Rádios ao vivo

Leia a Gazeta Digital

Publicidade

PELO MUNDO

Veneza: tecido fluido de história, arte e poder

Sobre um pântano, a capital da beleza: uma paisagem urbana inigualável | Foto: Aidir Parizzi

Em 828, dois mercadores venezianos de passagem por Alexandria obtiveram o corpo do evangelista Marcos, morto na cidade egípcia e sepultado em uma igreja local. A relíquia foi levada até Veneza escondida entre suínos, para que os povos muçulmanos não se aproximassem. Para guardar os ossos do santo nascido na atual Líbia, foi construída uma igreja que mais tarde se tornaria a atual Basílica de São Marcos, edificada em 1094 em estilo gótico bizantino. São Marcos tornou-se o padroeiro da cidade e seu símbolo, o leão alado, é até hoje a marca de Veneza.

LEIA TAMBÉM: Pelo mundo: de pântano salgado a poderosa república

Os venezianos criaram fortes alianças com o império bizantino, garantindo exclusividade nas valiosas rotas comerciais leste-oeste. Por outro lado, mestres da realpolitik e em negociação, passaram a fazer acordos também com os cruzados. Em troca de empréstimos, o doge Enrico Dandolo usou tropas europeias que rumavam a Jerusalém em seu favor nas conquistas territoriais e, em especial, para atacar Constantinopla, que foi, em 1204, atacada e saqueada. Foi então que a quadriga roubada do hipódromo de Constantino terminou sobre o pórtico da Basílica de São Marcos (os cavalos originais estão hoje no museu do mezanino da igreja).

Publicidade

Com simétricos arcos e incomparáveis portais e mosaicos, a Basílica de São Marcos é a maior atração da cidade, com fabulosa decoração dos períodos bizantino (século 13) e renascentista (século 16). Sob o olhar expressivo do mosaico do Cristo Pantocrator, no altar principal descansam os restos mortais do evangelista africano que dá nome à catedral. Em 1968, o papa Paulo VI devolveu ao Egito parte das relíquias, que agora estão na Catedral Cóptica de São Marcos, no Cairo. Do lado de fora, a Piazza (praça) San Marco é um espetáculo de luz, espaço e harmonia arquitetônica. O campanário, com 96 metros de altura, proporciona uma das melhores vistas da cidade, de onde, em um dia claro, se avista a Croácia e a Eslovênia.

LEIA TAMBÉM: Pelo Mundo: um passeio mágico e misterioso

O poder de Veneza só encontrava concorrência em outro império marítimo: Gênova. Em uma batalha entre as duas potências, um capitão veneziano acabou preso pelos genoveses. No cárcere, ele contou a um colega de prisão, o escritor Rustichello da Pisa, sua vida e suas aventuras asiáticas no reino do poderoso mongol Kublai Khan. Ou seja, graças a essa prisão, Marco Polo (1254-1324) e suas experiências ficaram eternizadas no livro As viagens de Marco Polo, fazendo do veneziano um dos mais célebres viajantes de todos os tempos.

Publicidade

No século 14, um período de paz trouxe mais prosperidade à república, que tinha, entre outras vantagens, um sistema de governo tão sólido e estável como o mármore de suas construções. Daí advém a alcunha da cidade, ainda em uso: La Serenissima. Com um complexo sistema de conselhos e um senado com centenas de membros, a separação e o equilíbrio dos poderes garantiam eficiência e estabilidade governamental, com o doge como principal autoridade. Outra modernidade era a rede de diplomacia, com representantes por toda a Europa e o Oriente mantendo o doge bem informado.

A riqueza e o constante afluxo de artistas criaram uma aristocracia afeita à arte, ao luxo e a animadas festas, entre elas uma que seria adotada no Brasil: o Carnaval (carnevale), celebrado em Veneza como a última oportunidade para divertimento e prazer antes do início do advento. O enredo de canais, vielas e edificações conduz a um tesouro de arte renascentista, guardado em palácios, igrejas e museus, deleites arquitetônicos por si só. Bizantinas na origem, as construções incorporaram elementos góticos, neoclássicos e barrocos. Arte, música e literatura criaram a capital da beleza em um lugar que, dez séculos antes, fora um pântano despovoado.

LEIA TAMBÉM: Pelo mundo: um sonho para nunca esquecer

Publicidade

No século 16, a descoberta portuguesa do caminho marítimo para o oriente trouxe dificuldades comerciais para os venezianos, que entraram em derrocada. A invasão de Napoleão, em 1797, decretou o final de mais de um milênio de um dos países mais extraordinários da história. Um século depois, a região do Vêneto, que inclui Verona, Pádoa, Vicenza e cenários idílicos desde as montanhas dolomitas até os vales férteis do Rio Pó, foi incorporada à recém-criada nação italiana.

Para milhões de turistas que disputam as vielas de Veneza, tudo pode parecer um parque de entretenimento, em especial para olhos menos treinados e as mentes que estariam mais em casa em Las Vegas ou Dubai. Para quem mergulha nos detalhes históricos e culturais, as águas salgadas que abraçam Veneza sussurram uma história de poder marítimo, diplomacia pragmática, inventividade e arte. Navegar nessas águas é um sonho deleitante que se agiganta a cada visita à Sereníssima.

LEIA AS ÚLTIMAS NOTÍCIAS DO PORTAL GAZ

Publicidade

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Aviso de cookies

Nós utilizamos cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar sua experiência em nossos serviços, personalizar publicidade e recomendar conteúdos de seu interesse. Para saber mais, consulte a nossa Política de Privacidade.