situação apontada na ação ajuizada pelo Ministério Público contra Elo Schneiders. Em 29 de outubro de 2019, quando foram convocados para prestar depoimento, os servidores Charles Claas e Selmo Francisco Kroth chegaram à Promotoria trazidos pelo próprio Schneiders em um carro particular. O então secretário teria, inclusive, aguardado os servidores concluírem os depoimentos e depois levado eles de volta à sede da Agricultura. Na denúncia, o MP alega que isso indica uma intenção de Schneiders de “condicionar os depoimentos de dois de seus servidores subordinados (naquele momento) ou, quiçá, de intimidá-los para que não revelassem a verdade.”

Às comissões, Claas alegou que pediu aos colegas na pasta se alguém poderia dar carona a eles. “Eu tinha ido trabalhar de moto e estava chovendo. E ele (Schneiders) se dispôs a me levar”, falou. Claas admitiu que considerou a situação inadequada. “Claro que fiquei constrangido. Ele era o investigado e me levou até lá”, comentou. Ele alegou, no entanto, que não se sentiu pressionado por Schneiders e que acredita que sua iniciativa foi “espontânea”.

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