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De olho no futuro, Vale do Rio Pardo trilha o caminho da diversificação turística

Oktoberfest atrai milhares de pessoas para Santa Cruz do Sul com diversas atrações e voltará ao formato de festa tradicional neste ano

O mapa turístico do Rio Grande do Sul é dividido em 11 grandes regiões e 23 microrregiões. Um desses agrupamentos menores compreende o Vale do Rio Pardo. São 22 municípios, somando 414.240 habitantes, com Produto Interno Bruto (PIB) que supera os R$ 9 bilhões.

Essa área tem como referência o segmento do turismo de eventos. O motivo da classificação torna-se óbvio quando observado o calendário anual. É na região que ocorrem, por exemplo, a Oktoberfest, em Santa Cruz do Sul; a Festa Nacional do Chimarrão (Fenachim), em Venâncio Aires; a Festa do Cavalo e Relincho da Canção Nativa, em Pantano Grande; a Festa Industrial, Comercial e Agronegócios (Expocande), em Candelária; a Festa Estadual do Feijão, em Sobradinho; a Gincana Municipal e a Festa da Produção, em Vera Cruz; Expoagro, em Rio Pardo; entre outros atrativos.

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Os eventos representam importante movimentação de público e renda, fazendo com que a rede hoteleira tenha maior ocupação e inserindo recursos extras na economia local. Só a Oktoberfest, no ano passado, ainda sob regras restritivas em decorrência da pandemia de Covid-19, recebeu 36,5 mil visitantes. Há, no entanto, possibilidade e interesse de fomentar outras áreas do turismo, que possam incrementar a diversificação de renda do setor de turismo, sobretudo, avançando no que é a principal característica dos municípios da região: ter ampla área produtiva e rural.

Marquardt: oportunidades para o setor | Foto: Alencar da Rosa

Para melhorar os resultados, porém, é preciso fazer com que os empreendedores reconheçam o mercado do turismo rural como viável. A afirmativa é do presidente da Associação de Turismo da Região do Vale do Rio Pardo (Aturvarp), Djalmar Ernani Marquardt. Ele comanda a entidade que completa 25 anos em 2022 e congrega 14 municípios: Candelária, Encruzilhada do Sul, General Câmara, Herveiras, Mato Leitão, Pantano Grande, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol, Vale Verde, Venâncio Aires e Vera Cruz.

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Nas duas décadas e meia de incentivo à prática turística, a Aturvarp já conseguiu, em parceria com empresas, entidades e prefeituras, criar roteiros com diferentes focos e destinos. Seis já estão consolidados, como a Rota Caminho dos Tropeiros, a Rota do Chimarrão, o Roteiro Caminhos da Imigração, a Rota Germânica do Rio Pardinho, o Roteiro Verde Vale do Turismo Rural e ainda o Sinimbu de Encantos Mil.

Entre setembro e outubro, ainda com data a ser definida, será lançada oficialmente a sétima opção: o Circuito de Cicloturismo Raízes Coloniais do Vale do Rio Pardo. Com trajeto autoguiado, permitirá que sejam percorridos cerca de 310 quilômetros, em nove cidades: Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Vale do Sol, Herveiras, Sinimbu, Venâncio Aires, Passo do Sobrado, Vale Verde e Rio Pardo.

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Reforço dos setores público e privado no turismo

Assim como tem a intenção de incentivar o ingresso e a qualificação do empreendedor do setor privado, a Aturvarp entende como desafio o convencimento dos gestores públicos de que esse é um setor com potencial retorno. A intenção é levar empresários para dentro da entidade para que acompanhem as reuniões e apresentem novas oportunidades ao setor.

Quanto às prefeituras, Marquardt vê que é possível ampliar a reserva de recursos nos orçamentos públicos para o fomento. “Queremos sensibilizar os gestores municipais da região para que destinem maiores fatias ao setor e que invistam cada vez mais na infraestrutura e capacitação”, afirma.

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Santa Cruz do Sul, por exemplo, tem projetado investimento de R$ 22.437.104,78 dos quase R$ 600 milhões previstos para este ano. Desse valor, R$ 17 milhões vão para o centro de eventos. O restante tem aplicação diversa.

É possível, a partir da união do poder público e da iniciativa privada, focar as parcerias e os serviços oferecidos. “A região tem diversas peculiaridades, que são grandes atrativos para os turistas, seja na história, na cultura, na gastronomia ou nas belezas naturais. É importante capacitar os destinos para que tenhamos maior infraestrutura, mais empreendimentos turísticos para que a nossa oferta seja ainda mais atrativa para as agências”, frisa.

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Acrescenta que a Aturvarp tem iniciativas como a parceria com o Sebrae, que deve auxiliar a atingir objetivos estratégicos. “Vamos promover um encontro regional em 25 de agosto, em Vale Verde”, adianta. O tema será Turismo e oportunidades nos Vales. O encontro é aguardado com expectativa pelos organizadores. Segundo ele, trata-se de um momento especial em que será possível colocar lado a lado empreendedores e dirigentes ligados ao setor. A partir desse momento, espera-se que outras atividades semelhantes passem a ser realizadas em caráter regional.

Exemplos de fora motivam investimentos regionais no turismo

Um sonho antigo da família de Luciano Greiner passou a ser realidade com a instalação do Rancho da Coxilha, em Sinimbu. O proprietário lembra que esteve em Lages, Santa Catarina, na década de 1990 e visitou uma fazenda com ovelhas, cavalos e bovinos. “Lá eles fazem as atividades normais da propriedade durante a semana e, nos finais de semana, recebem o público em chalés que podem ser locados”, conta.

Em Sinimbu, uma área proporciona belas paisagens e muito contato com a natureza | Foto: Fábio Cunha/Divulgação

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A experiência o motivou a adquirir uma área para fazer algo semelhante. Atualmente, metade da propriedade, com 53 hectares, é dedicada ao reflorestamento, com plantação de eucaliptos, mas o carro-chefe é o tabaco. Os animais são destinados apenas para o sustento familiar.

A implantação de uma estrutura com capacidade para receber visitantes demorou, porque não havia capital suficiente para fazer as adaptações necessárias. “Pegava a sobra de receita da safra, a cada ano, e investia. Foram oito ou nove anos para construir”, explica. Dessa forma, conseguiu erguer o complexo. Agora, está na expectativa de ampliar a ocupação, confiando na formação do turista regional. “Quem está na cidade, muitas vezes, vive com grande carga de estresse e quer conhecer o meio rural, também”, reflete.

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Greiner entende que é possível associar-se aos atrativos que Sinimbu tem, como o Salto do Rio Pardinho. Vê que o público pode ir no conhecido ponto turístico e aproveitar a hospedagem no rancho. “Podem vir e ficar, pois tem dormitórios, podem participar das atividades com animais, interagir”, explica.

A família aproveita o espaço, em meio à natureza e às ações campeiras, para estimular a religiosidade. Em um mirante será colocada imagem de Nossa Senhora Aparecida, devido à graça alcançada pelo primo, que passou 40 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), por causa da Covid-19.

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A experiência vai além. O visitante pode garantir o peixe em pesque e pague e também fazer colheita de frutas no pomar.

Atrativos para o público

O que parece apenas a manutenção do dia a dia de uma propriedade rural, no caso de Greiner, é o resultado da aplicação da qualificação por meio de parcerias com a Emater/RS-Ascar e a Prefeitura de Sinimbu. Isso fez com que fossem realizadas iniciativas de marketing, como a pesquisa, feita via Google, para identificação de potenciais clientes.

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Segundo o empreendedor, o turista é a pessoa que tem vencimentos em torno de R$ 5 mil mensais e viaja duas vezes por mês. E eles têm vindo. “Não sei se é só para agradar, mas quando vêm aqui em casa dizem que é muito bonito, além do clima agradável, porque está a 700 metros de altitude. É como a Serra, com 6, 7 graus a menos do que no centro de Sinimbu”, orgulha-se.

Sobre eventual frio, Greiner aproveita para vender o peixe. “É um clima ameno, mais para o frio, mas com bastante calor humano. E nada que uma lareira, um copo de vinho e uma coberta de lã de ovelha não aqueçam.”

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E quem aproveitou o espaço foi a família de Adriana de Araújo, de Boqueirão do Leão. Esteve no Rancho no último fim de semana de junho. “É um lugar de muita paz, tranquilidade. Perfeito para sair da rotina da cidade e interagir com a natureza e os animais”, enfatiza. Ela acredita que lugares como esse são alternativas aos tradicionais pontos turísticos, como praias e Serra, que têm agitação e inviabilizam o descanso. “Os locais de interior têm nos proporcionado descanso e paz”, acrescenta.

Vale Verde tem espaço que atrai pessoas de outros países

Vale Verde tem um local para hospedagem de visitantes que chama a atenção, inicialmente, pelo visual. Um domo geodésico, em meio à natureza, possibilita a interação que muitas pessoas da cidade buscam. O espaço foi adquirido com fim turístico, mas a forma como a estrutura seria montada não vingou. “A ideia era ter uma cabana, mas acabou não dando centro”, recorda o proprietário do EcoVale Experience, Lucas Knak. A esposa, Janice Meurer, sugeriu o formato de domo.

Local para hospedagem em Vale Verde tem diferenciais que impressionam os turistas

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O diferencial na estrutura passou a atrair a curiosidade dos turistas. Hoje recebem visitantes gaúchos, mas também já tiveram reservas do Paraná, São Paulo e até de franceses. As regiões Metropolitana e Serra são destaques nas reservas.

Os resultados no Vale, acredita Knak, podem ser melhorados. “Falta pegar os pretensos investidores no turismo, colocar em um ônibus e levar para ver outros espaços”, afirma. Como forma de mostrar o potencial local e buscar novas experiências, a Aturvarp tem garantido participação em eventos do setor. “A intenção é cada vez mais participar dos eventos dentro e fora do Vale do Rio Pardo, divulgando os nossos produtos”, reforça o presidente Djalmar Ernani Marquardt.

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Knak entende que a criação de linhas de crédito mais facilitadas para o setor também poderia representar ampliação de mercado. A ideia tem como base exemplos de pessoas que têm a terra e condição de adaptá-la, mas não contam com capacidade de financiamento; e há quem tenha a possibilidade de conseguir o crédito, mas a propriedade não se enquadra.

Alheio às dificuldades, o domo geodésico tem representado bons rendimentos para a família, viabilizando a plantação de uva e outros tipos de frutíferas, que se adaptam ao clima. Isso é possível também com o suporte das prefeituras de Passo do Sobrado e Vale Verde, que utilizam equipamentos para a manutenção das estradas de acesso. Assim, oportuniza-se emprego para três famílias, que fazem café, limpeza e o agendamento para os visitantes.

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E quem faz bom uso desses serviços são pessoas como o casal Eliana Aline Albrecht e Fabio Cunha. Moradores de Vera Cruz, eles aproveitaram a curta distância de casa e conheceram o EcoVale Experience. “O lugar é incrível, com uma paisagem belíssima, com vista privilegiada do nascer do sol”, destaca Eliana. Ela acrescenta que esse segmento do turismo agrada, porque proporciona a condição de privacidade e convívio com a natureza. Deu tão certo que outro domo já está sendo providenciado pelos proprietários.

Outros pontos turísticos da região

O Autódromo Internacional de Santa Cruz do Sul recebe eventos de categorias nacionais e internacionais, como a Stock Car, Fórmula Truck, GT 3, Brasileiro de Motovelocidade, entre outros. Também em Santa Cruz, há o Parque da Gruta, o Parque da Cruz e o Lago Dourado.

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A região conta ainda com os balneários Jaquirana, em Arroio do Tigre; Monte Alegre, em Vale Verde; Moraes, em Passo do Sobrado; Sítio Rancho Alegre, em Encruzilhada do Sul; e Porto Ferreira, em Rio Pardo; os prédios e locais históricos do município de Rio Pardo, um dos mais antigos do Estado.

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