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LEMBRANÇAS

Há 50 anos, amor de mãe multiplicado (por três)

Foto: Nathana Redin/Gazeta da Serra

O dia 18 de maio de 1973 entrou para a memória da família de Vanilda Rigon Silveira e Eugênio Silveira como uma data de agradecimento pela vida. Na verdade, de gratidão por quatro vidas. Foi neste dia que os filhos do casal vieram ao mundo, cheios de saúde e com uma grande expectativa, e surpresa, afinal a gravidez seria de gêmeos, mas, sem as tecnologias existentes hoje, na época não foi possível ver que havia um terceiro bebê.

O casal de agricultores, casados há 52 anos, reside desde então na mesma localidade, no interior de Lagoa Bonita do Sul. Foi na garagem de casa, com filhos e alguns dos demais membros da família, que contaram para a Gazeta, nesta semana, a história do amor que se triplicou de uma única vez.

Poder gestar seus filhos era o sonho de Vanilda, que tinha em sua cabeça a ideia de que primeiro nasceria um menino, então na segunda gravidez uma menina e, para a completar a família, mais um guri. Foi nesta ordem que aconteceu, mas eles nasceram com poucos minutos de diferença ao invés de anos os separando. “O Sandro nasceu com 3,3kg, a Sandra com 3,2kg e o Leandro com 1,9kg. Os dois primeiros estavam dividindo a mesma placenta. Minha mãe teve 15 filhos, todo mundo ela abraçou, mas não se tem conhecimento de nenhum outro caso de trigêmeos em nossas famílias”, conta a mãe.

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Foram três meses na fase final da gestação internada no hospital em Sobradinho, em repouso e necessitando de cuidados. “Cheguei a ter anteriormente um aborto espontâneo, nem sabia que estava grávida. O médico me disse que eu tinha um problema no útero, que era difícil de engravidar e fácil de perder. Foi então que fiz um tratamento durante uns quatro meses e depois com medicamentos importados, acredito que para repor hormônios, afinal na época eu não entendia muito bem. No terceiro mês comecei a enjoar e então a gravidez se confirmou, mas não sabia quantos bebês eram”, detalha.

Seu Eugênio tem fresco na memória a imagem da cama arrumada no hospital com duas roupinhas prontas para os bebês serem vestidos logo após o nascimento. “Estava eu e a enfermeira arrumando as roupinhas. Tinha outra enfermeira que vinha trazer os bebês e disse ‘aqui tem outro’, se referindo ao segundo. Quando nos entregou este, ela exclamou: ‘e tem outro’. Fiquei meio assim e pensei ‘tomara que esses filhos se criem né’, afinal começou a vir muito. Então ela disse ‘tu está rindo? É verdade’. Foi logo que ela trouxe o terceiro”, conta em riqueza de detalhes.

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Passado o susto de um bebê surpresa, os momentos que se seguiram foram de olhares atentos aos recém-nascidos, que estavam bem, mas também à situação preocupante da mãe, que a fez ser levada, horas após a cesariana, para uma nova cirurgia. “Foi necessário então retirar o útero. Necessitei da doação de mais de sete litros de sangue. Foi um momento muito difícil. Estava tão debilitada, que não lembro de terem me mostrado os bebês após o nascimento, mas eu perguntava tudo o que iriam fazer. Quando acordei da segunda cirurgia, lembro que a família toda estava lá. Pensei comigo: se eu não morri dessa vez, na outra eu me vou”, lembranças do primeiro dia, dos quase 30 em que precisou ficar no hospital após o nascimento dos filhos, que chegaram primeiro em casa. Desde então, mãe e filhos não mais se separaram.

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Hoje, aos 75 anos de idade, Vanilda se pergunta como foi possível dar conta, de amamentar e alimentar três, trocar as fraldas de pano dos três diversas vezes ao dia, dar banho em três, ouvir três choros de uma única vez, lidar com as travessuras dos três… Aí ela se lembra do apoio do marido e, especialmente, dos sorrisos dos filhos e da bênção que foi e tem sido ao longo das décadas ser mãe dos trigêmeos. “Sempre pedi que viessem com saúde, então vieram os três. O Eugênio ia para a roça e eu ficava em casa, cuidando deles e ainda realizava todos os afazeres de casa, e conseguia dar conta de tudo, em uma época que nem energia elétrica tínhamos”, recorda.

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Ainda dos primeiros meses, lembra de a cada noite serem feitas quatro trocas de fraldas, totalizando 12. Os varais eram cheios e a casa também. “Na hora de dormir, o Sandro e a Sandra ficavam nos berços e o Leandro dormia entre eu e o Eugênio, era o menor e assim esquentávamos ele. Nos primeiros três meses foram usadas 60 latas de um leite específico, somente depois que o leite de vaca passou a ser dado e misturado com água. Depois já comecei a fazer as papinhas”, lembra Vanilda.

Entre as muitas histórias, Vanilda e Eugênio recordam de um dos poucos dias em que levaram os meninos para a roça, onde colhiam fumo, pois preferiam que eles ficassem em casa sob os olhares atentos da mãe. “Estávamos quebrando o fumo e largando na carroça, quando, de repente, Leandro subiu na roda da frente e a carroça começou a andar. Os outros dois estavam em baixo. Levamos um susto. A carroça pendeu para um canto e parou. O Leandro caiu, mas os outros dois não sofreram nada. As travessuras de quem levou sempre uma vida no interior”.

Hoje casados e com filhos, residindo ao lado ou há poucos quilômetros de distância da casa dos pais, estão com grande frequência juntos. O exemplo tem sido passado para a nova geração. “Para nós eles são sempre crianças. Agora, depois de 50 anos, não dá nem para imaginar tudo o que a gente passou, e deu tudo certo. Cresceram bem, com saúde. De acordo com o que a gente sabia, fomos educando e mostrando o caminho para serem pessoas do bem. Aprendiam pelo exemplo, pelo olhar”, reforça a mãe. “A educação é nossa maior herança”, resumem os filhos.

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“Estamos há 52 anos casados. Depois que nasceram nossos filhos, nossa preocupação foi trabalhar para o bem-estar deles, cuidar da saúde, do alimento e para que ficassem bem. Não foi fácil. A cada dia uma preocupação, muitas vezes não sabíamos como fazer. A cada dia também levando nossos pensamentos a Deus, para que nos ajudasse a saber criar as crianças, educar e ensinar o bom caminho, para que eles valorizassem as suas vidas, de seus pais e de todas aquelas pessoas com quem eles convivessem. Agora a gente vê eles casados, com filhos, mas a minha preocupação de mãe é sempre aquela: Como estão os meus filhos? Como estão educando os meus netos? estão fazendo a coisa certa? Muitas vezes a gente conversa e, no que dá, vamos ensinando também os netos. A vida da gente é assim. Acho que mãe é até morrer, sempre mãe, ajudando nas dificuldades, presente nas alegrias, no sofrimento, nas angústias. Nos encontros em família é maravilhoso ver eles chegando com os netos. A vida da gente se resume assim: meu Deus, cuida dos meus filhos, dos meus netos no dia de hoje. Defende de todos os perigos, cuida deles para que nada de mal aconteça. E assim a gente vai vivendo com a bênção de Deus. Assim será sempre, até o fim da minha vida, amando esses meus filhos”.

Para Vanilda, estar com a família já é o principal e é por isso que o presente neste Dia das Mães não poderia ser outro: “quero receber um abraço daqueles bem apertados, de tocar o coração. É o maior presente que eu desejo neste dia. Tem abraços que não têm explicação”.

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