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HISTÓRIA

Surgimento em Rio Pardo e mudanças na letra: 185 anos do hino rio-grandense

30 de abril de 1838. Durante a Revolução Farroupilha, em Rio Pardo, aconteceu a Batalha do Barro Vermelho. No confronto, que envolveu cerca de 5 mil homens, foram mortos 370 integrantes das tropas imperiais, e capturados outros 863. Entre eles, estava o maestro negro Joaquim José de Mendanha, nascido em Minas Gerais, que foi forçado pelos vencedores do combate a escrever um hino para a recém-formada República Rio-Grandense.

O mineiro compôs uma melodia. Já a letra foi de autoria do capitão rebelde Serafim José de Alencastre, fazendo alusão à batalha em Rio Pardo. Assim, a primeira execução do Hino Rio-Grandense na história aconteceu no dia 6 de maio, no início de um baile entre os chefes e oficiais do exército republicano. Portanto, em 2023, se completam 185 anos da música que é um dos principais símbolos do Estado.

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Diferentes versões

Mesmo que a melodia do maestro Mendanha tenha sido a base do hino ao longo de todos esses anos, a letra recebeu diferentes versões. Quase um ano após a execução original, em 4 de maio de 1839, o jornal oficial da república “O Povo” divulgou uma nova versão da letra. De autor anônimo e denominada “Hino Nacional”, a versão exaltava a libertação dos Farroupilhas.

Avante ó povo brioso,
Nunca mais retrogradar,
Porque atrás fica o inferno,
Que vos há de sepultar
. “

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Embora a versão de 1839 tenha sido divulgada na mídia republicana, foi praticamente esquecida com o tempo. O hino circulava por meio da tradição oral, sem ter nenhuma lei que o oficializava. Anos após, já depois do final da Revolução Farroupilha, surgiu a terceira versão da letra, muito próxima da que se conhece atualmente. A composição foi de Francisco Pinto da Fontoura, o “Chiquinho da Vovó”.

O jornal “A Federação” publicou a melodia do maestro Mendanha em 1887, na reprodução do rio-pardense José Gabriel Teixeira. Já sobre a parte cantada, as três versões circulavam entre a população, mas nenhuma ao ponto de se popularizar totalmente.

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Em 1933, os preparativos para o centenário da Revolução Farroupilha fizeram surgir a necessidade de oficializar alguma das versões do hino. Desse modo, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul elegeu a versão de Francisco Pinto da Fontoura quase que por unanimidade. O único a preferir a versão de 1839 foi Otelo Rosa. Posteriormente à escolha, ficou a cargo do professor Antônio Tavares Corte Real fazer a harmonização e ajustar a letra à melodia original, finalmente tornando oficial o Hino Rio-Grandense.

Trecho excluído

A única diferença da versão harmonizada por Antônio Corte Real para a cantada atualmente é uma estrofe. Na canção, logo após anunciar o Vinte de Setembro como “precursor da liberdade”, vinha uma referência aos gregos.

Entre nós, reviva Atenas,
Para assombro dos tiranos.
Sejamos gregos na glória,
E na virtude, romanos
. “

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O trecho, que fazia alusão ao surgimento da democracia ocidental e citava “tiranos”, foi suprimido em 1966. Embora haja uma concepção comum de que a remoção tenha vindo do regime da ditadura militar, os jornalistas Luciano Potter e Paulo Germano contestaram a informação em 2015. Segundo eles, a proposta de eliminação da estrofe havia surgido em 1961, pelo então deputado estadual Aldo Fagundes (PTB), opositor da ditadura. Na ocasião, estava sendo formada a lei que formalizava os símbolos oficiais do Rio Grande do Sul, inclusive o hino.

A percepção geral era de que não fazia sentido ter uma referência a povos sem nenhuma identificação com o Rio Grande do Sul no hino estadual. Para o também então deputado estadual Getúlio Marcantonio (ARENA), muitas pessoas sequer cantavam essa parte. Já em 2007, o deputado Daniel Bordignon (PT) apresentou um projeto de lei para que o trecho fosse reinserido, mas não avançou.

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Acusação de racismo

Ainda com as polêmicas da letra escrita no século 19, outra parte da composição também tem sido colocada em evidência desde 2021. Parlamentares estaduais negros, como Laura Sito (PT), Matheus Gomes (PT) e Bruna Rodrigues (PCdoB) trouxeram a discussão de que o trecho “Povo que não tem virtude / Acaba por ser escravo” é racista. Contudo, os versos trazem diferentes interpretações possíveis, e não há como saber a intenção original de “Chiquinho da Vovó” na obra.

Apesar de tantas polêmicas e mudanças ao longo da história, há 185 anos o hino mantém a essência da libertação dos Farroupilhas, tão celebrada pelos gaúchos. Uma história que começou em uma batalha em Rio Pardo, mas se expandiu para todos os cantos do Rio Grande, do Mampituba ao Chuí, da Campanha ao Litoral. Uma tradição que chega a ser levada mais fervorosamente que o próprio Hino Nacional. Um marco do tão característico orgulho rio-grandense.

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