Ao longo da vida, talvez sejam incontáveis os erros que cometemos em todas as áreas – na família, nos relacionamentos, nas atividades profissionais, na financeira, no social, nos esportes, na espiritualidade e no lazer. Por que erramos tanto na área específica das finanças? A primeira resposta, mais óbvia, é que não estamos capacitados para acertar. No caso de alguém ter perdido bens recebidos de herança, ou um valor expressivo de algum sorteio, por exemplo, as pessoas logo dizem que ele não soube administrar o dinheiro. É fato que a maioria da população não tem, talvez nunca tivesse e poderá demorar até ter acesso à educação financeira.
A segunda razão é que somos submetidos, permanentemente, a decisões financeiras: o que comprar? Quanto? Em qual loja ou supermercado? Comprar aquela roupa linda ou aquela bolsa charmosa? Pagar à vista ou a prazo? Enfim, são tantas questões que podem nos ocorrer para as quais raramente damos a devida e consciente atenção. No automático, agimos sem medir as consequências que podem ser boas, mas também negativas.
Nas finanças, erramos ao gastar, poupar e investir. Todo mundo toma uma decisão financeira errada uma vez ou outra. Isso é normal e, contanto que aprendamos com nossos erros, é até necessário. Claro, esses erros únicos, isolados ou raros ainda não são distúrbios financeiros que são padrões persistentes, previsíveis e frequentemente rígidos de comportamentos autodestrutivos relacionados ao dinheiro. Em geral, as pessoas sabem que devem mudar o comportamento, mas simplesmente não conseguem fazê-lo, o que requer cuidados especiais, às vezes verdadeiras terapias financeiras.
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A economia tradicional sustenta e todos concordamos que deve-se gastar menos do que se ganha, evitar pagar contas com atraso, conferir taxas de juros, poupar, investir etc. para, pelo menos, ter uma vida financeira mais equilibrada e, num segundo passo, juntar uma reserva de dinheiro para imprevistos e oportunidades de negócios que podem aparecer. Apesar de ser correto afirmar que, quanto mais sabemos sobre determinado assunto, melhores são as nossas decisões a respeito, quando se trata de dinheiro, muitas pessoas não usam todo o conhecimento para conter determinados comportamentos.
Na década de 1950, pesquisadores questionavam a economia tradicional que acreditava que todo mundo sempre tem o pé no chão na hora de decidir como usar o dinheiro. Se isso fosse verdade, por que tanta gente se endivida, faz escolhas erradas e perde boas oportunidades? A resposta está em alguns fatores, como emoções primárias, influências sociais, crenças construídas ao longo da vida e padrões de comportamento, que influem nas decisões financeiras:
- excesso de autoconfiança: a pessoa não aceita ajuda nem opiniões contrárias;
- aversão a perdas: nosso cérebro costuma dar mais importância ao que perdemos do que ao que ganhamos;
- comportamento de rebanho: seguir o que as outras pessoas estão fazendo;
- ancoragem: funciona como uma referência; não é o preço justo de qualquer coisa, mas o preço que vale para aquela pessoa;
- contabilidade mental: muito comum e influencia bastante nos comportamentos financeiros; a pessoa faz alguns cálculos rápidos de cabeça em vez de analisar a situação de maneira mais profunda e crítica;
Com tantos fatores que podem influenciar nas decisões financeiras, muitas vezes só o conhecimento financeiro não é suficiente para as pessoas apresentarem resultados melhores. No artigo Melhor comportamento, menor endividamento!, que resume um trabalho premiado pela Febraban, os autores e professores da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Denis Forte e Sílvia Franco de Oliveira, relatam uma pesquisa realizada com estudantes de graduação em ciências sociais de uma universidade privada, na qual foi analisada a influência do comportamento e do conhecimento sobre o nível de endividamento dos participantes.
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O resultado foi que, embora os endividados possuíssem maior nível de conhecimento financeiro, os menos endividados apresentaram um melhor comportamento financeiro. Eles planejam melhor as compras e os investimentos; avaliam melhor o crédito; e promovem uma gestão financeira mais adequada dos recursos. A mesma pesquisa indicou que não há diferença no nível de endividamento e no nível de conhecimento de acordo com o gênero. A diferença é que o grupo feminino apresenta melhor planejamento de compra, gestão financeira e investimento.
De acordo com os autores citados anteriormente, o comportamento mostrou-se mais importante do que o conhecimento, havendo necessidade de manter-se o foco mais na conscientização do estudante do que em simplesmente fornecer teorias econômicas e financeiras.
O criador da DSOP Educação Financeira e autor de livros, Reinaldo Domingos, na obra Terapia Financeira, publicada pela primeira vez em 2008, já tinha claro que a educação financeira, além de técnicas das finanças pessoais (saber fazer alguns cálculos, pesquisar preços, preparar e seguir um orçamento doméstico, conhecer produtos financeiros e melhores estratégicas de investimento etc.) dependia também do comportamento das pessoas.
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Na definição de Reinaldo Domingos, “educação financeira é uma ciência humana que busca a autonomia financeira, fundamentada por uma metodologia baseada no comportamento, com o objetivo de construir um modelo mental que promova a sustentabilidade, crie hábitos saudáveis e proporcione o equilíbrio entre o SER, o FAZER, o TER e o MANTER, com escolhas conscientes para a realização de sonhos”.
Um dos principais objetivos da educação financeira é ajudar as pessoas a estabelecerem uma relação mais saudável com o dinheiro. Mas, não é só isso. Trata-se de uma ciência que pretende promover uma mudança de comportamentos, hábitos e costumes em relação dinheiro.
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