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Tradição que se renova

Cinco histórias que revelam que a Páscoa é esperança

Algumas famílias viverão pela primeira vez a celebração da Páscoa de forma diferente. O isolamento social – prerrogativa para evitar o avanço da pandemia do novo coronavírus – faz com que as atividades tornem-se mais intimistas. Ao invés de mesas grandes, com vários pratos postos, caça ao ninho no quintal e rodas imensas de chimarrão no domingo ensolarado, neste ano a comemoração ocorrerá em pequenos núcleos. Empatia, solidariedade, amor, doação e esperança serão os ingredientes no cardápio deste final de semana. Para mostrar que o sentimento que deve predominar entre as famílias é a esperança, a Gazeta do Sul mergulhou em cinco histórias diferentes. Razões que fazem crer que o momento é propício à reflexão, e que esta Páscoa poderá ser um tempo de recomeço e de fé, independente da crença de cada um.

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Do amor ao próximo

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Em janeiro deste ano, a jovem Mariane da Rocha, de 17 anos, decidiu empreender. Criou uma empresa de brigadeiros e atua na área da confeitaria. Para a Páscoa, Mari criou ovos trufados e recheados. Comercialmente foi um sucesso, pois todos foram vendidos antes da data. Com parte do lucro que ela obteve com as vendas, a pequena empresária decidiu distribuir presentes aos mais carentes. Com apoio da mãe e de tias, montou 20 kits para crianças carentes. “Foi o que deu para fazer com meus recursos. Infelizmente, não consegui mobilizar mais doações, mas, pelo menos, para estas crianças, a Páscoa não será sem o doce do chocolate”, revelou.

A família de Mariane é envolvida com a causa de pessoas carentes. Fazer o bem é um ensinamento da avó Geni, replicado pela mãe Margarete, que floresceu na ação da jovem. “A gente sempre pode fazer algo de bom na vida de alguém. Sabemos que a situação não está fácil, nem para nós. A crise está grande, mas o amor é na mesma medida”, ensinou. Neste domingo, os doces de Mariana irão alegrar 20 crianças que ela encontrou pelas redes sociais. “Eu sei que é pouco, mas é a minha contribuição.”

Mariane na confecção dos kits de Páscoa: 20 crianças beneficiadas

Do estar em família

Para muitas famílias, o isolamento social está sendo uma oportunidade de ressignificar a data da Páscoa e encontrar novas maneiras de estar junto e confraternizar. Na residência da bancária Nayara Braga Barreto Giovanaz, no Condomínio Belle Villa, este foi o primeiro ano em que a família pintou os ovos para esperar o coelhinho. Natural de Goiás e casada com o gaúcho Darci Giovanaz, mora há seis anos em Santa Cruz do Sul, onde nasceram seus dois filhos: Miguel, de 5 anos, e Joaquim, de 1 ano.

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Devido à quarentena e diante da possibilidade de estarem mais juntos em casa, os momentos familiares têm proporcionado novas experiências para os pequenos. “O Miguel está na expectativa para esperar o coelho e pintou ovos para dar para os amiguinhos. Vamos colocar confetes dentro”, contou. Mesmo em isolamento, neste domingo também terá caça aos ninhos e muito amor entre os pais e os pequenos – o voo do restante da família goiana foi cancelado, devido ao vírus. “Vamos tentar manter ao máximo o espírito da Páscoa e o encantamento das crianças”, explicou Nayara.

Os irmãos Miguel e Joaquim na pintura das casquinhas de ovos

Do ser o “coelhinho”

A empreendedora Tamires Vogt e sua filha Lauren Vogt Mello, de 6 anos, também terão um domingo diferente neste ano no apartamento onde moram, no Bairro Arroio Grande. “Essa Páscoa está completamente diferente de todas as outras. Um pouco da magia da troca e da caça aos ovos nas casas de dindas e primas infelizmente não vai poder acontecer. Mas não podemos deixar que as crianças não se envolvam com todo este momento muito lúdico para elas, que já estão longe de toda uma rotina”, destacou. A Páscoa será vivenciada entre as duas, em casa, onde a produção de chocolate já começou.

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É a menina que se encarrega do feitio das guloseimas, sempre com o auxílio da mãe. “Aqui a produção do coelho ficou por conta da Lauren, tendo em vista que o coelho também precisa manter o isolamento”, brincou. A pequena ganhou de uma dinda um brinquedo chamado fábrica de pirulitos de chocolate, que está sendo utilizado para adoçar a Páscoa. “A ideia inicial era fazer um para cada colega de aula e levar para presentear na escola. Com essas mudanças, infelizmente, vamos deixar para fazer novos no retorno das aulas. De momento, a produção será para nós mesmas.”

Lauren “ensina” a mãe Tamires a fabricar os pirulitos na sua máquina

Da família menor

Os agricultores Daniela Eckhardt e Darceli Kramer moram em Monte Alverne, no interior de Santa Cruz do Sul, com os três filhos: Ellin Thaíse Kramer, de 15 anos, Gustavo Henrique Kramer, de 7, e Artur Miguel Kramer, de 4 anos. Em anos normais, a família sempre se reuniu com os demais parentes para um domingo inteiro de programação pascal, com almoço e café da tarde. “Com a situação que estamos vivendo hoje, vamos ter de mudar a programação”, contou Daniela. Até mesmo a produção de chocolates da empreendedora precisou ser pausada. Com incentivo da Emater/RS-Ascar, a produtora rural aprendeu a fazer ovos de Páscoa em um treinamento realizado em sua localidade. Somente no ano passado, vendeu 140 unidades, entre ovos redondos e para comer de colher. “Neste ano não fiz propaganda por causa da atual situação que estamos vivendo. Não sabia se alguém iria querer e se iria conseguir entregar caso a situação tivesse se agravado para nossa região.” As poucas encomendas para esta Páscoa vieram da vizinhança, além dos produtos feitos para o consumo próprio. Mesmo de maneira diferente, Daniela destacou que a Páscoa será mantida em sua família, principalmente os sentimentos que norteiam a data.

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Família Eckhardt-Kremer: Pácoa diferente, sem muitos convidados

Do renascimento

Esperança é a confiança de que algo de bom acontecerá. Na vida da recicladora Ana Luiza da Rosa Rocha, moradora da Rua das Carrocinhas, no Loteamento Beckenkamp, em Santa Cruz, esperança é o combustível que a faz levantar da cama todos os dias. A dificuldade financeira é mais forte na vida dela, do marido e dos irmãos, todos da atividade de catar, separar e vender material para reciclagem. A renda familiar despencou nos últimos dias. “Não podemos sair para a rua. Sem sair de casa, não temos como receber.”

O pai de Ana Luiza, Marino Franco Rocha, calejado com a tarefa de alimentar Ana e os sete irmãos, durante muitas Páscoas, explica que a esperança nunca acaba. “Sempre vivemos com muita dificuldade e esta situação irá passar, a gente sabe disso.”

Na casa da família a fé nunca se ausenta. Ana Luiza diz que a filha, Carolin Beatriz Rocha, de 7 anos, todos os dias passa a maior parte do tempo no lado de fora, na rua. “Estes dias eu disse: venha para dentro de casa, está frio. Ela me respondeu que não. Precisava ficar do lado de fora, pois se alguém chegasse à Rua das Carrocinhas para fazer
uma doação, ela não queria perder.”

Ana Luiza e Carolin com seus familiares: à espera de doações

O sentido da Páscoa
Para as religiões cristãs, a Páscoa acaba sendo o período mais importante dentro das celebrações e dos ritos de fé e de oração. O padre Roque Hames diz que os cristãos precisam encarar este momento como a própria história do cristianismo a narra em suas escrituras. “Precisamos pensar que depois da morte de Jesus vem o renascimento. Naquele tempo, poucos tiveram a esperança na ressurreição, mas ela aconteceu”, frisa. Conforme ele, a fé precisa vir acompanhada da esperança e, se essa morre, na Páscoa é que ela ressuscita.

O pastor Márcio Trentini, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), conta que o exemplo de doação de Jesus precisa estar firme na nossa vida e que o atual momento exige no mínimo uma reflexão sobre isso. “A Páscoa tem muito a dizer sobre a situação que vivemos. A Páscoa tem essa mensagem: da dor e do medo sairemos para a vida, para um tempo muito melhor”, compara.

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