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Seul, Coreia do Sul

Pelo mundo: educação, disciplina e prosperidade (parte 1)

Complexo do Palácio Gyeongbok abrigou a dinastia Joseon (1392-1897) | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

Em 2002, passei semanas trabalhando na Coreia do Sul, por sorte durante a Copa do Mundo daquele ano. O que vivi em estádios, ruas e famílias que conheci expandiu a admiração profissional que eu já tinha pelos coreanos para outros aspectos do cotidiano. A serenidade, a solidariedade e a simpatia – influências da filosofia confucionista – nunca deixaram de me encantar nas dezenas de viagens ao país durante as duas últimas décadas.

A península coreana, unificada no século 7, foi governada por diferentes dinastias até 1910, ano em que o Império do Japão anexou o território. Até a rendição japonesa na Segunda Guerra, um período brutal buscou reprimir a tradição, a língua e a eficiente escrita locais. O sofrimento, contudo, acabou alimentando uma identidade ainda mais vigorosa na pequena nação.

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Fotos: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

O esforço e o sacrifício de heróis coreanos são homenageados em um dos locais mais visitados da capital: a Prisão-Museu de Seodaemun, onde japoneses prenderam e torturaram dirigentes e membros da resistência, muitos dos quais se tornariam importantes líderes na segunda metade do século 20.

Outro ponto de grande interesse histórico e cultural é o magnífico complexo de construções e jardins do Palácio Gyeongbok, construído em 1395 pela dinastia Joseon. Destruído pelos japoneses, o local foi reerguido nas últimas três décadas.

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Após a liberação do jugo nipônico, a ocupação política da península entre a União Soviética e os Estados Unidos causou a lamentável divisão de uma civilização, apartada pela sede de poder de Moscou e Washington. Em 1950, sul e norte entraram em um conflito que persiste até hoje, ainda que abrandado pelo armistício de 1953.

O que se seguiu foi a instalação de ditaduras repressivas nas duas Coreias, levando um mesmo povo por caminhos bem diferentes. No sul, períodos autoritários civis e militares duraram até 1987, quando uma revolta popular conquistou eleições livres e transformou o país em uma das democracias mais estáveis e prósperas da atualidade.

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Seul está muito próxima ao paralelo 38, referência que marca a tensa fronteira entre as duas Coreias. A aliança com os Estados Unidos resultou na presença constante de mais de 30 mil soldados americanos no território da República da Coreia, nome oficial da Coreia do Sul. Aliás, a Coreia do Norte é, oficialmente, a República Popular Democrática da Coreia, mais um indício de que, quando um país tem a palavra “democrática” no nome, convém desconfiar.

Meca da tecnologia, Seul é uma das maiores metrópoles do planeta, concentrando a metade dos 52 milhões de sul-coreanos. A cidade e o país se tornaram mais conhecidos a partir das Olimpíadas de 1988 e, posteriormente, pelas exportações de veículos (Hyunday, Kia), produtos eletrônicos (Samsung, LG) e pela tendência conhecida como K-Pop, popularizada a partir da canção Gangnam Style, do coreano PSY.

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Gangnam é o distrito mais nobre de Seul e um popular ponto de encontro dos jovens mais abastados.
Até o final dos anos 1970, Seul era a sede de uma economia arrasada, entre as mais pobres do mundo. Um esforço concentrado da população, baseado em educação de excelência e industrialização focada na exportação de alta tecnologia, trouxe crescimento exponencial nas décadas seguintes, transformando o país em um dos tigres asiáticos.

Há 50 anos, a Coreia do Sul tinha um terço do PIB per capita do Brasil. Hoje, o país asiático tem um número três vezes maior que o brasileiro. Mais uma vez, é preciso louvar o investimento do governo coreano em educação nas últimas cinco décadas. Em 2022, a despesa nessa área foi de 450 bilhões de reais, ou cerca de 9 mil reais por habitante, cifra 15 vezes maior que a brasileira. A obsessão por educação colocou o país nas melhores posições no Índice de Desenvolvimento Humano, à frente dos Estados Unidos.

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O esforço de uma geração catapultou uma nação com poucos recursos naturais à condição de um dos países mais desenvolvidos do mundo. Em conversas com os nativos, noto que a educação dos filhos assume prioridade máxima, valorização que se reflete nos bons salários e no respeito aos professores.

Um ótimo exemplo para o Brasil, e quem sabe nossa maior oportunidade. Em uma profecia que se realiza diariamente em nosso país, Leonel Brizola costumava dizer a políticos e economistas que achavam seus projetos educacionais muito onerosos: “Cara mesmo é a ignorância!” (continua).

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