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Matar ou morrer

Empresário quebra silêncio: “Se eu não atirasse, hoje nós estaríamos mortos”

Foto: Alencar da Rosa/Banco de Imagens

O corte profundo na pele é uma marca que dificilmente sairá por completo. A cicatriz, que cruza parte da cabeça, é resultado de pancadas com barras de ferro desferidas com violência. Para um empresário santa-cruzense do setor de segurança, a noite de sábado pode ser resumida em uma frase: era matar ou morrer. A briga generalizada em um baile de Gramado Xavier, que causou repercussão em nível nacional, é investigada pela Delegacia de Polícia de Mato Leitão.

Na parte final do evento promovido pelo Clube de Mães Flores do Campo, na localidade de Linha Banhado Grande, cinco seguranças – quatro homens e uma mulher – retiraram um homem que estava embriagado e causando perturbação. Nesse momento, outros que estavam junto com ele – entre dez e 15 pessoas – investiram contra os agentes e começaram a agredi-los.

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Foi quando o empresário santa-cruzense efetuou disparos que atingiram de forma fatal Sidnei Alves dos Santos, de 35 anos, e outros dois agressores, no braço e cabeça, respectivamente. Ontem, o empresário, que prefere ter seu nome mantido em sigilo por questões de segurança, quebrou o silêncio e revelou à Gazeta do Sul detalhes da fatídica noite.

“Se eu não atirasse, hoje nós estaríamos mortos. Era eles ou a minha equipe, e minha equipe voltou. Nunca tinha passado por algo do tipo. Sou um pai de família. Voltei para casa e abracei minhas filhas.” Ele ainda está se recuperando dos ferimentos, trocando curativos nos cerca de 50 pontos feitos na cabeça, e tomando remédios para dor e para conseguir dormir. Após a ocorrência de sábado, o empresário foi autuado em flagrante pela delegada Raquel Schneider, pelos crimes de homicídio consumado, duas tentativas de homicídio e porte ilegal de arma de fogo de uso permitido.

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Chegou a dormir no Presídio Regional de Santa Cruz. Na noite de domingo, no entanto, a juíza Luciane Inês Morsch Glesse, da Vara de Execuções Criminais (VEC) do município, que era plantonista na ocasião, concedeu liberdade provisória ao acusado, que foi liberado na segunda-feira pela manhã. Para a magistrada, “há fortes indícios de que o flagrado agiu em legítima defesa própria e, possivelmente, de terceiros (demais seguranças)”. Nessa quarta-feira, 31, acompanhado de advogado, ele prestou depoimento ao delegado Paulo César Schirrmann.

Cozinheira defendeu agente mulher

Também sob a condição de anonimato, outros dois seguranças que foram atingidos de forma grave pelos agressores no sábado conversaram com a Gazeta do Sul. A única mulher a atuar como agente naquela noite relembra que levou uma paulada na cabeça e muitos chutes pelas costas. “Foi uma cena de terror. O que amenizou as lesões foi o uso do colete. Senti que estava sangrando na cabeça e fui socorrida por uma cozinheira, que me deu auxílio naquela hora.”

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A mulher ressaltou a ação do empresário. “Eu e a equipe devemos a vida a ele, porque se não tivesse atirado, estaríamos mortos. Não tínhamos mais saída, nem para onde correr, porque fecharam a porta de acesso onde estava nosso carro. O proprietário da empresa foi um guerreiro que, mesmo muito ferido, não abandonou a equipe”, disse ela, que ainda tentou salvar um colega desmaiado no chão, com cinco homens batendo.

Em dez anos trabalhando com segurança, ela disse que nunca viu nada parecido com a ocorrência de sábado, e afirmou que abandonou a carreira na área. “Para mim, foi o último evento, porque realmente minha vida vale muito mais.” O colega que a mulher tentou salvar e estava desmaiado no chão também falou com a Gazeta. Ele ficou com o rosto inchado das pancadas e levou pontos na cabeça.

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O olho esquerdo do segurança ficou machucado e fechou completamente. Nos últimos dias, começou a desinchar, mas o globo ocular ainda está muito vermelho. “Quando começou, nós apenas fomos separar e eles vieram pra cima de nós. Se o proprietário da empresa não tivesse feito o que fez, estaríamos mortos. Agradeço muito a ele e minha colega que, na hora em que eu estava cercado, também me ajudou a conseguir sair dessa com vida.”

Pistola utilizada na ocorrência era registrada

O caso de sábado começou por volta de 21h20. A banda de baile terminou de tocar e uma briga entre dois homens iniciou-se perto da copa. Quando um segurança foi tirar um dos brigões para a rua, amigos deste teriam partido para cima dos agentes. As agressões começaram dentro do salão e continuaram fora. Com barras de ferro arrancadas dos pés das cadeiras, pedaços de pau e cassetetes retirados da cintura dos próprios seguranças, cerca de 15 pessoas partiram para cima dos profissionais contratados para fazer a guarda do evento.

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“Eu estava na portaria e fui apoiar meus funcionários. Quando vi, estava tomando pancada, com um outro segurança desmaiado no chão e uma servidora sangrando. Se eu não atirasse, a gente ia morrer. Já pensou eu chegar para a mãe dos meus funcionários, ou para os filhos deles, e dizer que eles tinham morrido trabalhando para mim, porque eu não tinha feito nada para defendê-los? Eu não aceitaria isso.”

O homem conta que se tornou recluso nos últimos dias, e também sofreu ameaças de pessoas ligadas à vítima, no Facebook. Sidnei Alves dos Santos era conhecido por seu envolvimento com a criminalidade. Colecionou ocorrências ao longo dos anos. São 18 registros em sua ficha desde 2006, a maioria por delitos em Gramado Xavier, mas também em Santa Cruz do Sul, Sinimbu e Herveiras.

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Entre os crimes pelos quais respondeu estão homicídio, tentativa de assassinato, roubo a estabelecimento comercial, porte ilegal de arma de fogo de uso restrito, disparo de arma de fogo e ameaça. O empresário do setor de segurança, que é colecionador, atirador desportivo e caçador (CAC), forneceu detalhes sobre sua arma. Segundo ele, a pistola Taurus modelo G3 Toro, calibre 9 milímetros, usada para efetuar os disparos, era registrada em seu nome.

“Cerca de 20 dias atrás, pela terceira vez eu tive meu porte de arma negado pela Polícia Federal, apenas por ser vigilante. Tenho todos os cursos em dia, tudo regularizado, sou CAC e estava me formando em instrutor de tiro. Eu não podia estar lá sem a arma, em um lugar onde não tinha contato fácil de ligação para alguma situação de emergência que podia acontecer, como aconteceu.”

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