Por estes dias, um contemporâneo e conterrâneo do interior lembrou de encontro nos tempos de adolescência e do meu entusiasmo pelo estudo quanto ele não tinha a mesma disposição e mesmo oportunidade.
Tive a sorte – e a coragem – de encarar um dos poucos meios, naquela época na área rural, de ir adiante no estudo, que era o de ingressar, aos 11 anos e com a consciência de ficar um longo período afastado da família, em seminário/internato de ordem religiosa, que oferecia excelentes condições de aprendizado, com uma formação integral e qualificada. Quem se dedicasse e utilizasse bem essa oportunidade, por certo, mesmo não seguindo aquela vocação, usufruiria de um respeitável diferencial no competitivo mundo adulto com que iria se defrontar.
Via-se desde então, e não se vê hoje muitas melhorias, que a educação de modo geral no País não teve, e não tem, a atenção que merecia e merece. As estatísticas revelam o grave atraso com que ainda nos deparamos nesta questão basilar, onde boa parte dos estudantes domina mínimos conhecimentos, em disciplinas essenciais.
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Sabe-se que se trata de uma dívida histórica no País, como analisa bem a doutora em economia pela Universidade de São Paulo (USP) Zeina Latif, em seu recente livro Os nós do Brasil – Nossas heranças, nossas escolhas. Após recordar, entre outros aspectos, como a escravidão, que em 1800 não mais de 2% da população era alfabetizada (nos Estados Unidos, eram 70%), aponta “a repetida negligência com a educação de massas” como o nosso “maior erro histórico, pois de todos os fatores que dificultam o crescimento sustentado de longo prazo, esse é o maior deles”.
Na raiz da fragilidade da economia brasileira, do seu baixo crescimento, segundo ela, está certamente “o cuidado tardio e insuficiente” com esse tema, citando que “a universalização do ensino primário ocorreu apenas na década de 1990 e muitos jovens ainda estão fora da escola”. E acrescenta que “ainda hoje se insiste no erro: a educação básica universal, incluindo o ensino médio, nem sequer foi atingida e padece de baixa qualidade”.
Sabemos que a pandemia agravou ainda mais essa realidade e temos sérios motivos de preocupação. Há também tentativas de melhorias em muitos níveis, mas ainda é muito longo o caminho a percorrer. A autora da publicação inclusive entende que a polêmica reforma do ensino médio estaria na direção correta, mesmo que faltasse melhor orientação. E nessa linha poderiam ser acrescidas iniciativas de serviços nacionais da indústria e do comércio que se mostram atraentes aos jovens, como é possível comprovar em experiência familiar.
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Ainda nas palavras da autora, é essencial o reconhecimento de que os problemas de gestão na educação são o principal entrave para maior acumulação de capital humano e redução da desigualdade tão gritante no País. Aliás, eis aí um ponto nevrálgico: só podemos almejar menos desigualdade em nosso meio se, desde o início da existência, as pessoas puderem receber as mesmas oportunidades educacionais.
Precisamos focar este ponto. Estamos diante de mais uma eleição nacional e estadual, que se apresenta como um momento adequado para avaliar quem mais pode oferecer, por sua história, uma sólida esperança de mudar esse quadro, corrigir essa prova de erros e acender uma luz duradoura pelas salas de aula e pelos corredores da vida.
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