A gigante British American Tobacco (BAT), que no Brasil controla a Souza Cruz, confirmou, em resposta exclusiva à Gazeta do Sul, que pretende começar a fabricar em junho vacinas contra a Covid-19. O projeto foi anunciado no início deste abril pela empresa.
Os experimentos estão sendo realizados nos Estados Unidos, junto à Kentucky BioProcessing (KBP), subsidiária de tecnologia da BAT, e encontram-se em fase de testes pré-clínicos – ou seja, sem aplicação em humanos, apenas em animais. Conforme as informações repassadas à Gazeta, por intermédio da assessoria de imprensa da Souza Cruz, a empresa está pronta para iniciar os testes clínicos em junho e, em paralelo, começar a fabricar as vacinas. Se tudo der certo, será possivelmente a primeira vacina contra o coronavírus a chegar ao mercado, embora haja diferentes pesquisas em andamento em diversas partes do mundo.
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A BAT alega que o método utilizado no experimento, que envolve o uso de plantas de tabaco, é mais rápido do que os meios convencionais de desenvolvimento de vacinas. Segundo a empresa, “com os parceiros certos e o apoio das agências governamentais”, será possível produzir entre 1 milhão e 3 milhões de doses por semana, a partir de junho.
Essa não é a primeira vez que a multinacional – que divide a liderança mundial do setor de tabaco com a Philip Morris International (PMI) e a Japan Tobacco International (JTI) – atua no desenvolvimento de vacinas. A empresa mantém uma parceria com a Food and Drug Administration (FDA, órgão norte-americano equivalente à Anvisa no Brasil) para elaboração de vacinas contra a gripe – em 2011, foram produzidas 10 milhões de doses em um mês. Além disso, entre 2014 e 2015, quando houve o maior surto já registrado do ebola na África Ocidental, a empresa desenvolveu o ZMapp, único medicamento existente contra o vírus até hoje.
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A empresa vem mantendo diálogo com o FDA, a Biomedical Advanced Research and Development Authority (Barda, outro órgão de saúde norte-americano) e com o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido para tratar dos próximos passos. O custo do projeto é mantido em sigilo, mas a BAT garante que não se vislumbra uma oportunidade comercial e que tudo será feito “sem fins lucrativos”. “Trata-se de tentar resolver uma das maiores crises que a sociedade enfrentou em décadas”, respondeu. Questionada se a vacina pode levar a um aumento na demanda por produção de tabaco no mundo, a empresa alegou que “ainda é cedo para tratar desse tema”.
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Entenda o experimento
As folhas de tabaco não fazem parte da vacina em si. A empresa clonou uma parte da sequência genética da Covid-19, o que levou ao desenvolvimento de um potencial antígeno – substância que induz a uma resposta imune no corpo e, em particular, à produção de anticorpos.
Essa substância foi, então, inserida em plantas de tabaco para reprodução. Quando as plantas foram colhidas, o antígeno estava purificado.
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A empresa alega que as plantas de tabaco oferecem potencial para um desenvolvimento de vacinas mais seguro e rápido, em comparação com os métodos convencionais. Um dos motivos é que as plantas não podem hospedar patógenos (como bactérias, por exemplo) que causam doenças em humanos. Além disso, os elementos da vacina acumulam-se em plantas de tabaco em seis semanas, enquanto pelos métodos convencionais o processo leva meses.
Outra vantagem, conforme a empresa, é que a fórmula da vacina que está sendo desenvolvida se mantém estável em temperatura ambiente, enquanto as vacinas convencionais geralmente necessitam de refrigeração.
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