Situações muito semelhantes ocorreram por dias consecutivos nas últimas semanas e me deram a certeza de que estava na hora de colocar no papel o conteúdo desta coluna. O título acima já estava na gaveta há uns meses e surgiu no último verão enquanto eu observava o fluxo de veículos e pedestres em pontos distintos da rua Marechal Floriano. Foram dois os episódios.
Em ambos, tão logo parei o carro no sinal vermelho, me vi diante do semblante de superação de artistas de rua. Enquanto assistia a cada um deles demonstrar os seus talentos, me perguntei se estariam à vontade naquela condição – não só por estarem em frente a tantas pessoas (algumas já impacientes pela demora no trânsito), que poderiam estar lançando olhares de julgamento e crítica, mas principalmente por estarem ali à espera de alguns trocados que poderiam, no decorrer do dia, garantir-lhes uma refeição (quem sabe a única).
Compartilho o que me chamou atenção nas duas circunstâncias: eles se mostravam alegres, seguros do que estavam fazendo, independentemente de qualquer julgamento e de qualquer que fosse o retorno que tivessem.
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O último deles, depois de pegar as moedas que alcancei, apontou para o esmalte cor-de-rosa das minhas unhas e exclamou com sotaque espanhol, em alto e bom som, “muy bellas”, e seguiu, com um sorriso largo no rosto, por entre os demais carros. A fisionomia dele me contagiou. A alegria, sobreposta naquele instante a todas as dificuldades que ele talvez tivesse que enfrentar depois, foi o melhor agradecimento que eu poderia receber; foi uma prova de humanidade.
Meses se passaram e novos recortes como esses se apresentaram diante dos meus olhos. Neste mês de julho, por três ocasiões, eu pude observar, na rotina da redação e dos plantões, o quanto as pessoas são capazes de ultrapassar limites e dificuldades para realizar aquilo que acreditam.
Em uma pauta no interior, assisti a uma pessoa chorar por mais de uma vez enquanto falava sobre tudo o que havia feito para tornar um sonho realidade. Era um projeto nutrido há décadas, tido como uma loucura quando iniciado, e que agora, já em expansão, é motivo de orgulho para toda a comunidade na qual essa pessoa se insere.
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Em outra pauta na cidade, vi um entrevistado pausar sua fala, por várias vezes, para conseguir narrar fatos que haviam marcado sua trajetória profissional e que, como ele próprio definiu, fora a missão mais difícil enfrentada na sua carreira. Em pauta na redação, horas depois dessa última, outro entrevistado chorou enquanto falava sobre o trabalho que realiza e, especialmente, sobre as relações que tem nutrido ao longo dos anos por conta disso.
Na condição de entrevistadora nessas situações, me limito a respeitar o tempo de cada uma das fontes e a dizer que está tudo bem chorar e que não há motivos para que se desculpem. Nesse último caso, enquanto acompanhava o entrevistado até a rua e já me dirigia para a entrevista seguinte, eu fiz questão de sublinhar a ele algo que é muito caro a mim e que eu defendo sempre que possível. Quase em tom de pedido eu disse a ele: “que a gente nunca perca a capacidade de demonstrar a nossa humanidade”.
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