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FORA DE PAUTA

Parece que nunca vai parar de doer

Coincidentemente ou não, escrevo este texto em um dia em que a tendinite está me matando. Há mais ou menos dois meses, as dores no braço, principalmente no ombro e no punho esquerdo, estão mais fortes e limitantes. Adesivos analgésicos e comprimidos anti-inflamatórios têm sido a salvação, especialmente durante a madrugada, que é quando mais dói.

Apesar do incômodo físico, essa não é a pior dor que senti – é óbvio que não, afinal tem outras muito piores. Talvez, enfim, essa analogia seja exagerada, mas foi no que consegui pensar com tanta dor no braço. É que quero usar esse texto para falar da saudade, que, assim como a tendinite, parece que nunca vai parar de doer. E, diferente da dor que irradia do ombro até a ponta dos dedos, me arranca lágrimas com frequência.

É claro que não ficamos tristes o tempo inteiro, mas a morte de alguém muito querido dá a sensação de que um pedaço de nós foi levado. É assim que eu sinto a morte do meu avô. Isso já foi há quase quatro anos, mas frequentemente sinto como se tivesse sido há dois dias. Rememoro aquela manhã de domingo, de chuva torrencial em Cruz Alta. Quando o telefone tocou, eu já sabia qual era a mensagem. Eu lembro de cada detalhe e dói.

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Apesar da impossibilidade de estar preparado para um momento como esse, nos dias que antecederam a morte do meu vô João, em que ele esteve internado, eu escolhi uma música para a gente. Que seria de despedida, mas que serviria, também, para representar a nossa ligação infinita. Lembre de mim é o nome, trilha de uma animação da Disney. Eu também decidi que faria uma tatuagem em homenagem a ele: uma orquídea, a flor preferida do vô – e que eu não tenho nenhuma habilidade para cultivar.

É estranho ter a certeza da presença dele – algo que faz parte da minha crença –, mas ter igualmente a certeza de que jamais vou vê-lo de novo nesta vida. Nem em sonhos consigo ver seu rosto, mas sei quando é ele com quem converso durante o sono.

Esta semana foi uma das difíceis. Na segunda, 17, ele completaria 85 anos – caso não tenha me perdido nas contas. A saudade doeu forte, chorei muito. Eu comemorei muitos aniversários com ele, que de ariano não tinha nada. Tive o privilégio de conviver com o vô João por 26 anos, uma experiência incrível, da qual lembro de muitos detalhes, como histórias, passeios, comidas preferidas, trejeitos… E a saudade de tudo isso faz doer. Às vezes me pergunto se seria mais fácil se a nossa ligação não fosse tão profunda. Mas se for pra abrir mão de todas as memórias que tenho, eu prefiro que a saudade doa.

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Afinal, somos feitos de conexões, duradouras ou não, um empilhamento de momentos, bons ou ruins, responsáveis por moldar nossa personalidade e caráter. E uma das coisas que aprendi ao longo da vida foi a ressignificar coisas. O que é ruim continua sendo ruim, mas é possível colher algo bom – mais ou menos isso.

E o destino me trouxe um grande presente para ressignificar o dia 17 de abril: o dia 18. Desde 2021, tenho um novo ariano para amar, de um coração tão bonito – e gremista –, que muito me lembra meu vô João. Que a gente siga cultivando esse amor, que é tão grande que até dói, mas não tanto quanto a saudade.


Outro dia a tendinite doeu tão forte quanto hoje, tanto que fui buscar atendimento médico na UPA. Duas injeções resolveram o problema rapidinho (só voltou a doer depois de cinco dias). Será que tem antídoto semelhante para a saudade?

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