“Eu era adolescente, e estava na época de escolher qual seria a futura profissão. Gostava muito de ler e achava a profissão de advogado muito interessante, porém não havia me decidido ainda. Foi quando meu pai leu para mim os Mandamentos do Advogado, do jurista uruguaio Eduardo Juan Couture (1904 -1956). São dez artigos, e o último me emocionou muito e me fez escolher o Curso de Direito.” Ao ouvir o trecho que falava sobre o amor e orgulho à profissão, Isabel Cristina Michels não teve dúvidas.

Hoje ela é advogada, assessora administrativa da Secretaria de Saúde de Santa Cruz do Sul e uma das três filhas do jornalista e advogado Lucio Michels, que completa 90 anos justamente na data alusiva ao profissional advogado.

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O dia 11 de agosto foi escolhido por marcar a criação dos dois primeiros cursos de Direito no Brasil, no ano de 1827. Na capital paulista, nascia a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, e na cidade de Olinda, em Pernambuco, acontecia a criação da Faculdade de Direito de Olinda. No Vale do Rio Pardo, a família Michels comemora o Dia do Advogado em dobro, pois o patriarca festeja o aniversário. Além da filha formada em Direito, são dois netos, sobrinhos e até o genro em atividade na área.

A sagacidade, a perspicácia e a inteligência de Lucio Michels são as principais características mencionadas por quem fala sobre ele. Catarinense, nasceu em Criciúma e veio ao Rio Grande do Sul para cursar o Seminário no município de Cruzeiro do Sul. Ainda adolescente, foi morar em Porto Alegre. Em 1956 veio para Santa Cruz do Sul, onde acabou trabalhando na Gazeta do Sul. Após marcar época com algumas colunas, que tratavam de política e atualidades, entrou para a Faculdade de Direito em 1970, onde se formou em 1975.

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Em virtude da formação, Lucio foi funcionário da Prefeitura de Santa Cruz do Sul. “Ele atuou como advogado assessorando vários prefeitos, como Elemar Gruendling, Arno Frantz, Armando Wink e Edmar Hermany”, conta a filha Isabel. Os estudos sempre foram uma prioridade para Lucio Michels. “Ele e a irmã saíram do interior para estudar para padre e freira. Era a única forma de seguir estudando, pois os pais não permitiam que os filhos avançassem além do primário, a não ser que fossem se preparar para ser padre ou freira.”

Satisfação e orgulho do avô colega de carreira

Os Michels são uma família da área jurídica. Lucas Michels Ilha, de 31 anos, é neto de Lucio e formou-se em Direito, mas atua no cartório em Pantano Grande. Apesar de não ter seguido a advocacia, como fez o irmão, Jônatas, ele sempre viu no avô grandes qualidades. Mesmo aos 90 anos de idade, o patriarca segue com a mente ativa, apesar de passar a maior parte do tempo em casa, no Bairro Country. “Ele sempre foi uma inspiração no sentido de ir além. De estudar, de fazer a diferença através da atuação na advocacia. Ele tinha uma biblioteca muito grande. Como trabalhou como jornalista na Gazeta e em outros jornais também, sempre me chamou a atenção essa escala entre Comunicação e Direito e lutar pela justiça, que é papel do advogado”, define.

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A influência de Lucio não se limitou à família. Benno Kist, que é jornalista da Editora Gazeta e assina uma coluna na Gazeta do Sul, trabalhou com ele na redação do jornal entre o final de 1974 e 1975. Na época, Michels tinha uma coluna bastante famosa, chamada Radar, que abordava assuntos políticos gerais. E foi de uma forma curiosa que o colega de trabalho de Kist “recrutou” mais um estudante para a área de atuação. “Eu estava me inscrevendo para Administração ou Contabilidade. Ele passou por mim pra ir pegar o diploma do Direito. Na época, os cursos eram no Pavilhão Central da Oktoberfest. A faculdade era ali, enquanto estavam construindo os prédios das Faculdades Integradas (Fisc). E ele me convenceu a fazer Direito, que seria mais relacionado ao Jornalismo. E foi muito importante pra minha vida”, conta Benno.

Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Subseção Rio Pardo, Jônatas Michels Ilha é o mais jovem a comandar uma subseção no Estado. Com 30 anos de idade, ele não esconde que, pelo tempo de atuação no Direito, o avô teve mais influência na carreira do que o próprio pai, que também foi advogado. “Nosso avô é uma referência para toda nossa família. Pelo exemplo, pelas histórias, pela postura. Uma pessoa íntegra, correta, comunicativa. Não por menos que foi advogado por profissão, comunicador social, jornalista do Grupo Gazeta. Sobre unir essas duas profissões, para nós especificamente, foi uma influência muito positiva na área do direito”, diz Jônatas.

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Os netos ressaltam que, apesar de não lidar com internet e redes sociais, Lucio segue ativo através dos jornais e da televisão, sempre atualizado sobre temas importantes, assim como fazia no período como jornalista. A leitura da Gazeta do Sul de hoje será uma espécie de “presente” para o profissional e ser humano de sucesso que foi Michels. “A principal lição do meu avô Lucio é esta: que a formação, a educação e o conhecimento do Direito não se limitam a leis e sentenças. Eles vão além, para a história, para a cultura e todo tipo de conhecimento. E que o advogado, o profissional, o estudante, precisa ter todo esse tipo de conhecimento para poder galgar espaço, seja no ambiente público ou no ambiente privado”, finaliza Jônatas.

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