A relação dos povos europeus ou de seus descendentes com as florestas brasileiras definitivamente nunca foi amistosa, para dizer o mínimo. E parece que as coisas não evoluíram muito mesmo após 523 anos decorridos desde a chegada de Pedro Álvares Cabral e de sua comitiva. Ao menos em diferentes ambientes e realidades, das quais a regional não pode ser excluída, o ímpeto e o impulso extrativo e destrutivo seguem tão fulminantes e incontrolados como lá nos primórdios.
E isso que o próprio nome de Nação, e, por extensão, o nosso gentílico se devem, obviamente, a uma árvore: o pau-brasil. Foi encantados e entusiasmados com o tom vermelho intenso (de brasa acesa, ou brasil) da madeira da espécie Paubrasilia echinata, nome científico dado a essa espécie, que os portugueses acorreram em número cada vez maior a essas plagas. O pau-brasil rendeu dinheiro, e passou a ser derrubado às pencas. Resultado: Brasil ficou sendo a terra, e brasileiros os descendentes.
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Que, atualmente, derrubam, destroem e dilapidam em todos os quadrantes, de Norte a Sul, da Amazônia ao Chuí. E tanto derrubam que deveriam ler, com urgência, o livro Uma história das florestas brasileiras, de autoria do professor Zé Pedro de Oliveira Costa, que a editora Autêntica lançou em agosto de 2022.
Pela primeira vez, e de forma didática, apoiada em vastíssimos conhecimentos sobre a realidade florestal brasileira (ou do seu desflorestamento), uma obra perpassa as diferentes épocas, as diferentes florestas nacionais e as diferentes (e graves) decorrências advindas (e já sentidas) da gradativa ausência de vegetação, no campo e nas cidades. Por mais que a sociedade atual tente ignorar as consequências (drásticas) de hábitos, costumes e, principalmente, supressões em pequenas ou grandes escalas, conforme Zé Pedro, é inegável que a energia e a chama ambiental do Brasil, essa brasa que foi ardente, estão se apagando. Por ação humana.
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Plantar essa ideia
Lê-se cada página de Uma história das florestas brasileiras com um certo calafrio. E o recado vem de um especialista com extenso currículo: professor aposentado da Universidade de São Paulo, José Pedro de Oliveira Costa, o Zé Pedro, como é carinhosamente chamado e mundialmente conhecido, é ainda ex-secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e ex-secretário de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente.
Mesmo aposentado, atua como pesquisador do Instituto de Estudos Avançados (IEA), vinculado à USP. Reuniu vasto material e firmou um olhar macro sobre a importância e as características das florestas nacionais. Delas, a Amazônica é a que, sem dúvida, mais atrai os olhares do mundo todo, mas a Mata Atlântica, o Cerrado e o Pantanal, a partir do avanço do agronegócio; a Caatinga e, claro, também o Pampa, patrimônio dos gaúchos, vão sendo irremediavelmente descaracterizados.
O livro de Zé Pedro teve contribuições importantes, como depoimentos de Drauzio Varella, Fernando Gabeira, Sonia Braga e Fabio Feldmann, bem como o aval de Sebastião Salgado, que cedeu a foto da capa e outras três que ilustram o volume.
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