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ALEXANDRE GARCIA

Pesquisas e ruas

O jornalista é, antes de tudo, um cético. Começo parafraseando a conhecida frase de Euclides da Cunha sobre o sertanejo. Na natureza do jornalista está o ceticismo, a incredulidade, tal como São Tomé. A ingenuidade e a credulidade são pecados no jornalismo. A priori, dúvida. Não pode aceitar um fato à primeira vista, como se fosse uma questão de fé. Corre o risco de ser usado. Digo isso para me justificar: não é má vontade com as pesquisas; é uma questão de racionalidade, em que a dúvida é o melhor aliado.

Tudo isso para dizer que não consigo me basear em pesquisas. Primeiro, porque elas já me enganaram, há menos de quatro anos. Se eu permitir que me enganem de novo, a culpa é minha. Estamos em agosto. No agosto de 2018, a pesquisa mais conhecida mostrava que Bolsonaro tinha a maior rejeição entre os candidatos; Witzel no Rio, Ibaneis no DF, Zema em Minas, eram azarões; Dilma estava eleita senadora pelos mineiros. Não sei por que milagre, o mais rejeitado dos candidatos acabou presidente da República.

Agora vejo pesquisas que entrevistam 2 mil, num universo de 156 milhões de eleitores. Quer dizer, a agência de pesquisa tem que descobrir 2 mil entrevistados em que cada um deles represente 78 mil eleitores. Explicam que é por um critério de amostragem. Para mim, é um milagre da ciência estatística. A propósito, aconselho ler o “Como Mentir com Estatística”, de Darrell Huff, lançado em 1954 e ainda hoje recomendado – por Bill Gates.

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Vejo investidores, banqueiros, empresários, fazendo planejamento para o ano que vem com base em pesquisas eleitorais. Pergunto se as pesquisas de mercado têm fornecido a eles caminhos seguros para apostarem no futuro. As pesquisas falam em margem de erro. Não consigo entender a matemática que dá um desconto de 5% ou 2% na psiquê do entrevistado. Não imagino que as agências estejam movidas pela intenção de apresentar um resultado de preferência ou interesse próprios. Apenas imagino como o método é carente de certezas. Para antecipar resultado eleitoral, prefiro o boca de urna. Tampouco consigo me convencer que alguém que era do PT dois meses antes da eleição tenha votado em Bolsonaro na hora de acionar o teclado da urna.

O mais difícil é acreditar que políticos estejam usando as pesquisas como réguas de programação de campanha. Só os ingênuos ou neófitos. Não o veterano político dotado, por natureza, de um instinto para povo, de um sexto sentido que lhe faz sentir o que o povo quer. Seria um populista, um demagogo? Provavelmente não. Pode ser um democrata, que sabe que o poder emana do povo e ausculta o que o povo quer, nos gritos, nas falas, nos gestos, nas vaias, nas ruas. No ceticismo jornalístico, vale o que vejo e não o que está escrito.

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