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Efeitos do La Niña podem ir até o verão; veja os riscos para a safra

Foto: Alencar da Rosa

Construção de açudes é uma das formas de garantir abastecimento

O último relatório do Departamento de Meteorologia dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês) indica que os efeitos do La Niña, que começaram em julho de 2020, podem se estender até o verão de 2023. Um dos principais efeitos do fenômeno climático no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná é a irregularidade das chuvas. Isto é, as precipitações podem ter volume suficiente e até mesmo dentro da média, porém a distribuição irregular pode provocar períodos de estiagem entre uma chuva e outra.

Esses intervalos de tempo seco são preocupantes sobretudo se atingirem as culturas na fase de enchimento de grãos, quando estão menos resistentes ao estresse hídrico que pode causar quebra na produção, a exemplo do que ocorreu neste ano. Ainda que a dependência de chuva seja uma constante nos locais onde prevalece o sistema de sequeiro, os agricultores podem tomar algumas medidas para mitigar os efeitos da falta de água.

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Conforme Vilson Pitton, extensionista rural da Emater/RS-Ascar, uma das possibilidades é a instalação de reservatórios, como os açudes. No entanto, muitas propriedades não possuem o terreno adequado ou mesmo não têm recursos para a construção. Se o objetivo for usar essa água para a irrigação das lavouras, as infraestruturas precisam ter grande capacidade, de modo que se tornam inviáveis para os pequenos produtores. Para o consumo próprio e a dessedentação dos animais, as cisternas são uma boa alternativa.

Pitton explica que o manejo correto do solo é uma prática possível para todos e que garante bons resultados para mitigar a falta de chuva. O cultivo de plantas de cobertura e plantio direto na palha são algumas das ações que podem ser tomadas. “Quanto menos exposto e revolvido o solo estiver, mais capacidade de armazenar umidade ele terá”, destaca. Ele chama a atenção ainda para a descompactação. “Nos períodos de precipitação, a água consegue se infiltrar e fica armazenada no solo.” Com isso, os vegetais conseguem se desenvolver adequadamente mesmo com pouca chuva.

A Prefeitura de Santa Cruz do Sul também atua para auxiliar os produtores rurais. Do início de 2021 até setembro deste ano, foram abertos pela Secretaria Municipal da Agricultura 272 açudes e aguadas nas propriedades do município. Foram entregues ainda 160 cisternas – cem delas com capacidade de 5 mil litros e outras 60 de 10 mil litros. Já a pasta do Meio Ambiente, Saneamento e Sustentabilidade perfurou cinco poços artesianos, mas apenas dois tiveram sucesso na captação de água: um em Linha Brasil e outro em Linha Arroio do Tigre.

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Para o primeiro semestre de 2023, a secretaria pretende perfurar novos poços em Alto Paredão, Paredão São Pedro e Cerro Alegre Alto, enquanto uma captação de superfície será executada em Entrada São Martinho. Houve ainda a ampliação das redes hídricas das localidades de Travessão Dona Josefa, Quarta Linha Nova, Linha Antão, Linha Sete de Setembro, Cerro Alegre Alto e Linha Chaves.

Armazenamento para enfrentar a estiagem

Ângela quer ampliar produção e por isso aumentou as reservas de água | Foto: Alencar da Rosa

Uma das beneficiadas pelo programa de abertura e ampliação de açudes da Prefeitura é a agricultora Ângela Frantz. Ela investiu na produção de frutas em sua propriedade, localizada em Quarta Linha Nova Baixa, e no início deste ano sofreu com os efeitos da estiagem nos pomares. Assim, quando teve a oportunidade por meio da parceria com o Município, decidiu ampliar a capacidade de armazenamento de água para garantir a produtividade e a qualidade das culturas no próximo verão.

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As espécies cultivadas são, em maioria, as cítricas, como laranja, limão e bergamota, mas há também figo e pêssego. “O nosso objetivo é plantar cada vez mais e é por isso que decidimos aumentar o açude. Dessa forma teremos água suficiente para molhar as plantas se houver uma nova seca.” Ela explica que os vegetais plantados há pouco tempo necessitam de umidade adequada para que se desenvolvam de forma ideal, enquanto as que estão produtivas demandam o recurso para ter uma produtividade satisfatória.

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O grande sonho de Ângela, porém, é ingressar no cultivo de morangos. “Para isso também precisaremos de água e, se for o caso, há espaço para ampliar ainda mais o açude”, ressalta. Apesar de reduzido em tamanho, com dimensões de 6 metros de largura por 10 metros de comprimento, o reservatório tem boa profundidade, sendo capaz de resistir à incidência dos raios solares e à evaporação da água por mais tempo.

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SOS Estiagem

Os agricultores afetados pela seca no Rio Grande do Sul podem obter auxílio do governo do Estado por meio do SOS Estiagem. O programa garante R$ 1 mil por família enquadrada nos seguintes grupos: assentados da reforma agrária, povos e comunidades tradicionais, quilombolas, indígenas e ribeirinhos.

Todos devem possuir inscrição ativa no Cadastro Único até 29 de março de 2022. O beneficiário deve estar inscrito no CadÚnico como residente no meio rural de um dos 416 municípios gaúchos que tiveram situação de emergência homologada em função da estiagem até 31 de março de 2022.

Os dados da Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) indicam que esse primeiro grupo abrange cerca de 14 mil famílias em todo o Estado. Com o avanço para a próxima etapa, que passará a incluir também os agricultores familiares, a expectativa é atender 69 mil famílias. Vale ressaltar que residentes da zona urbana e pescadores não têm direito ao benefício.

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