Na noite desta segunda-feira, 27, a partir das 20 horas, na Loja Lessing no 61, na Rua Tenente Coronel Brito, 277, realiza-se Sessão Magna Pública comemorativa do 143º aniversário de fundação da casa maçônica, ocorrida no dia 15 de março de 1880. Será uma ocasião na qual a entidade fará uma homenagem especial (in memoriam) a um de seus fundadores, o alemão Carlos Trein Filho, que se radicou com seus pais e irmãos na vila de Santa Cruz em 1862, e nela morou até 1903. A atividade será acompanhada por descendentes de Trein Filho, hoje radicados em Porto Alegre, e que assim visitarão a cidade na qual e pela qual ele atuou.
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Maçonaria surge junto com a emancipação
A data de 15 de março de 1880 é importante não apenas para a Maçonaria em Santa Cruz do Sul. Acaba por ser muito importante para o próprio contexto histórico em que maçons ou futuros maçons atuavam em favor do desenvolvimento local, numa comunidade que recém completava 30 anos desde o início da colonização. E, para a implementação da primeira loja maçônica no recém-emancipado município de Santa Cruz do Sul, o cidadão Carlos Trein Filho, nascido na Alemanha e radicado na vila desde 1862, teria atuação decisiva.
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Nesta segunda à noite, em Sessão Magna Pública alusiva aos 143 anos da Loja Maçônica Lessing no 61, uma homenagem póstuma a este fundador busca evidenciar a dimensão de seus feitos para a entidade e para toda a região. Como salienta o atual venerável mestre da casa, Henrique Frederico Röhsig, o documento mais antigo em poder da loja data de 1º de março de 1876. É um diploma a Carlos Trein Filho expedido em Porto Alegre pelo então Grão-Mestre do Grande Oriente Unido do Brasil, Karl von Koseritz, que firmara seu nome como jornalista na iniciante comunicação em âmbito de Rio Grande do Sul.
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O documento fora concedido em loja constitutiva sob o título de Zur Eintracht do Oriente de Porto Alegre. Ou seja, quatro anos antes da fundação da loja em Santa Cruz, Trein Filho já tinha contato e vínculo com a Maçonaria na capital. E mesmo junto ao Museu do Colégio Mauá existiam faixas de maçons antigos, doadas por familiares, pertencentes a Clemens Borggreve e Carlos Trein Sênior. Portanto, o pai de Trein Filho também já era maçon.
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A Loja Lessing foi fundada pelo Grande Oriente Unido do Brasil, trabalhando no Rito de York, e passou para o Grande Oriente do Brasil em 1883. Em 1894 foi fundado o Grande Oriente do Rio Grande do Sul, e a Loja Lessing foi a 13ª a filiar-se a ele, quando passou a trabalhar no Rito Schroeder, com um quadro de 70 obreiros. Até a construção do templo próprio, na atual Rua Tenente Coronel Brito, as reuniões ocorriam nas dependências do Club União, para cuja fundação haviam contribuído vários cidadãos que depois se tornariam maçons.
Inúmeros obreiros vinculados à Loja Lessing ao longo dos anos (antes, durante e depois da emancipação local e também da fundação da casa maçônica) tiveram atuação pública destacada. Entre esses nomes, o de Carlos Trein Filho é um dos mais salientes. Além de ter sido diretor da Colônia e de ter integrado a Câmara de Vereadores no período subsequente à conquista da autonomia, ocupava outros cargos expressivos. A exemplo de Trein Filho, seu sogro, Adolf Textor, e seu cunhado, Emil, engenheiros e arquitetos, tinham essa mesma proeminência. Emil era inclusive responsável técnico pela obra da sede, em três terrenos adquiridos na atual Rua Tenente Coronel Brito, em 1895. O prédio foi concluído em dois anos, com inauguração e sagração do templo em 23 e 24 de junho de 1897, e há indicações de que o projeto seria de Trein Filho.
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Ativa na cidade
A Maçonaria há 143 anos tem presença forte em Santa Cruz. Antes mesmo de 1880, ano da fundação da Loja Lessing, obreiros atuavam na localidade, alguns tendo emigrado como tal, e mantinham vínculo com casas de outras cidades. Maçons ou futuros maçons participaram da fundação de importantes agremiações sociais, a exemplo, em 1866, do Club Alemão, posterior Club União, e da Deutsche Realschule (depois Colégio Mauá), em 1870.
A Comunidade Evangélica Luterana, fundada em 1862, o ano da chegada dos Trein à vila, era dirigida por maçons, e esses locais todos ficavam próximos. Tendo no triângulo (e no esquadro e no compasso) um símbolo, houve mesmo a constituição de um triângulo perfeito entre os prédios do Palácio do poder público, no centro da atual Praça da Bandeira; da antiga Igreja Evangélica e da Loja Maçônica.
Quem foi
O poeta e dramaturgo alemão Gotthold Ephraim Lessing, que dá nome à primeira loja maçônica fundada em Santa Cruz, nasceu em 22 de janeiro de 1729, em Kamenz, na Saxônia, e morreu em 15 de fevereiro de 1781. É um dos mais importantes nomes da literatura e da cultura alemãs. Foi iniciado na Maçonaria em 1771. Sua obra é muito lida até os dias atuais.
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Nome de rua celebra o personagem histórico
Em Santa Cruz, Carlos Trein Filho empresta seu nome a uma importante rua central. No entanto, não há indicativos históricos de a partir de quando a denominação foi adotada. Como refere Guido Warken, servidor da Câmara de Vereadores, não há registro de lei que oficializasse tal nomenclatura. É provável que seja uma das poucas (se não a única) via do perímetro central a não ter seu nome reconhecido por lei. Como tal, pairam ainda mais dúvidas sobre o momento em que a homenagem foi prestada, e sobre quem liderou tal esforço de reconhecimento.
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Outro mito persistiu ao longo de décadas: o do paradeiro, após a mudança da família para Porto Alegre, em 1903, dos cadernos com apontamentos que Trein Filho fizera, ao longo de duas décadas, como diretor da Colônia e, depois, no desempenho de outros cargos, como o do levantamento das dívidas dos colonos com o Governo por conta do programa de colonização. Comentava-se, de forma oral, que tais documentos teriam sido repassados pela família de Gaspar Bartholomay, intendende local entre 1916 e 1925, da qual Trein era próximo, ao Arquivo Histórico do Colégio Mauá.
Quando da emancipação, em 1878, Trein Filho e Frederico Gaspar Bartholomay integraram a Junta Governamental, e ambos inclusive presidiram a Câmara Municipal durante o Império, em momentos diferentes, o mesmo tendo acontecido com Joaquim José de Brito (o primeiro presidente da Câmara, o tenente coronel que nomeia outra rua central), Abraão Tatsch e Jorge Júlio Eichenberg, este outro imigrante e que, amigo de Trein Filho, era pai de Heinrich Wilhelm Eichenberg, que casou com Emma, a filha de Carlos e de sua esposa Hedwig.
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Depois, os documentos de Trein Filho desapareceram do Arquivo do Mauá. Mas hoje uma cópia está no Centro de Documentação (Cedoc) da Unisc, e os originais se encontram no Arquivo Público do Estado, em Porto Alegre, como advertiu o professor de História aposentado Olgário Vogt. São pastas e cadernos com registros e dados das famílias da Santa Cruz do século 19. Com seus conhecimentos como engenheiro e agrimensor, metódico e com habilidade no desenho, Carlos Trein Filho deixou mapas que poucas autoridades ou lideranças da época teriam domínio técnico e conhecimento para fazer.
Uma memória que é acalentada pelos Eichenberg
Trineto de Carlos Trein Filho e de dona Hedwig, Ricardo Eichenberg de Lara, 69 anos, é guardião de objetos que pertenceram ao trisavô, e que lhe foram repassados por sua mãe, dona Iná Ilse Eichenberg de Lara (nascida em 1927 e falecida há dois anos). Ela era filha de Arno Willy, filho de Emma, que se casara com Martha Schilling, de Candelária. Iná teve um irmão, Jorge Júlio, que faleceu em maio de 2021 e não deixou descendentes.
Iná casou-se com o médico Armando de Lara, de Cachoeira do Sul, e a família se radicou em Porto Alegre. O casal teve três filhos: Jorge, o mais velho; Fernando, o do meio, falecido; e Ricardo sendo o mais novo, nascido em Porto União, em Santa Catarina. Formado em Agronomia na UFSM, Ricardo casou-se com Paula Orofino de Lara, de Porto Alegre, e com ela tem os filhos Paola e Camila. Ele administra fazenda da família no interior de Cachoeira. Recorda que, em Porto Alegre, conviveu bastante, até a vida adulta, com o avô Arno, que faleceu em 1990, aos 96 anos.
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Já a trineta Vivian Sokolowsky Turk, porto-alegrense, descende de Trein e de Hedwig pela via da avó Heddy, irmã de Arno. Heddy casou-se em Porto Alegre com o imigrante alemão Hans Tyedmers; tiveram as filhas Lora e Vera. Lora é mãe de Vivian do casamento com Rolf Sokolowski, natural de Ijuí. Vivian lamenta que tanto os avós quanto os pais faleceram cedo, e assim não teve convívio mais prolongado que lhe permitiria reforçar as memórias familiares.
Diz recordar dos relatos da importância da vó Hedwig como esteio familiar após a morte de Carlos Trein. Vivian nasceu em 1951, ano seguinte àquele em que a trisavó faleceu. “Lembro de minha mãe e a mãe do Ricardo dizerem que tinham ido a Santa Cruz para limpar o monumento ao vô Carlos Trein Filho”, frisa. Casada com Daryus Turk, de origem árabe, Vivian tem três filhos (Eduardo, Rafael e Nina) e quatro netos. Sua tia Vera, radicada em Novo Hamburgo, teve os filhos Ricardo e Lore.
E Carlos Heuser é descendente de uma das irmãs de Hedwig, Clara, casada com Carl von Schwerin, diretor da colônia de 1859 a 1863 e presidente da Câmara em Rio Pardo de 1866 a 1869, falecido em 1870. Carlos nasceu em Santa Cruz em 13 de maio de 1950, filho de Carlos Henrique Heuser e Gertrude Bencke Heuser, a Trude, natural de Venâncio Aires, e ele tem ainda o irmão Paulo. Os pais já são falecidos. Após estudos no Colégio Mauá, transferiu-se a Porto Alegre, onde se formou em Informática e foi professor nessa área junto à Ufrgs, aposentado desde 2012. Radicado na capital, vem a Santa Cruz, sua terra natal, com frequência.
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Seu avô Alfredo Heuser, casado com Adelina Barth, de Rio Pardinho, era neto de Clara Textor. O vô Alfredo era filho de Felipe Heuser e Eugênia Schwerin, filha de Carl e Clara. Desde os anos de 1990 Carlos Heuser dedica-se a recuperar dados genealógicos, e desde 2004 os compartilha em site, que abastece à medida em que vai obtendo informações sobre as famílias. Casado com Eliane Diefenthaeler, nascida em Porto Alegre, com ela tem o casal Martina, 40, e João, 44, este arquiteto radicado na Suécia.
Os descendentes
Quando da partida de Carlos Trein Filho e de Hedwig de Santa Cruz, em 1903, ao longo dos anos e das décadas popularizou-se, em relatos orais transmitidos junto às famílias, que a partir de suas filhas Emma e Alice e das gerações seguintes não teria ficado descendência. A mudança para Porto Alegre, diante do atentado que sofrera, levara a um gradativo silenciamento nas informações sobre os Trein na comunidade.
Mas Trein Filho e Hedwig deixaram descendência, sim. Alice, de fato, não teve filhos. Ela se casara, em Santa Cruz, em 27 de outubro de 1894, com o imigrante alemão Alexander Maximilian Hoffmann, nascido em 1865 em Schlesien, e que morreu em Porto Alegre, com 85 anos. Alexander era filho de Oskar Hoffmann e Anna Gottschling. Alice, deste modo, passou a assinar Hoffmann. E nos seus anos finais, em meados do século 20, fez companhia para a mãe, viúva, e que ficou centenária.
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Já Emma casou-se, também em Santa Cruz, em 20 de outubro de 1891, com Heinrich Wilhelm Eichenberg, filho de Georg Julius Eichenberg e de Regina Malvine Schilling, ele um grande amigo de Trein Filho. Se Alice não teve filhos, Emma teve oito. E todos nasceram em Santa Cruz. Pela ordem: Erna e Anna (gêmeas, que nasceram em 1892, e das quais a primeira faleceu em 1896), Wilma (em 1893), Carl Julius (em 1894), Arno Willy (em 1896), Heddy (em 1897), Edmar (em 1899) e Iris (em 1908).
Uma vez que Iris, em 1908, nasceu aqui, é provável que Heinrich e Emma tenham permanecido na cidade até bem depois da partida dos pais dela. Emma faleceu em Porto Alegre em 23 de novembro de 1920, pouco mais de um ano após a morte do seu pai. Do marido, Heinrich, não se tem a informação do ano de falecimento.
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