A Itália viveu neste sábado, 21 o dia mais catastrófico das últimas duas semanas: 793 mortos em 24 horas, elevando o total de vítimas da pandemia para 4.825 – o país já ultrapassou a China em número de óbitos. “Estamos em guerra”, atesta o governo da Itália. Em Roma, a polícia usa alto-falantes para que as pessoas não saiam de casa. Mas a mensagem parece não ter sido bem compreendida.
Em uma semana, 70 mil pessoas foram denunciadas e processadas por violar a proibição de movimentação, bem mais do que as 53 mil infectadas com coronavírus. Aos poucos, os italianos vão descobrindo que não podem conter a pandemia na canetada.
No dia 9, o primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte, assinou um decreto para encerrar quase todas as atividades comerciais e proibir deslocamentos não essenciais da população. Mas o texto deu margem a interpretações, permitindo caminhadas e corridas individuais, assim como passeios com o cachorrinho. Os italianos aproveitaram as brechas e continuaram nas ruas. Muitos foram punidos com multas ou até detenção. A polícia tentou. Fez mais de 1,5 milhão de controles em todo o país, mas fracassou em conter as escapadinhas da população.
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O governador Attilio Fontana, da região da Lombardia, uma das mais afetadas, pediu a intervenção do Exército para manter as pessoas em casa e nesse sábado emitiu um decreto fechando o comércio, os escritórios e os canteiros de obra a partir deste domingo e proibindo as atividades esportivas aos ar livre. “É hora da firmeza”, disse. “Meias medidas, como vimos, não servem para conter a emergência. É uma guerra.”
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Na quinta-feira, o vice-presidente da Cruz Vermelha da China, Sun Shuopeng, que está na Itália, se disse chocado com a quantidade de pessoas nas ruas, circulando de transporte público e poucas usando máscaras. “Estivemos em Pádua e Milão. A política de confinamento não está sendo bem aplicada. O transporte público continua funcionando, as pessoas passeiam, há festas e jantares nos hotéis”, disse Shuopeng.
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Pressionado, o ministro da Saúde, Roberto Speranza, assinou no dia seguinte mais um decreto para tentar conter o coronavírus. Ele fechou parques e outros espaços públicos, mas deixou de fora atividades físicas próximas de casa, desde que respeitando a distância de um metro entre as pessoas.
Insuficiente, segundo Maurizio Casasco, diretor da Federação Europeia de Médicos Esportivos, em entrevista ao jornal Corriere della Sera. “A corrida é um risco. Mesmo quando feita individualmente”, disse. “É preciso parar tudo.”
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Enquanto isso, prefeitos e governadores seguem contando cadáveres sem saber onde enterrá-los, pois os cemitérios estão fechados e os necrotérios, superlotados. O Exército já circula oficialmente por ruas da Campânia e da Sicília. Na quarta-feira, veículos militares foram usados para levar cerca de 60 caixões de vítimas do coronavírus, que morreram no hospital de Bergamo, para crematórios de outras 11 cidades.
O governo italiano ainda estuda outras medidas restritivas, como o monitoramento dos movimentos dos cidadãos por meio de telefones celulares. Por iniciativa das empresas telefônicas Telecom Italia, Vodafone e WindTre, a Lombardia já vem usando os dados para ver quantas pessoas estão cumprindo a quarentena. Fabrizio Sala, vice-governador da região, garante que o movimento é 60% menor do que antes da covid-19 – mesmo assim, segundo ele, muita gente ainda está na rua.
Mas a ideia de monitorar celulares, que foi aplicada na China, na Coreia do Sul e em Israel, ainda encontra resistência por parte de muitas autoridades locais. Além de violar a privacidade individual, os críticos argumentam que, se os italianos souberem que seus telefones estão sendo rastreados, deixarão os aparelhos em casa.
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Existe um choque claro entre o que prefeitos e governadores querem e aquilo que o governo italiano está disposto a fazer, o que mostra a dificuldade de se conter uma pandemia em uma democracia como a italiana. Na sexta-feira, dez dias após o primeiro decreto de Conte, o número de casos de coronavírus continuava subindo cerca de 15% diariamente, sobrecarregando hospitais e necrotérios.
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Para Conte, as restrições funcionam. Os epidemiologistas concordam, mas em parte. Segundo eles, o erro da Itália foi não ter confinado a população semanas antes, quando dava tempo. “A decisão tinha de ter sido tomada no começo”, disse Giorgio Palù, virologista da Universidade de Padova. Quando o premiê assinou o primeiro decreto, segundo ele, a bomba-relógio já havia sido acionada.
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Na semana passada, o conselho de ministros do governo italiano aprovou o decreto “Cura Itália”. Feito para salvar a economia e tirar os italianos da beira da falência, o texto destina 25 bilhões de euros (R$ 136 bilhões) para enfrentar a crise provocada pelo coronavírus. Cerca de 3,5 bilhões de euros vão para o sistema de saúde e 10 bilhões de euros para o mercado de trabalho. O pacote é consistente e lança medidas para impedir demissões e conceder benefícios para as empresas enfrentarem a crise. Prevê até mesmo a cobertura de todos os trabalhadores informais e sazonais com um cheque de 600 euros (R$ 3.270) em março. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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