Recentemente, viralizou no Brasil um vídeo em que três jovens calouras do Curso de Biomedicina da Universidade Unisagrado, em Bauru, São Paulo, ironizam o fato de a também caloura Patrícia Linares ser uma mulher de 44 anos. Na gravação, elas até mencionam que Patrícia deveria “estar aposentada”. A partir disso, aumentou o debate acerca do que é etarismo, descrito como qualquer tratamento negativo e inapropriado contra ou a favor de uma faixa etária.
Muitas pessoas, quando saem do Ensino Médio, não têm a oportunidade de já cursar uma faculdade. São realidades diferentes daqueles que já são encaminhados da escola ao Ensino Superior. Diferente de oportunidades, o envelhecimento é algo inerente a todos. A psicóloga Eduarda Corrêa Lasta, professora do Curso de Psicologia da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), explica que este é um processo natural e universal. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022, apontam para um contingente de 31 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, o que representa cerca de 15% da população total de nosso país.
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Em contrapartida, conforme Eduarda, presencia-se também um movimento oposto, uma busca incessante por permanecer jovem. “É um fato que influencia os estereótipos associados ao envelhecimento e à velhice. Pesquisas apontam que o etarismo está presente nos mais diversos lugares, em núcleos familiares, através da infantilização do sujeito idoso; nas instituições, por meio da desconsideração das atividades produtivas; e também em instituições de ensino, como no recente caso da aluna de Biomedicina em São Paulo”, observa.
De acordo com a professora, que é também membro integrante do Grupo de Estudos e Pesquisa em Envelhecimento e Cidadania da Unisc, esse preconceito, assim como outros tipos de discriminação, pode até mesmo prejudicar a pessoa na busca por objetivos. “O conceito de estereótipo padroniza e generaliza algo ou alguém. Já a discriminação reduz as possibilidades de vivência de um sujeito e o coloca em posição de desigualdade e vulnerabilidade. Isso significa que, independentemente do preconceito que uma pessoa possa sofrer, os efeitos sempre serão danosos.”
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Mulheres são mais prejudicadas
Na Unisc, por exemplo, os alunos da graduação com 40 anos ou mais (homens e mulheres) somam 5,9% de todos os estudantes da instituição de ensino. Desse número, 3,3% são mulheres. Para a psicóloga, os moldes impostos às mulheres as colocam em posição de inferioridade e muito provavelmente se configuram enquanto fatores que colaboram para o etarismo. “Precisa ser jovem, magra, bonita, ótima mãe, ótima profissional e por aí vai. Mas existem possibilidades reais e justas para isso? Talvez uma das vias possíveis seria a compreensão de que, sim, o etarismo afeta mais mulheres do que homens. Pois com esses a sociedade é mais flexível”, destaca a psicóloga.
Mercado de trabalho
No mercado de trabalho ainda existe, de certa forma, um padrão de contratação de pessoas mais jovens. Para a professora Eduarda Lasta, é preciso compreender que os estereótipos de idade influenciam processos de recrutamento, clima organizacional e saúde ocupacional. “Comumente, os jovens são treinados a desenvolver futuras lideranças, enquanto as estratégias formuladas a trabalhadores de mais idade ficam em segundo plano. No entanto, sujeitos com mais idade podem e devem contribuir da mesma forma nas empresas.”
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Para que isso seja possível, conforme a profissional, é necessária uma reformulação nas instituições, onde a trajetória de cada funcionário seja valorizada. “Estudos demonstram que não há diferenças significativas entre o desempenho de pessoas mais jovens em relação às mais velhas. Além disso, funcionários mais experientes possuem mais consciência, qualidade de trabalho, confiabilidade e melhores tomadas de decisão”, frisa.
Combate
Segundo a psicóloga, combater o etarismo significa combater violência e buscar uma sociedade mais justa e igualitária. “É diminuir inferiorizações, compreendendo que o processo de envelhecimento, sim, varia de indivíduo para indivíduo. No entanto, acontece com todos nós, faz parte do ciclo natural da vida e, portanto, precisa ser encarado a partir de suas possibilidades, combatendo de uma vez por todas estereótipos e discriminação”, finaliza.
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