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FORA DE PAUTA

Vamos dançar

O que vale mais? O esforço ou o resultado? É uma pergunta que pode aparecer em incontáveis momentos da vida, mas nada como uma competição esportiva envolvente, como a Copa do Mundo, para deixar isso mais em evidência. O futebol, pelo seu alto grau de imprevisibilidade – o favorito só ganha em 50% das vezes –, se presta muito a esse dilema. Se o favorito perde, significa que seus jogadores se dedicaram menos? Menosprezaram o adversário? E se o mais fraco triunfa? Entregou-se mais ao jogo, superando suas limitações? Questões que acabam aparecendo menos em modalidades como o basquete, em que a chance de vitória da melhor equipe chega a 70%.

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Bastou o Brasil ser eliminado da Copa para a Croácia para começarmos a questionar o comprometimento da nossa seleção. Quem não recebeu nas redes sociais e em grupos de WhatsApp mensagens comparando Neymar e outros a jogadores da Argentina e da França, insinuando que os brasileiros não perderam para a Croácia e sim para suas tatuagens, cortes de cabelo e “dancinhas”? Nesse caso, estamos criticando o seu esforço ou o fato de não terem obtido o resultado que esperávamos? Se eventualmente tivessem sido campeões, as dancinhas estariam perdoadas, ou até esquecidas?

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Ora, somos brasileiros, e mestiços. Nossa população é majoritariamente parda – 47% das pessoas se declararam assim ao IBGE em 2021. A maioria dos jogadores de futebol que obtiveram sucesso suficiente para estarem na nossa seleção não pertence a etnias que colonizaram certos pontos do Brasil, especialmente o Sul. Então é mais provável que demonstrem sua alegria na hora do gol com os ritmos populares nas periferias, que têm uma cultura consistente e já reconhecida até no exterior. O que suscita mais uma pergunta: por que a alegria de quem vem de certos estratos sociais irrita tanto?

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Imediatamente ao receber os comentários sobre as dancinhas brasileiras – como a famosa “do pombo” –, me perguntei se os jogadores da Bélgica também tinham dançado após os gols. Saíram ainda na primeira fase. Aliás, como os alemães, sempre lembrados quando se fala em seriedade. Também se “balançaram” ridiculamente? Na Copa de 2014, certamente que sim. Os vídeos das “performances” de nomes nada brasileiros – como Schweinsteiger e Podolski – muito circularam naquela época. Bom, talvez por isso tenham vencido o Brasil por 7 a 1, no 8 de julho de amaldiçoada memória. Pode ter faltado seriedade e respeito.

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Quem sou eu para dizer por que perdemos a Copa? Faltou seriedade? Nossa preparação foi insuficiente? O técnico não estava à altura? Fomos frágeis psicologicamente? Nossa qualidade técnica já não é mais a mesma? Ou foi uma soma de tudo isso? Não sei, mas certamente não fomos vitimados pela alegria.

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