Na semana em que se comemora o Dia das Crianças, a Gazeta do Sul traz uma entrevista com a neuropsicopedagoga Melissa Hohgraefe e com a psicopedagoga Deise Catarine Schuck. Elas explicam os benefícios e a importância da aprendizagem na primeira infância.
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- Quando começa a aprendizagem?
Os movimentos de aprender ainda se dão no útero materno. O neurodesenvolvimento acontece entre a terceira e a sexta semana de gestação. A aprendizagem modifica o cérebro para sempre, ativa o ato de procurar e encontrar, circuitos de recompensa, uma vontade voraz de buscar, descobrir, o desejo. As experiências constroem sentido, significado. O lúdico se caracteriza como uma forma de acessar o cérebro por várias vias sensoriais, nosso cérebro adora brincar, acionando o sistema límbico, as emoções são contagiantes. A ação, a experimentação ativam os esquemas mentais. - De que forma ela acontece?
A aprendizagem acontece na relação de afeto e linguagem que o outro estabelece com esse bebê, criança, adolescente, proporcionando um tempo de qualidade para o contexto vivido. Muito tem se falado da importância da aprendizagem na primeira infância. O formato social em que estamos inseridos nos convoca a delegar essa tarefa às instituições escolares, pois desde muito cedo os bebês estão em contato com a aprendizagem por essa via.
Isso não significa que a função dos pais seja diferente do que foi em outros tempos, muito pelo contrário. Além de dedicar tempo ao trabalho e tudo mais que envolve o universo adulto, é primordial para o desenvolvimento das crianças que seus responsáveis destinem diariamente tempo de qualidade para ver, perceber, validar e impulsionar o desenvolvimento e a aprendizagem desses pequenos seres humanos. A escuta, o diálogo, o brincar, o estar presente nos momentos das refeições e rotinas diárias, sem distrações como eletrônicos e outros estímulos, é fundamental para os bebês, as crianças, os adolescentes e até mesmo para os adultos envolvidos nessa relação. - Quais os benefícios da aprendizagem na primeira infância?
Os primeiros anos de vida são repletos de janelas de oportunidades, uma predisposição e abertura aos estímulos do contexto. Os benefícios podem ser observados ao longo da vida, pois são o alicerce que dará sustentação para as demais vivências que o sujeito vai estabelecer em sua trajetória. - Por que é preciso estimular a capacidade cerebral nessa fase?
Devemos ter clareza de que toda interação, comunicação e tempo de qualidade com o bebê pode ser considerada um estímulo para a capacidade cerebral e psicossocial, e que inicialmente é essencial dar sentido e significado para os movimentos e sons que esse bebê produz.
As capacidades sensoriais, como visão, audição e linguagem, estão em pleno desenvolvimento e as conexões neurais são inúmeras desde muito cedo. Portanto, incentivar esse bebê a imitar ações dos outros, como o som do estalo da língua, abrir e fechar a boca, piscar, mover alguma parte do corpo, nomear essas partes é fundamental para o estímulo da capacidade cerebral. A interação e a linguagem são constituintes. - Como pais e educadores devem agir nessa fase?
Os adultos de referência precisam ter muita presença, acompanhar as crianças em suas descobertas e estar atentos ao emocional também. Através do diálogo olho no olho, com atenção e respeito, construir relações que possibilitem a ampliação das relações na escola. O tempo de qualidade é muito importante, garantindo vínculos fortes, consideração e amor.
O brincar é essencial para a constituição subjetiva e para o desenvolvimento do sujeito. Desde muito pequeno o bebê já brinca, por exemplo, as brincadeiras de esconder o rosto, encostar o rosto no outro, as imitações de gestos simples. Assim vamos sutilmente e significativamente ampliando as capacidades de percepção, memória, linguagem, interação e flexibilidade cognitiva, fazendo a base para as demais aprendizagens que acontecem ao longo da vida. Através do brincar, o bebê e a criança pequena terão contato com a frustração, com o erro, com a possibilidade de elaboração e compreensão de que esses aspectos fazem parte da vida. - E o que se deve evitar?
Viemos de uma geração que respeitava muito a autoridade dos adultos, sem questionamentos. Atualmente, estamos construindo relações mais horizontais com negociações possíveis. Mas a importância do limite, da regra nunca pode ser esquecida. As habilidades sociais se desenvolvem no lar como laboratório para posterior expansão para a sociedade, escola. O distanciamento pela tecnologia precisa ser avaliado. Nos momentos de refeições, convém manter aparelhos desligados, promovendo o estar junto, conviver, conversar, conhecer. A tolerância diante da frustração também precisa ser um exercício constante, construindo noções de empatia, com base na orientação e acompanhamento.
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