“Ele tá morrendo! Vai morrer! Faz alguma coisa, bombeiro!” Provavelmente, os gritos da soldado Geniane Nascente de Oliveira devem estar na mente da maioria dos participantes dos exercícios simulados promovidos pelo 6º Batalhão de Bombeiro Militar em Santa Cruz do Sul, na tarde de quarta-feira. A pressão na oficina de primeiros socorros, da qual Geniane foi a instrutora, ao lado do soldado Douglas Maciel Silveira, foi um lampejo do que os profissionais enfrentam todos os dias.
Em uma sala com fumaça, luzes piscantes, barulho e calor, os voluntários precisavam “salvar” vítimas em meio a gritos e empurrões, a maioria ocasionados por Geniane, que se passava por um familiar da vítima que havia se acidentado. Ao mesmo tempo, ela e Silveira orientavam os participantes. É bem verdade que, antes de abrir a porta da “cena de ocorrência”, a profissional já havia feito o alerta. “Isso é como uma situação real, com familiares falando alto no ouvido de vocês pra salvar a pessoa, muitas vezes com curiosos em cima, te empurrando.”
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Ela foi generosa quando afirmou que seria como uma ocorrência normal. Apesar do sufoco na cena aterrorizante criada naquela sala, como editor de segurança pública da Gazeta Grupo de Comunicações, eu sabia que aquilo não passava de uma fração do que a realidade mostra nas ruas de Santa Cruz do Sul e região. Já tive a oportunidade de acompanhar dezenas de incêndios terríveis e graves acidentes em que o psicológico e o físico dos profissionais foram testados.
Por tantas vezes vê-los em ação, já nutria uma admiração pelo ofício do bombeiro. Mas, com a inédita experiência de viver um dia como eles, muitos outros fatores fizeram aumentar ainda mais o apreço por esse trabalho, a começar pela farda. Não fui o único que passou um certo trabalho para vestir a roupa e capacete. O peso das botas chama a atenção. O calçado, revestido com um grosso material de borracha, dificulta a caminhada e corrida.
A calça e a jaqueta também não são confortáveis. Ao final, descobrimos que não estávamos nem com metade da veste normalmente usada pelos bombeiros. O item mais pesado, o cilindro de oxigênio para entrar em locais em chamas, foi deixado de lado. Somente no aquecimento, com uma corrida nas proximidades do batalhão, junto ao Parque da Oktoberfest, o corpo sentiu o peso da farda.
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E, para complicar, a oficina inicial foi a da Geniane e do Douglas: pressão total, do início ao fim, com atendimento pré-hospitalar, colocar vítima em maca, carregar para fora do local do acidente. O suor, ao término, era inacreditável. “Um minuto pra água”, disse ao final da atividade o segundo-sargento Aguiar Luis da Silva Araújo. Os 15 participantes, de diversos segmentos da sociedade, foram divididos em três grupos, para cada um viver a experiência de cada oficina.
Após serem instruídos a respeito dos primeiros socorros, os integrantes do grupo 2, no qual eu me incluía, foram para o pátio aprender sobre o uso das ferramentas utilizadas em acidentes veiculares. O segundo-sargento Éder Porto Ferreira e o soldado Fabiano Kroth dos Santos apresentaram o tão usado desencarcerador. É um equipamento conhecido, muito empregado em resgates de vítimas durante graves acidentes, para expandir ou abrir compartimentos fechados mediante corte.
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Desta vez, além de ver o famoso item, tive a oportunidade de usá-lo para abrir a lataria de um veículo. Outras ferramentas menos conhecidas também foram explicadas pelos bombeiros, como uma serra corta-vidros, sistema de estabilização veicular V-Strut e os calços, estes dois últimos usados para manter um automóvel parado durante o salvamento de pessoas.
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Alma lavada
No fim, o segundo-sargento Aguiar e o primeiro-sargento Flávio André Muller dos Santos realizaram uma oficina de combate a incêndio. Nesta, os participantes deveriam simular situações nas quais o bombeiro precisa superar obstáculos até iniciar o combate ao fogo. A pressão, minimizada na primeira etapa, voltou.
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Após correr alguns metros, o bombeiro por um dia deveria pegar e carregar de costas um boneco com cerca de 70 quilos até a linha de chegada. Depois, correr com uma mangueira nas costas até uma escada, subir, largar uma corda no chão, voltar, passar por cones, jogar-se no chão, rastejar por baixo de fitas adesivas e ainda correr até um outro ponto do batalhão. Provavelmente, nesse ponto em questão da oficina, os participantes tenham realizado a ação mais emblemática dos bombeiros, que é apagar incêndio.
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Orientado pelo soldado Marcos Vinicius Bartz, o integrante do grupo deveria pegar o extintor de forma adequada, acioná-lo e depois apagar o fogo dentro de um recipiente. Após todas as oficinas, os grupos realizaram o simulado de uma ocorrência com todas as ações ao mesmo tempo. Nas viaturas, os participantes deslocaram-se por vias de Santa Cruz, voltaram ao batalhão, realizaram o combate a um incêndio, resgate veicular utilizando as ferramentas e atendimento pré-hospitalar.
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A alma foi literalmente lavada quando, após todos os exercícios, os participantes tiveram que fazer séries de flexões sob o tradicional banho de mangueira. Os cumprimentos e o lanche ao final selaram o fim da atividade. A sensação de viver o que os bombeiros passam todos os dias, certamente, é um marco na minha história como profissional do jornalismo. Resta-nos aplaudir e reconhecer esses profissionais que arriscam suas vidas, diante de muitas dificuldades, para salvar e atender as pessoas.
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A data
O Dia do Bombeiro foi instituído em 2 de julho de 1856, quando Dom Pedro II assinou o decreto para criação do Corpo de Bombeiros no Brasil. Embora não seja difícil imaginar que na origem as demandas, bem como as condições técnicas e operacionais, fossem bem diferentes do que existe hoje, o fato é que essa atividade se tornou essencial.
Santa Cruz
O 6º Batalhão de Bombeiro Militar (6º BBM) se instalou em Santa Cruz do Sul em 13 de março de 1965. No início, o efetivo era composto por 24 integrantes e uma viatura de autobomba-tanque. Na década de 1970, passou a pertencer ao grupamento de Novo Hamburgo. Somente em 1998, com a reforma na estrutura da Brigada Militar, o batalhão tornou-se o 6º Comando Regional de Bombeiros. Em 2016, com a lei 14.920, recebeu a designação atual, adequando-se à nova organização do Corpo de Bombeiros.
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