A lista de candidatos a vice-presidente este ano inclui um general da reserva do Exército, um ex-governador, uma senadora tetraplégica e a vice-prefeita da quinta maior cidade do País. Entre os 11 postulantes ao segundo cargo mais alto da República, estão ainda um deputado de 36 anos e um economista de 77. Embora não costume receber tanta atenção do eleitorado nas campanhas, a história brasileira mostra que, com alguma frequência, os vices se tornam protagonistas da vida pública.
Segundo o advogado Ricardo Hermany, professor de Direito Constitucional da Unisc, diferentemente de países como Estados Unidos e Argentina, onde o vice acumula atribuição de presidente do Senado, no Brasil a única função formal do cargo é substituir o presidente. “Constitucionalmente, o vice compõe o Conselho da República e o Conselho de Defesa Nacional. Em situações extremas, é chamado a opinar, mas a decisão é do chefe de Estado e de governo.”
Hermany lembra, no entanto, que é comum os vices receberem tarefas específicas, por decisão dos presidentes. O atual vice, Hamilton Mourão, por exemplo, foi incumbido de coordenar o Conselho da Amazônia, órgão criado para combater os desmatamentos.
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Apesar disso, é equivocado acreditar que o vice é uma função irrelevante. Somente no período democrático atual, iniciado em 1985, os vices ascenderam à Presidência em três ocasiões. Em 1985, José Sarney assumiu em função da morte de Tancredo Neves, que nem sequer chegou a tomar posse. Já em 1992, Itamar Franco tornou-se presidente diante do impeachment de Fernando Collor de Mello. O mesmo ocorreu em 2016, quando Michel Temer substituiu Dilma Rousseff após a deposição dela.
Segundo o cientista político Rudá Ricci, a escolha do vice, na maioria das vezes, reflete o conjunto de forças que está por trás de um grupo político, o que influencia na condução dos governos. Na eleição presidencial atual, a presença de um general na chapa de Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, indica que os militares manterão influência em um eventual segundo governo. Já o vice de Lula (PT), por ser um egresso do PSDB de São Paulo, tende a incorporar à gestão ao menos uma parte da agenda empresarial, que tende ao liberalismo, em caso de vitória.
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Bom vice soma votos, diz especialista
Do ponto de vista eleitoral, a escolha do vice se justifica pela capacidade de arregimentar votos que o cabeça de chapa não consegue. É comum vices serem indicados por conta de ligação com algum segmento social ou região específicos. “Se o candidato a presidente tem mais votos femininos, o vice deveria atrair mais votos masculinos; se o titular está mais à esquerda, o vice deveria estar mais à direita; se o titular tem mais votos no Nordeste, o vice teria que atrair votos no Sudeste, e assim por diante”, explica Rudá Ricci.
Quem são os vices
Ana Paula Matos (PDT)
- Presidenciável: Ciro Gomes (PDT)
- Naturalidade: Salvador (BA)
- Idade: 44 anos
- Ocupação: servidora pública federal
- Estado civil: casada
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 1,2 milhão
- A importância: vice-prefeita de Salvador, foi escolhida principalmente como forma de aproximar a chapa do eleitorado feminino. Também pesou o fato de já ter atuado na área da Educação e de possuir base no Nordeste.
Braga Netto (PL)
- Presidenciável: Jair Bolsonaro (PL)
- Naturalidade: Belo Horizonte (MG)
- Idade: 66 anos
- Ocupação: militar reformado
- Estado civil: divorciado
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 1,6 milhão
- A importância: general do Exército, foi ministro da Defesa e da Casa Civil do governo Bolsonaro. Além de representar o vínculo do atual presidente com o militarismo, pesou na escolha o fato de ser de Minas Gerais, colégio eleitoral considerado chave na disputa presidencial.
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Geraldo Alckmin (PSB)
- Presidenciável: Lula (PT)
- Naturalidade: Pindamonhangaba (SP)
- Idade: 69 anos
- Ocupação: médico
- Estado civil: casado
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 1 milhão
- A importância: com uma longa trajetória no PSDB, pelo qual concorreu duas vezes a presidente, foi escolhido como forma de aproximar a chapa do empresariado e de setores mais ao centro. Também pesou o fato de ser ex-governador de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil.
Mara Gabrilli (PSDB)
- Presidenciável: Simone Tebet (MDB)
- Naturalidade: São Paulo (SP)
- Idade: 54 anos
- Ocupação: publicitária
- Estado civil: solteira
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 12,8 milhões
- A importância: senadora desde 2019, foi escolhida com uma motivação simbólica: compor a única chapa 100% feminina da eleição. Seu nome também representa a pauta da inclusão social, uma vez que é tetraplégica e defensora dos direitos das pessoas com deficiência.
Marcos Cintra (União)
- Presidenciável: Soraya Thronicke (União)
- Naturalidade: São Paulo (SP)
- Idade: 77 anos
- Ocupação: professor de Ensino Superior
- Estado civil: casado
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 12,5 milhões
- A importância: é conhecido por defender há vários anos a proposta de criação de um imposto único no Brasil, que se tornou o carro-chefe da campanha. Com isso, a frente busca vender a ideia de desburocratização e simplificação.
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Tiago Mitraud (Novo)
- Presidenciável: Felipe D’Ávila (Novo)
- Naturalidade: Brasília (DF)
- Idade: 36 anos
- Ocupação: administrador
- Estado civil: solteiro
- Grau de instrução: superior completo
- Patrimônio declarado: R$ 1,9 milhão
- A importância: embora seja de Brasília, é deputado federal por Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do País. Jovem, tornou-se um dos principais expoentes de movimentos de vocação liberal nos últimos anos.
Os demais vices
- Antonio Alves (PCB), vice de Sofia Manzano (PCB)
- Pastor Gamonal (PTB), vice de Padre Kelmon (PTB)
- Professor Bravo (DC), vice de Constituinte Eymael (DC)
- Raquel Tremembé (PSTU), vice de Vera Lúcia (PSTU)
- Samara Martins (UP), vice de Léo Péricles (UP)
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