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Open Finance

No dia 1º deste mês, fez dois anos que um complexo sistema de compartilhamento de dados e serviços abertos iniciado no Brasil. Originalmente designado de Open Banking porque tinha como proposta o compartilhamento de informações entre instituições bancárias, foi rebatizado para Open Finance porque expandiu a ideia para outras instituições financeiras do mercado, como corretoras de investimentos, seguros e previdência, câmbio e aquirências (fornecedoras das maquininhas dos cartões de crédito/débito).

Nesse curto intervalo de tempo, algumas soluções já estão disponíveis, como a visualização de contas de diferentes instituições em um mesmo aplicativo e a possibilidade fazer um Pix no app de um banco com o dinheiro que o cliente tem em outro. Embora o ecossistema já conte com cerca de 800 instituições financeiras, são poucas as que oferecem serviços ao consumidor.

Apesar do reconhecimento internacional, o Open Finance no Brasil ainda é um “estranho no ninho” para a maioria da população. É o que mostrou a pesquisa recente da Provu, fintech de meios de pagamento e crédito pessoal, com 60% dos entrevistados respondendo não saber ou nunca ter em ouvido falar de Open Finance.

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O Open Finance no Brasil está em uma fase em que o consumidor não consegue mensurar o benefício de forma direta. Um cliente de banco disse que até sabe da existência do Open Finance, mas não aderiu ao sistema por um motivo: “Se fosse um benefício ofertado de maneira clara, não teria problema em usar. Acho que os benefícios não estão claros hoje para o cliente compartilhar os dados”. Já uma cliente, de 26 anos e gerente de negócios de São Paulo, já colheu os “bons frutos” do Open Finance. Recentemente, ela solicitou ao seu banco um cartão de crédito para juntar pontos de milhas aéreas. Achou o limite aprovado muito baixo e, no aplicativo do banco, solicitou um crédito maior. O banco perguntou se ela não queria compartilhar os seus dados financeiros com outras instituições. Ela aceitou e teve um aumento de 26% em seu limite de crédito.

Alguns mitos cercam o Open Finance. Bruno Loiola, da Pluggy; Robério Melfi, membro da ABF Fintechs e participante do grupo técnico de trabalho do BC; e Nic Marcondes, da Quanto, identificaram os principais:

  1. “Todo mundo terá acesso aos meus dados”: as empresas só terão acesso aos dados se estiverem autorizadas pelo cliente;
  2. “Só há benefício em compartilhar um dado”: o objetivo é que o consumidor compartilhe dados para obter melhores produtos e serviços, resultando em mais benefícios;
  3. “Passarei a receber diversas ofertas indesejadas”: com o compartilhamento de dados, a instituição saberá com mais precisão o que oferecer e quais são as melhores opões de crédito para o usuário;
  4. “Terei que pagar para utilizar o Open Finance”: o cliente não pagará nenhuma taxa;
  5. “Não posso me arrepender de compartilhar meus dados”: todo cliente poderá interromper a qualquer momento o compartilhamento de dados;
  6. “Open Finance não funcionou no Brasil”: às vezes, as pessoas duvidam da capacidade de inovação tecnológica dos brasileiros; muita gente ainda duvida e critica as urnas eletrônicas, cujos números poderiam ser manipulados numa “sala escura” como até o ex-presidente Bolsonaro costumava repetir, não se sabe se por convicção ou apenas para deixar seus seguidores fiéis. O fato é que o Brasil está na vanguarda mundial do Open Finance e sua implementação e absorção pela população será uma questão de tempo para acontecer.

É razoável achar que, quanto maior o tempo de relacionamento com um banco, o cliente teria maiores chances de conseguir crédito e, principalmente, melhores taxas, além de outras benesses. Na prática, entretanto, muitas vezes isso não acontece. Mesmo sendo um ótimo cliente, o banco, talvez por razões operacionais ou porque se acostumou com aquele cliente “cativo”, muito pouco faz por ele. Assim, com um perfil que não merece melhores condições no banco em que o cliente mantém conta, às vezes há anos, talvez em outro teria maiores vantagens.

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A ideia do Open Finance é fazer do cliente o dono de suas informações. Conforme explica Cláudio de Moraes, professor da Universidade Cândido Mendes, “imagine você poder pegar todo o seu histórico construído ao longo do tempo com um banco, como contas pagas em dia, fonte de renda mensal, quitação de empréstimos, perfil de gasto, etc, e levá-lo para onde quiser, sem ter que começar um relacionamento do zero com uma nova instituição.”

Por exemplo, o cliente faz a cotação para o financiamento de um automóvel em seu banco tradicional, onde mantem um relacionamento de muitos anos. Não satisfeito, pesquisa outros bancos e descobre condições melhores. O que fazer, então, se ele não é cliente daquele ou daqueles bancos? O cliente deverá solicitar a seu banco que compartilhe todas as suas informações bancárias com o banco ou bancos em que pretende fazer negócios, mantendo o relacionamento com seu banco original. O compartilhamento também poderá ser feito pela empresa que oferece um serviço ou produto, ao dispor a opção de consentimento durante o uso do aplicativo ou do site pelo cliente.

Mesmo não existindo um objetivo imediato, como, por exemplo, a solicitação de um empréstimo, ao compartilhar seus dados com outros bancos o cliente pode aumentar a disputa de “seu passe” entre as instituições financeiras e também o seu poder de negociação. O objetivo do Open Finance – contas abertas – é colocar o cliente no centro do mundo financeiro, promovendo a concorrência e a disputa do cliente pelos bancos, instituições financeiras e outras que operam no mercado.

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