Muito antes de receber o convite para estrear neste espaço, já estava convicta de que falaria sobre a minha relação com a educação. Afinal, cresci ouvindo dos meus pais o quanto era importante estudar. Eles não haviam tido a oportunidade de concluir, sequer, o Ensino Fundamental e, por isso, sabiam o quanto era limitador não ter formação. Naturalmente, para que minha realidade fosse diferente, sempre se empenharam para que eu tivesse acesso ao ensino e, sobretudo, para que eu tivesse gosto pelo hábito de estudar.
Uma das coisas que meu pai fazia, sempre depois do almoço ou do jantar, quando a mesa já estava sendo desfeita, era me chamar para a “hora do ditado”. Ele geralmente fazia uma lista de 10 palavras e as ditava para que eu pudesse treinar a grafia. Com olhar desafiador, aguardava eu rabiscar toda a sequência de letras até formar as palavras. Dificilmente eu errava alguma. Lembro, vagamente, que comemorávamos juntos os meus acertos.
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Outra forma de ele me incentivar era criando espaços de estudo. Seguidamente, escrivaninhas eram montadas em meio às varandas e aos galpões, onde ele e minha mãe beneficiavam o fumo da safra. Tudo podia virar uma mesa para que eu acomodasse os meus cadernos e ficasse imersa nos estudos. Essa rotina acelerou o meu processo de aprendizagem e, em especial, o meu domínio de leitura. Certa vez, em um aniversário na casa de um vizinho, recordo de ter ajudado um menino a ler um livrinho e, de longe, ouvi um senhor exclamar: “como ela lê bem”. A partir daí toda a minha infância e adolescência foram marcadas por muita leitura.
Hoje, ao reviver essas e tantas outras memórias, afirmo sem titubear que os meus pais, assim como os livros, foram agentes transformadores na minha vida. Na última sexta-feira, ao acompanhar a cerimônia de abertura da Feira do Livro, mais precisamente a fala do colega jornalista Romar Beling, o homenageado da edição deste ano, que destacou a importância que seus pais tiveram na sua formação profissional, me senti contemplada e percebi o quanto a decisão de um pai e de uma mãe, de manter seus filhos na escola, direcionados para a busca do conhecimento, merece ser aplaudida.
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E reflito ainda mais sobre isso em ambientes como o da Feira do Livro. No sábado e domingo, enquanto circulava entre as bancas de livros, observei muitas crianças e adolescentes acompanhados dos pais. Me vi ali, em todos aqueles olhares curiosos e fascinados com as tantas opções de livros. Ao observar os pais que lá estavam e a forma como eles interagiam com os pequenos, obviamente lembrei mais uma vez dos meus e agradeci. O fato é que os anos se passaram e, mesmo do alto dos meus 40 anos, a sensação que tenho ao folhear um novo livro é de estar prestes a iniciar uma aventura. Acho que isso não vai mudar.
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