Se dados corporativos são o petróleo da era digital, como se tornou corriqueiro dizer, a preocupação com a proteção de ativos é, atualmente, uma prioridade de segurança em muitas empresas. A escalada dos ataques cibernéticos revelou uma necessidade que, segundo uma das maiores autoridades na área no Brasil, não envolve novas legislações, mas sim uma transformação cultural nas organizações.
Ex-chefe da Polícia Civil no Rio Grande do Sul, Emerson Wendt, que atuou no Vale do Rio Pardo na década de 2000 e é autor de diversos livros sobre segurança digital, participou da reunião-almoço Tá na Hora, da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz, nessa terça-feira, 5. Segundo ele, a disparada nas ocorrências nos últimos anos, em especial desde a pandemia, indica uma migração do crime das ruas para o ambiente digital. Isso se explica pelo fato de os criminosos estarem expostos a menos riscos e conseguirem alcançar um número maior de vítimas e obter vantagens maiores.
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Entre os casos mais comuns, que atingem empresas do mundo inteiro, estão o de sequestro de dados por meio de criptografias: o criminoso indisponibiliza arquivos de uma pessoa ou empresa e cobra resgate para restabelecer o acesso a eles. Na Alemanha, por exemplo, um hospital teve o sistema atacado, o que causou a morte de um paciente que estava internado. E as vítimas não são apenas as organizações de grande porte: segundo um relatório da Kaspersky, nos quatro primeiros meses de 2022 houve aumento de 41% em golpes contra pequenas e médias empresas brasileiras.
Diferentemente do que preconiza o senso comum, Wendt rejeita a ideia de que a internet é “uma terra sem lei”. Pelo contrário, garante que o Brasil está bem servido de normas. “O que precisamos é mudar a cultura de segurança digital, desde o ponto de vista pessoal até o mundo corporativo, onde os criminosos têm ganhos maiores. Se a empresa não proteger os seus ativos, ela estará fadada a ter prejuízos.”
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O maior prejuízo, conforme ele, está na confiabilidade de clientes e fornecedores. Por isso a importância de, ao menos, adotar procedimentos de culturalização de segurança da informação – ou seja, os usuários com acesso aos ativos da empresa terem consciência do que podem ou não fazer. Se não é possível blindar-se totalmente contra qualquer ataque, é essencial dispor de estratégias para mitigar os danos. “Essas regras precisam estar definidas, inclusive porque as empresas têm responsabilidade civil em relação a isso. É importante ter ao menos o básico”, disse.
Estruturar polícias para repressão é desafio
Para além dos cuidados no interior das corporações, o País ainda precisa avançar em estruturação das polícias para combater as ameaças que envolvem o ambiente digital. Atualmente, quatro estados brasileiros ainda não possuem delegacias ou núcleos de inteligência cibernética instalados. “O Brasil precisa se reinventar nesse processo. E precisamos de uma coordenação nacional”, analisou Emerson Wendt.
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Atualmente, lembra ele, a maioria dos crimes passa de alguma forma pela internet, inclusive homicídios ou assaltos a bancos, por exemplo. Tanto que, ao invés de investigação de crime cibernético, hoje se fala mais em investigação cibernética. “A maior parte dos crimes contra a honra ocorre na internet. Ameaças presenciais hoje são exceção, assim como discursos de ódio. Na maioria dos crimes, algum tipo de informação você vai coletar na rede mundial de computadores, por isso é preciso treinar os policiais”, disse.
Outro ponto fundamental é a cooperação internacional, inclusive porque muitos dos grandes ataques são oriundos de outros países. Segundo Wendt, hoje já existem mecanismos que favorecem a troca de informações entre países. A Meta, por exemplo, que controla o Facebook, Instagram e WhatsApp, monitora postagens que indicam risco de pessoas cometerem suicídios e, quando identifica uma situação, comunica imediatamente as autoridades policiais locais. Em quase a totalidade dos casos, os suicídios são prevenidos.
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Mas há necessidade de evolução. Hoje, se uma autoridade policial brasileira necessita do auxílio de outro país, enfrenta um procedimento complexo e demorado, que envolve tradução juramentada e análise prévia do Ministério da Justiça e do Ministério Público do país destinatário. A resposta pode levar até dez meses. Em 2021, foi aprovada a adesão do Brasil à Convenção de Budapeste, cujo objetivo é facilitar a troca de informações para o combate aos crimes na internet.
Trabalho remoto gera mais riscos à segurança?
Conforme o gerente de operação de TI da Philip Morris Brasil, Fabrício de Oliveira, que também palestrou no Tá na Hora, a popularização do trabalho remoto e híbrido no decorrer da pandemia demanda ainda mais precauções por parte das empresas. Segundo ele, porém, é plenamente possível gerar um ambiente de trabalho seguro, desde que os investimentos necessários – em autenticação, por exemplo – sejam feitos. “Não vejo como um grande risco, se você tem procedimentos e processos implementados. Não significa que vai estar 100% impenetrável, significa que vai ter formas de combater e mitigar”, observou.
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Isso vale, inclusive, para situações, que também são cada vez mais comuns, de pessoas que trabalham de forma remota para empresas sediadas em outros países. Empresas de tecnologia, aliás, estão entre as que mais demandam trabalhadores de fora, já que há carência de profissionais no mercado. “Existem inúmeras formas de criptografar dados. Políticas e normas de segurança são importantes de estarem mapeadas e o usuário deve saber o que pode fazer ou não”, explicou.
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