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ENTREVISTA

O olhar de Erico: equilíbrio e harmonia expressados nos traços

As colhedoras são recorrentes na obra de Erico Santos, que assim revela sua afinidade com o universo rural

Se é, e com amplo reconhecimento dessa condição, um dos mais importantes representantes das artes visuais contemporâneas no Rio Grande do Sul, o artista plástico Erico Santos é igualmente nome de ponta no universo artístico brasileiro, e com as antenas muito ligadas para tudo o que ocorre nos grandes centros mundiais.

Não por acaso, como referiu em entrevista à Gazeta do Sul, na terça-feira, ele atualmente integra uma mostra coletiva que está em cartaz em ambiente de Roma, capital da Itália. É que ele e sua esposa, Paola, dividem-se entre Porto Alegre, onde se radicaram, e temporadas em Milão. Lá, além de dar andamento a sua própria produção, pode conferir de perto a obra de artistas italianos e europeus em geral, bem como os que chegam (ou despontam) de outros continentes.

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A mostra que se encontra na Casa das Artes Regina Simonis, em Santa Cruz do Sul, permite um passeio impressivo por temas e por soluções criativas que adotou ao longo das cinco décadas de envolvimento com a pintura. Refere, por exemplo, que tem a preocupação de salientar a figura e o papel das mulheres em sociedade. Isso transparece, por exemplo, em uma série de telas nas quais privilegia as colhedoras, em ambientes do campo.

Tanto nestas quanto em todas as demais situações do cotidiano, de naturezas mortas a paisagens, do figurativo a rostos, a exploração diferenciada e meticulosa da luz e da atmosfera torna-se evidente para o apreciador. O equilíbrio e a harmonia expressados nos traços, a suavidade, tudo convence de estar em seu lugar, e transmite uma segurança e uma autenticidade cativantes. Com seu dom, ou sua vocação, no caso de um autodidata, Erico Santos capta a vida, a natureza, e as eterniza, proporcionando paz, reflexão e enlevo.

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ENTREVISTA

Erico Santos divide-se entre Porto Alegre e Milão | Foto: Tania Meinerz

Erico Santos – Artista plástico

Magazine – O senhor chega a seus 50 anos de dedicação à arte plástica. O que mais ficou marcado em sua memória, em um olhar retroativo, nessa trajetória? Ao atuar nas artes plásticas, neste tempo todo, vai-se colecionando muitas lembranças. Posso dizer que a que mais me marcou foi a minha primeira medalha de ouro, já no primeiro salão de que participei, em 1976, “Projeto Cultur”, da então Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul, categoria Pintura. Era um jovem artista, cheio de ilusões, e receber o primeiro prêmio em pintura, num evento oficial, foi um grande estímulo, mesmo sem nunca ter recebido uma importância razoável em dinheiro e uma tal viagem a Ouro Preto, prometidos no Edital.

Como o senhor vê a evolução e a projeção da arte plástica produzida no Rio Grande do Sul nesse período? É um Estado que hoje se destaca em âmbitos brasileiro e até mundial? O nosso Estado forjou grandes nomes no cenário das artes plásticas que transcenderam as nossas fronteiras, inclusive internacionalmente. E continuam surgindo aqui grandes artistas que estão se destacando além das nossas fronteiras, para nosso orgulho. Mas o mundo das artes é, as vezes, ingrato e hermético, tornando muito difícil a muitos talentos obterem reconhecimento fora do seu território.

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Em suas temáticas, houve uma mudança significativa ao longo dessas décadas? O que define, hoje, a arte de Erico Santos para o próprio artista? Houve mudança, sim, mas a essência permanece até hoje. Meu interesse pela pintura sempre foi a tentativa de registrar a luz e a atmosfera. As naturezas mortas eram pretextos mais confortáveis para esta procura. Podia observar por dias e refazer até conseguir um resultado minimamente satisfatório. As incursões fora do atelier, ao ar livre, eram mais difíceis. Mudava a luz do sol, tinha que parar, voltar no dia seguinte na mesma hora, até sentir que ficou satisfatório. Eu sempre digo que mais importante do que saber pintar é saber quando a pintura não está boa. O fazer artístico é como a caligrafia, vai sofrendo mutações naturais ao longo do tempo. Hoje, a minha pintura se tornou muito peculiar, por acaso, mas sempre com as mesmas preocupações com a luz, com a atmosfera, com a perspectiva cromática… A forma atual da minha pintura se deve ao fato de eu fugir o máximo possível de formas já consagradas. É difícil não coincidir as coisas no mundo das formas, mas sempre busquei me afastar de fórmulas prontas.

E como tem sido o diálogo entre artistas no Estado? Há uma boa interação? Em que medida isso é salutar e importante para a arte? Vejo muita interação e receptividade entre os colegas gaúchos. Fiz grandes amigas e amigos artistas aqui no Estado. A grande verdade é que artista fechado, inacessível e que não procura apoiar o seu colega é artista inseguro e prepotente. Felizmente, isto eu nunca vi por aqui. Uma boa interação entre os artistas só leva a uma maior difusão e, consequentemente, maior valorização da nossa arte.

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O senhor mostra parcela de sua arte em Santa Cruz do Sul. O senhor tem produzido muito? Este conjunto de mais de 50 obras que estão sendo apresentadas na Casa das Artes Regina Simonis tem várias fases desta minha “caligrafia”. Quadros atuais, onde pinto as minhas “camponesas”; quadros da série “Evocações”, onde pinto a “alma” das coisas; quadros bem do início da minha vida artística, e outros que vão, didaticamente, mostrando a evolução do meu Universo Pictórico ao longo destes 50 anos. Quanto à produção atual, vou sempre procurando atender às solicitações, no ritmo fisicamente possível na proporção em que fôlego e inspiração se equilibrem.

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