Uma história de amor e comprometimento que ultrapassa os laços sanguíneos. Assim é a relação da intérprete de libras Janaína Carla da Cruz, de 43 anos, e de sua filha adotiva Djenifer Cruz da Silva, de 16. Desde o fim de 2017, as duas trocaram a cidade catarinense de Blumenau para buscar um sonho em Santa Cruz do Sul: inserir a jovem em um educandário bilíngue para surdos. Na Escola Estadual de Ensino Médio Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Independência, um novo mundo de descobertas abriu-se para mãe e filha, que agora arrumam suas malas para fazer o caminho de volta.
Por questões familiares, nesta segunda-feira elas embarcarão novamente para o Estado vizinho. “Gostaríamos de ficar até a Djenifer concluir o segundo grau, mas a distância e a saudade apertam”, conta Janaína. Especialmente porque o pai da família, Gláucio Porto da Silva, ficou em Blumenau, onde é professor concursado de Ciências e intérprete de Libras. “Agora estaremos reunidos de novo. Felizmente sempre tivemos uma ótima estrutura familiar, estamos há mais de 20 anos juntos.” No período em que as duas ficaram por aqui, os encontros ocorriam apenas uma vez por mês.
Com toda bagagem de aprendizado acumulada, a expectativa de Janaína é contribuir para a construção da primeira escola bilíngue para surdos em Blumenau, recentemente anunciada pela Prefeitura de lá. “Queremos ajudar nesse processo que irá favorecer outras famílias. Futuramente, essa instituição pode ser um campo de trabalho para os estudantes egressos e para outros jovens como a Djenifer”, justifica Janaína, que até o fim deste mês ainda trabalha no Núcleo de Apoio Acadêmico (Naac) da Unisc, onde atua como intérprete desde a primeira semana em Santa Cruz do Sul.
Publicidade
Janaína conheceu sua filha adotiva durante seus atendimentos itinerantes a surdos em Blumenau. Natural de São Bento do Sul, na época Djenifer tinha apenas 9 anos e foi morar na cidade vizinha, onde há abrigo para menores. Em 2012 aconteceu o primeiro encontro, na escola onde a menina estudava. “Na hora que vi a Djen, foi amor à primeira vista e logo surgiu a ideia da adoção”, lembra. O processo foi bastante rápido, para alegria da família. “Nos conhecemos em fevereiro e em maio ela já estava com a gente.”
LEIA MAIS: Jogos Municipais da Inclusão levam 700 participantes para o Parque da Oktober
Novos amigos
Publicidade
Os cinco primeiros anos de Djenifer com seus novos pais, Gláucio e Janaína, foram repletos de descobertas e trocas. Os entraves apareceram fora de casa, no ambiente escolar. Sem educandário bilíngue de surdos em Blumenau, a filha do casal frequentou cinco escolas diferentes. “Ela não conseguia criar vínculos porque ninguém sabia Libras e não ensinavam a língua de sinais para os ouvintes”, conta Janaína.
Foi quando a menina levou um gibi para ler no recreio, por não ter ninguém com quem conversar, que os pais perceberam que precisavam de algo novo. “No início de 2017, participei de uma conferência de Libras em Porto Alegre e descobri que há 13 escolas bilíngues no Rio Grande do Sul. A partir daí comecei a correr atrás e tomei conhecimento da Escola Rosário”, lembra Janaína.
A instituição fica no mesmo bairro onde mora um casal de tios de Janaína, Nelson e Lenora Zwicker, que acolheram mãe e filha nos primeiros dias na nova cidade. “Pedi exoneração de um concurso de sete anos para ficar com ela aqui em Santa Cruz.” A mudança aconteceu em agosto de 2017.
Publicidade
Hoje, Djenifer está no 9º ano, aprimorou a língua de sinais, teve contato com outros surdos em sala de aula e fez muitos novos amigos, surdos e ouvintes. “Posso afirmar que ela não só aprendeu conteúdo, mas se constituiu como sujeito”, comemora a mãe.
Semana de despedidas
A semana foi de homenagens e despedidas na Escola Nossa Senhora do Rosário. Colegas, amigos, professores e funcionários distribuíram presentes e carinho para Djenifer e sua mãe, Janaína: teve até camiseta personalizada. “Todo esse reconhecimento é muito importante para que ela se sinta querida. Vamos embora com nossos corações divididos, está um misto de sentimentos”, conta a mãe.
Publicidade
Para ensinar a língua dos sinais aos alunos ouvintes, Djenifer e Janaína ministraram voluntariamente, ao longo do ano letivo, oficinas de Libras para as turmas do 1º ao 5º ano. “Foi muito enriquecedora essa troca e a oportunidade de sentir o interesse dos pequenos. Eles têm muita curiosidade sobre essa língua.”
LEIA TAMBÉM: Projeto Meninas nas Ciências desenvolve oficinas em escolas estaduais
Publicidade