Seguindo uma tendência verificada nos últimos anos, e inclusive estimulada no setor, a área cultivada com arroz no Rio Grande do Sul, principal produtor do País, voltou a cair na safra 2022/2023. Conforme levantamento apresentado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), na 33ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz Gaúcho, iniciada nessa terça-feira, 14, na Estação Experimental de Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão, no Sul do Estado, a semeadura para esta temporada foi reduzida em 12%, para 839.972 hectares, 117.213 a menos do que na anterior.
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O presidente do Irga, Rodrigo Machado, observou que para tanto influi uma série de fatores, a começar pelo econômico. Preço deprimido e alto custo de produção afetaram o segmento, enquanto houve entrada forte da soja nas áreas baixas, com lucratividade maior, além de a rotação oferecer uma série de benefícios. Ao mesmo tempo, segundo ele, o arrozeiro está se inserindo em um novo sistema de produção, que inclui em especial soja e também milho e outras culturas, em um contexto de produtor multigrãos. Com isso, verifica-se uma tendência recente de redução da área de arroz aliada à integração de outras culturas, para fortalecer seu negócio.
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O dirigente evidencia que a soja não tira espaço do arroz, entrando inclusive em áreas de pousios e onde tinha pecuária, mas vem crescendo, assim como o milho, e se beneficia da estrutura de irrigação arrozeira. Conforme o levantamento do Irga, para a safra 2022/23, a área semeada com soja em terras baixas no Rio Grande do Sul cresceu 19%, para 505.965 mil hectares. Destaca-se a Zona Sul, com 148.983 hectares da oleaginosa e índice de crescimento de 35,5% neste ciclo. E já aparece nas estatísticas o milho nesse espaço, com 12.787 hectares.
Ainda em relação à atual safra, o presidente do Irga informou que o instituto acompanha a questão climática e já é o quarto ano em que se apresentam estiagens e só alguns períodos de chuva prolongada. Para o presente ciclo, ainda não é possível avaliar o impacto que isso terá na colheita, que ainda está incipiente, mas já se observam áreas abandonadas em função do déficit hídrico. É o que acontece na maior região produtora, a Fronteira Oeste, onde 12,4 mil hectares encontram-se nessa situação, e também na Depressão Central, com 2,1 mil hectares deixados de lado.
O tema deste ano é “produtor multissafra”
A questão hídrica também esteve presente na reunião da Câmara Setorial do Arroz no Ministério da Agricultura, na programação da Abertura da Colheita do Arroz. O cenário de deficiência hídrica observado requer ao produtor cada vez mais olhar quantas toneladas pode produzir de acordo com a disponibilidade de água, afirmou Alexandre Velho, presidente da Federação das Associações de Produtores de Arroz (Federarroz), promotora do evento. Ele ressaltou que a grande questão a ser resolvida e agilizada é a reservação de água.
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O líder mencionou ainda outras questões que afligem o produtor, como custos altos e situações de insegurança em vários aspectos, que fazem com que o arrozeiro cada vez mais reduza área e atue como produtor multissafras, conforme o tema apresentado para o evento deste ano. Dessa maneira, segundo ele, o seu fluxo de caixa se compõe de mais culturas, como soja, milho, trigo e pecuária de leite e corte, o que oferece mais segurança e sustentabilidade. Também Daire Coutinho, presidente da Câmara Setorial, reiterou que ser multissafras é um caminho sem volta, como já vê exemplos na sua região, em Camaquã.
O tema foi amplamente discutido nessa terça e vai continuar sendo debatido intensamente na programação da abertura da colheita, que se estende por mais dois dias, hoje e amanhã. Vários assuntos técnicos relacionados tanto ao arroz quanto às demais culturas e atividades em terras baixas estão na pauta, buscando a intensificação produtiva, assim como questões econômicas, relativas a financiamentos, exportações e perspectivas, envolvendo também melhor gestão financeira e estratégica.
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