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ELENOR SCHNEIDER

Por um tempo de paz

Muitas pessoas aguardam a passagem de ano para rabiscar projetos de vida. Uns querem emagrecer, por isso miram academias, pistas, piscinas, bicicletas ergométricas, esteiras, corridas, menos churrascos gordos, menos provocantes cervejas geladas. Doces? Nem pensar. Outros almejam novo emprego, casa própria, um carro, até um sítio para passar o fim de semana ou se incomodar. A lista de desejos é imensa e inclui do trivial ao mais mirabolante dos sonhos.

Na base de tudo, está a esperança, que não é uma certeza, mas da qual não podemos prescindir. Sem ela, a bússola da existência perde o sentido, não mais orienta. A esperança é uma força certeira, segura. Na sua vasta gama de significados, “ter fé, confiar” talvez sejam a sua melhor síntese. Esperar um ônibus não tem o mesmo sentido de esperar um país melhor, uma cidade melhor, uma sociedade melhor, mais justa, mais fraterna. Cada um tem as suas esperanças, tão fundamentais para prosseguir na sua jornada.

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O ano que finda, como nunca antes, consagrou a mentira, a calúnia, a difamação como meios de, a qualquer custo, alcançar alguns escusos objetivos. Fomos provocados insistentemente a perder a esperança, a perder a fé nas instituições, a desconfiar do ser humano, a desacreditar um futuro consolador. No portal do primeiro dia do novo ano, parecia estar conhecida citação de Dante Alighieri.

Em sua célebre obra – A Divina Comédia –, três barcas rumam à eternidade. Uma se dirige ao Céu, outra ao Purgatório e outra ao Inferno, ao qual se destinam os malfeitores da humanidade. Acima da porta de entrada deste, está escrito: lasciate ogni speranza, voi ch’entrate, ou seja, deixai qualquer esperança, vós que entrais.

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Que essa tremenda mensagem fique distante de nossas vidas. Para isso, se possível, deixemos para trás desavenças e desconfortos que, infelizmente, pautaram tantos momentos do ano, e olhemos com confiança os dias do novo tempo que desponta no horizonte. Afinal, na vida somos convocados para a paz, não para a guerra, embora nossas línguas, quais rifles com lunetas, estejam sempre prontas a disparar. Antes de tudo, então, transformemo-nos em templos de serenidade, de respeito, de amor ao próximo. Relembrando São Francisco, “fazei-nos, Senhor, instrumentos de vossa paz”.

Estamos num momento de balanço, não de bens materiais, de estoques, mas de quanto colocamos na balança de nossa vida. O que o ano nos trouxe de bom, de agradável, de felicidade. O que deixamos de cumprir ou quantas perdas registramos durante os dias que o calendário está por encerrar. Ganhamos e perdemos amigos, pessoas queridas; convivemos com a saúde e, quem sabe, com doenças e outras tristezas; aprendemos, ou não, as lições de tolerância e respeito diante dos cenários com os quais nos deparamos. São tantos eventos que, às vezes, não nos damos conta da complexa dança da vida.

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Fiquem na lembrança as grandes graças, as vivências felizes, fiquem no passado as nossas amarguras. Que no novo ano caminhemos unidos, como nos apontou Drummond em seu poema “Mãos dadas”: “… o presente é tão grande/ Não nos afastemos, vamos de mãos dadas […] O tempo é minha matéria, o tempo presente, os homens presentes/ A vida presente”.

Que o novo ano seja uma bênção e uma suave vereda para todas as pessoas de boa vontade!

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