Chega outubro, mês das crianças, e alguns mantêm o hábito de trocar a foto de perfil nas redes sociais. Por uma imagem infantil, claro. Já pensei em participar dessa celebração nostálgica, mas nunca achei uma foto colorida da minha infância, então desisti.
Já não lembro que tipo de criança eu fui, se feliz ou melancólica, ou nem uma coisa nem outra. Certamente vivi a alegria dos inícios, numa época em que todas as estradas são de ida e qualquer plano parece possível. Por vezes, ser criança é um pouco como estar apaixonado: as cores parecem mais vivas, a luz é mais intensa. Nos melhores dias, é como se a vida fosse uma banda de música tocando para você.
LEIA TAMBÉM: Escrever para quê?
Publicidade
Lembrei agora de Janusz Korczak, porque essa frase da banda é dele. Korczak (1878-1942) foi um médico pediatra, pedagogo e escritor polonês, precursor de iniciativas em prol dos direitos da criança.
Quando eu voltar a ser criança é o título de um de seus livros, misto de ficção e texto de memórias. O narrador, um professor de meia-idade nostálgico, retrocede magicamente no tempo: torna-se outra vez menino, mas com toda a bagagem e lembranças de adulto. Durante alguns dias, vive essa insólita experiência e acaba comprovando que a infância – mesmo a de um garoto de classe média, no caso – não é tão idílica assim. Sim, os bons momentos existem. Mas também há a incompreensão dos adultos, ofensas e violências arbitrárias, autoritarismo, pequenas e grandes humilhações que as crianças devem suportar quietas.
LEIA TAMBÉM: O voto é sagrado e livre
Publicidade
Impossível esquecer que no Brasil, hoje, a infância é cruelmente vilipendiada, abreviada por maus-tratos e abusos cada vez mais frequentes. Há uma perversidade extrema que não se detém diante de nada, nem mesmo dos mais indefesos, e o próprio Janusz Korczak foi testemunha desse mal. Diretor de um orfanato com 200 crianças judias em Varsóvia, ele e seus protegidos foram enviados ao campo nazista de Treblinka, em 1942. Todos morreram.
Contam que Korczak teve a chance de sair da Polônia e sobreviver, mas recusou-se a abandonar os órfãos. O que ele deixou, em atitudes e palavras, foi uma lição para o mundo adulto: ter a capacidade de elevar-se até alcançar o nível de sentimentos das crianças.
VEJA MAIS TEXTOS DO COLUNISTA LUÍS FERNANDO FERREIRA
Publicidade
Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!