As heranças culturais dos imigrantes envolvem diferentes aspectos e costumes. Alguns deles, em razão das transformações sociais, acabaram ficando na memória das famílias. Outros, porém, seguem muito presentes no cotidiano dos moradores do meio rural. Em alguns casos, uma tradição se reflete em outra, proporcionando uma espécie de continuidade. É o que acontece, por exemplo, na propriedade da família Hirsch, moradora de Rio Pardinho. Lá o patriarca Ildo, de 65 anos, dedicou-se, assim como seus antepassados, à agricultura e à pecuária. No entanto, nunca produziu tabaco. Na lavoura, criava animais e produzia grãos como a soja. Com o tempo, contudo, viu que poderia ter outras possibilidades a partir da diversificação.
Foi nesse contexto, juntamente com a esposa, Lisane, 62, que seu Hirsch passou a plantar cana-de-açúcar para fazer melado, um alimento muito consumido no Nordeste, assim como em outras regiões brasileiras e do mundo. Também conhecido como mel de engenho, o produto é versátil. Pode ser consumido puro, passado no pão, utilizado na culinária e até na medicina popular.
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Para as famílias do meio rural do Vale do Rio Pardo, que são descendentes de imigrantes alemães, o melado é uma tradição. Não se tem ao certo registros de quando se popularizou, mas é conhecido há bastante tempo. E foi diante disso que Ildo Hirsch passou a investir na atividade com caráter comercial. Primeiro fazia, com poucos recursos, para vender em feiras rurais ou nas comunidades. Mas há 25 anos aconteceu algo que mudou sua trajetória. A receita, ele havia aprendido com um padrinho que fazia e lhe deu algumas orientações. “Foi aos poucos que passamos a fazer e depois aprimoramos a técnica”, conta.
Ao atender um cliente que atuava como fiscal da área sanitária, porém, tudo começou a mudar.
Naquela época, Hirsch e a esposa não dispunham de tecnologias suficientes e a atividade era desempenhada de forma um tanto limitada. “Lembro que ele – o cliente – disse que eu deveria me registrar para evitar problemas com a fiscalização”, conta. Aos poucos foi buscando orientações sobre o produto que, por mais popular que fosse, não dispunha de um guia com normas técnicas. Pesquisas e conversas com quem fazia foram importantes, assim como a orientação de órgãos ligados à saúde.
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O resultado foi que, superadas as etapas burocráticas, Ildo e Lisane Hirsch lançaram a Agroindústria de Melados Hirschen, a primeira do gênero no Rio Grande do Sul. O nome sofreu uma variação por questões de registro de marca, com o acréscimo do ‘en’ no final para garantir exclusividade. Nesses 25 anos, o casal ampliou três vezes a sua capacidade de produção, investiu em maquinários e tecnologias para agilizar e qualificar os processos.
Nessa trajetória, o filho Teri Luis e sua esposa Aline também passaram a fazer parte da agroindústria. O outro filho, Telmo, também se dedica a atividade semelhante, mas em outro empreendimento. “Começamos aos poucos e fomos crescendo”, diz orgulhoso o patriarca.
Futuro
Quando olham para a trajetória de 25 anos diante da agroindústria, os patriarcas não escondem a emoção por ter construído um empreendimento que é conhecido por seus diferenciais. Eles mostram a propriedade, os pavilhões que são destinados para a produção e os cuidados que adotam para manter a pureza. Tudo é feito em uma área coberta e fechada para evitar a entrada de animais ou insetos.
Em poucos dias deve chegar um novo triturador para cana, a fim de agilizar o processo. A preocupação com o meio ambiente também existe, tanto que a palha resultante da moagem acaba voltando para a lavoura em forma de adubo. Há ainda os batedores elétricos superpotentes que ajudam a dar a textura ideal para o melado e o triturador do açúcar mascavo.
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“Tudo isso para seguir em frente e cada vez melhor”, afirma dona Lisane. E Teri e a Aline confirmam. Casados há cinco anos, eles sabem que, por mais desafiadora que possa ser a vida no meio rural, ainda há oportunidades que eles dificilmente teriam caso tivessem optado por viver na cidade.
Tudo começa na lavoura
Desde que lançaram sua agroindústria, os Hirsch sabiam que era necessário manter um padrão de qualidade naquilo que iriam entregar aos clientes. Além dos equipamentos, a receita da família tem um diferencial: a matéria-prima utilizada. Para isso, quem entra em ação é Teri. Ele é o responsável pelo cultivo dos cerca de 6 hectares ocupados com a cana-de-açúcar. São duas variedades, uma destinada ao melado e outra à produção de açúcar mascavo. “O nosso diferencial está na cana. Temos que saber cuidar da plantação e isso inclui o solo, posição solar e até o modo de cultivo. A forma de fazer é parecida com as dos demais, mas a matéria-prima tem que ser de qualidade”, ensina Teri, que também possui uma área de eucaliptos para assegurar a lenha que alimenta as caldeiras.
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O resultado da dedicação à lavoura de cana é conhecido em mais de 70 pontos de venda instalados em Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Vale do Sol e Venâncio Aires. Disponível em potes com diferentes tamanhos, o melado de cor clara e textura suave tem grande aceitação por parte dos clientes. São em média 1,7 mil quilos da delícia produzidos por mês. O período mais intenso é de abril a setembro. “Se tivesse produção, poderia até ampliar”, ressalta Teri. “Mas sabemos que os clientes estão satisfeitos”, complementa o pai.
A experiência da família, inclusive, costuma ser compartilhada. Segundo Ildo, pelo menos seis vizinhos aprenderam com ele a dominar as técnicas de preparo de melado e instalaram suas agroindústrias na mesma região. “Aqui um ajuda o outro. Estamos criando a ‘capital do melado’”, afirma otimista.
Expediente
Edição: Dejair Machado ([email protected])
Textos: Dejair Machado, Marcio Souza, Marisa Lorenzoni e Romar Beling
Diagramação: Rodrigo Sperb
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